No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma cota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, igualdade e Religião.
José
Lourenço Gomes da Silva
Baixo Dantas
Em Juazeiro, conquistou a confiança do sacerdote e foi encarregado de liderar uma missão, para onde Padre
Cícero enviaria os flagelados
da região. José Lourenço então arrendou terras no sítio
Baixa Dantas para iniciar a produção.
A comunidade se desenvolveu rapidamente, o que despertou a fúria
dos fazendeiros da
região. Com o intuito de pôr a comunidade em descrédito, espalhou-se um boato de que os membros idolatravam o boi Mansinho como a um deus. A Igreja
Católica, que já estava irritada com
os supostos fenômenos sobrenaturais ocorridos em Juazeiro
do Norte, pressionou Padre
Cícero para que tomasse uma
decisão. Para evitar maiores transtornos, Floro
Bartolomeu ordenou que
sacrificassem o boi e prendessem José Lourenço. O beato foi solto algumas
semanas depois.
Caldeirão
Depois da confusão, José Lourenço decidiu transferir a comunidade para
o Caldeirão, um local
mais afastado. Entretanto as perseguições continuaram e em 1937, a comunidade foi invadida e arrasada por forças estaduais e federais,
com apoio do setor religioso e latifundiários locais. Caldeirão era uma
comunidade auto-sustentável que dava abrigo às famílias camponesas que fugiam
da exploração imposta pelos latifundiários, podendo ser comparada com Canudos.
Em 2008, a ONG cearense SOS Direitos Humanos ajuizou uma Ação Civil Pública na
Justiça Federal do Ceará requerendo que a União Federal e o Estado do Ceará
informem a localização da cova comum onde o Exército e a Polícia Militar do
Ceará enterraram as vítimas do Sítio Caldeirão que massacraram em 1937.
A ação foi extinta sem julgamento de mérito pelo juiz da 16ª Vara
Federal de Juazeiro do Norte/CE, a pedido do MPF que em seu parecer disse que:
·
a) o massacre ocorreu há mais
de 70 anos e estava prescrito,
·
b) nao há como encontrar os
restos mortais pelo tempo que o crime ocorreu.
A SOS DIREITOS HUMANOS inconformada com a decisão do juiz apelou ao TRF
da 5ª região em Recife/PE aduzindo que:
a) o crime de desaparecimento de pessoas é imprescritível,
Caldeirão
de Santa Cruz do Deserto
Sítio Baixa Dantas
José Lourenço tornou-se líder daquele povoado, e se dedicou à religião, à caridade e a
servir ao próximo. Mesmo analfabeto, era ele quem dividia as tarefas e ensinava agricultura e medicina
popular. Para o sítio Baixa Dantas
eram enviados, por Padre
Cícero, assassinos, ladrões e
miseráveis, enfim, pessoas que precisavam de ajuda para trabalhar e obter
sua fé. Após o surgimento da Sedição de Juazeiro, da qual José Lourenço não participou, suas terras foram invadidas por jagunços. Com o fim da revolta, José Lourenço e seus seguidores reconstruíram o povoado.
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto
Em 1926, o sítio Baixa Dantas foi vendido e o novo
proprietário exigiu que os membros da comunidade saíssem das terras. Com
isso, Padre Cícero resolveu alojar o beato e os romeiros em uma grande fazenda denominada Caldeirão
dos Jesuítas, situada no Crato, onde recomeçaram o trabalho comunitário, criando uma sociedade igualitária que tinha como base a religião. Toda a produção do
Caldeirão era dividida igualmente, o excedente era vendido e, com o lucro,
investia-se em remédios e querosene.
No Caldeirão cada família tinha sua casa e órfãos eram afilhados do beato. Na fazenda também havia um cemitério e uma igreja, construídos pelos próprios
membros. A comunidade chegou a ter mais de mil habitantes. Com a grande seca
de 1932, esse número aumentou, pois lá chegaram muitos flagelados. Após a morte de Padre
Cícero, muitos nordestinos passaram
a considerar obeato José Lourenço como seu sucessor.
Devido a muitos grupos de pessoas começarem a ir para o Caldeirão e
deixarem seus trabalhos árduos, pois viam aquela sociedade como um paraíso, os poderosos, a classe dominante, começaram a temer aquilo que
consideravam ser uma má influência.
Balas caindo do céu
Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, a fazenda foi invadida, destruída, e os sertanejos divididos, ressurgindo novamente pela mata em uma nova comunidade, a qual em 11 de maio foi invadida novamente, mas dessa vez por terra e pelo ar, quando aconteceu um grande massacre, com o número oficial de 400 mortos. Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Polícia Militar do Estado do Ceará. Acontecera o primeiro ataque aéreo da história do Brasil. Os familiares e descendentes dos mortos nunca souberam onde encontra-se os corpos, pois o Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala comum na qual os seguidores do Beato foram enterrados. Presume-se que a vala coletiva encontra-se no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri).
Da época da Irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, exitem
ainda a capela branca, que tem como padroeiro Santo Inácio de Loyola, ao lado da ermida, duas casas, um muro de laje de um velho cemitério,
um cruzeiro e no
alto as ruínas da residência do beato José Lourenço.
Atualmente, 47 famílias revivem o sonho coletivo de produção idealizado
por José Lourenço, num sítio denominado Assentamento 10 de Abril, a
37 km do centro do Crato. No local encontram-se 47 casas, sendo que 44 de alvenaria e uma escola, porém sem ostentar a
grandeza atingida pelo então Caldeirão do beato José Lourenço .
a) torne público o local da
vala comum,
c) identifique as vítimas via
exames de DNA,
d) enterre os restos mortais
de forma digna,
e) idenize no valor de R$ 500
mil, todos os familiares das vítimas e os remanescentes
f) inclua na história oficial,
à título pedagógico, a história do massacre / chacina / genocídio do Sítio da Santa Cruz do Deserto, ou Sítio Caldeirão.
A pedido do Ministério Público Federal da cidade de Juazeiro do Norte, a
ação foi extinta sem julgamento de mérito pelo juiz da 16ª Vara Federal de Juazeiro do Norte. A ONG SOS DIREITOS HUMANOS,
inconformada com a decisão, recorreu ao egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª
Região em Recife Pernambuco, requerendo
que a ação seja julgada o mérito porque o crime cometido contra a comunidade do
Sítio Caldeirão é de lesa humanidade, e portanto, imprescritível.
A ONG "SOS DIREITOS HUMANOS" no ano de 2009, denunciou o Brasil à OEA - Organização dos Estados Americanos, por crime de desaparecimento
forçado de pessoas e para que seja obrigada a informar a localização da vala
comum com as 1000 vítimas do Sítio Caldeirão. A entidade considera o sítio
Caldeirão como o Araguaia do
Ceará, uma vez que os militares mataram 1000 pessoas e após, enterraram em vala
comum em lugar desconhecido da mata dos cavalos, em cima da Chapada do Araripe. A ONG está pedindo auxílio à entidades internacionais para que a vala
comum seja encontrada, bem como, a ajuda de geólogos, geofísicos e arqueólogos para identificar a localização da vala comum.
BIBLIOGRÁFICA
UNESP - Assentamento 10 de Abril em Crato: o sonho de um novo Caldeirão.
Página visitada em 30 de
Novembro de 2010.
FARIAS, Aírton de. História
do Ceará: Dos Índios à Geração Cambeba. Fortaleza; Tropical,1997, ISBN
85-86332-03-8
O Povo - Romaria lembra história do Caldeirão. O POVO 22.09.2007.
Aridesa - Massacre de fiéis do Cldeirão faz 70 anos. 30.11.10
Novae - O Caldeirão que o diabo abominou. 30.11.10
Overmundo - O Caldeirão da Santa Cruz do Esquecimento. 30.11.10
Moreira - A tragédia da comunidade camponesa igualitária do sítio
caldeirão. 30.11.10
Fundação Perseu Abramo - O beato Zé Lourenço e o
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto