por Nelson Greco
CONTEXTO
HISTÓRICO
Durante
a primeira metade do Século XX a Europa passou por um momento de turbulência,
com a Revolução Russa, a expansão do socialismo e a crise do capitalismo
liberal, que tiveram como consequência a ascensão do nazifascismo, na Polônia,
Itália, Portugal, Espanha.
A
Maçonaria estava neste contexto muitas vezes envolvida em uma contradição, de
um lado a oposição ao totalitarismo fascista, de outro o combate ao socialismo.
A
MAÇONARIA E O FASCISMO NA ITÁLIA
“A
natureza essencialmente nacionalista do fascismo não era compatível com o
espírito universal da Maçonaria. Mussolini dirigiu a revolução fascista visando
a construção de um “novo homem”, forte, viril e marcial, livre dos vícios do
velho liberalismo cosmopolita, materialista, pacifista e humanitário.” MENEZES,
2014.
A
Itália sempre teve forte ligação com a Igreja Católica, ela sempre foi uma
grande proprietária de terras, governante de estados que compunham o país. Hoje
unificada, foi no passado uma série de reinos e seu processo de nacionalização,
foi liderado em diversos momentos por vários grupos e ideologias, a Igreja
pleiteou a liderança do país, os maçons também tentaram pelo Reino das Duas
Sicílias com os Carbonários. Esta disputa acirrou ainda mais a oposição entre
Igreja Católica e Maçonaria.
A expansão
do nazifascismo na Europa, também
alcançou o país, sobre o comando de um ex socialista, Benito Mussolini,
inicialmente muitos maçons apoiaram a subida ao poder do Dulce, opondo-se ao
comunismo, abriram mão dos ideais de liberdade da Revolução Francesa, para
apoiar totalitarismo. Maçons participavam do alto escalão do partido fascista e
Mussolini aceitava livremente o ingresso deles tanto no partido, como no
movimento dos Camisas Negras, entretanto com a Marcha Sobre Roma ele teve que escolher entre a maçonaria e a Igreja
Católica. Em 12 de Janeiro de 1925 o
ministro da Justiça apresentou um projeto de lei, que aprovado estabeleceu o
controle das sociedades secretas e tinha por objetivo a extinção da maçonaria
na Itália.
A
situação era complexa, quando Mussolini surgiu como líder socialista, sofria o
combate da maçonaria. Quando o Dulce torna-se fascista haverá uma aproximação
com alguns maçons, todavia ele teve que escolher entre maçonaria e Igreja
Católica. O extremo nacionalismo do
movimento fascista será usado para opor-se à maçonaria acusada de aproximar-se
de ideias identificados como francesas.
A
antiga união entre maçonaria e fascismo esteve longe de ser unanime, os
Carbonários foi uma organização revolucionária, patriótica, liberal e anticlerical,
que atuou na Espanha, Portugal, França e Itália, tinham forte influência
maçônica, eram divididos em mestres e aprendizes. Lideraram o movimento de
unificação da Itália através do Reino das Duas Sicílias. A luta carbonária
contra a Igreja e pela unificação foi tão forte que levou o papa Pio IX a
editar 600 documentos contra a maçonaria. Os fascistas, usaram o elemento
nacionalista para o expurgo da maçonaria do governo Italiano.
A
ligação com os idéias da revolução francesa foram denunciados como antipatrióticos.
Os maçons foram acusados de sabotadores
do Eixo (Roma-Berlim-Tókio) e favoráveis aos aliados, Inglaterra e França.
Completando
o caos que povoava a maçonaria na Itália os dois grupos maçônico principais que
atuavam não bastando a perseguição do regime fascista ainda tiveram a
“excelente” ideia de entrarem em disputa entre si facilitando ainda mais o
trabalho de seus opositores, a contendo se deu entre A Grande Loja Simbólica e
O Supremo Conselho do Rito Escoces
A
MAÇONARIA E A DITADURA DE FRANCO
A
Espanha foi um país que surgiu da luta de cristãos contra os mouros, islâmicos
que ocupavam a Península Ibérica, este caráter de Guerra Santa estabelecido na
Guerra da Reconquista, foi renovado durante o período da Reforma Protestante,
portador de um catolicismo medieval, propulsora da Santa Inquisição, o
catolicismo espanhol sempre teve um caráter absolutista, medieval e
intolerante.
Os
grupos católicos aliavam-se a elite agrária e ao absolutismo monárquico, se
opunham aos ideais da Revolução Francesa, a educação laica, e à maçonaria, a
experiência política da Espanha no século XX é marcado pela derrubada da
monarquia e pela instituição de um regime republicano ligado a grupos
anarquistas, aliás era comum a participação de anarquistas nas lojas maçônicas.
Se na Itália o socialismo teve em comum com a Igreja Católica a oposição e o
isolamento da maçonaria, na Espanha os grupos de oposição a monarquia, os
socialistas e anarquistas se aproximaram ou se misturaram com a maçonaria
contra a monarquia e o catolicismo.
Estabelecida
a república espanhola, vários ideais como o liberalismo, o ensino laico e
universal, a pluralidade política e religiosa, tiveram clara influência de
maçons que participavam do governo e dos movimentos sociais.
No
contexto do acirramento político da Europa e a ascensão de ditaduras, a Espanha
sofreu um intensa e sangrenta guerra civil, onde católicos e fascistas com o
apoio de Adolf Hitler e sobre a liderança do general Franco enfrentaram a
república democrática e plural.
A
guerra civil espanhola, serviu de laboratório para as armas nazistas, e ocorreu
o intenso extermínio da população por exemplo na cidade de Guernica, fato
imortalizado na obra de Pablo Picasso. Os maçons foram perseguidos e se na
Itália o discurso de antipatização ficou por conta do nacionalismo na ditadura
de Franco o estímulo ao ódio a maçonaria e seus membros se deu através de
construção de uma imagem de união indissociável entre maçonaria e judeus, assim
foi posta como um elemento da cultura semítica e que membros da maçonaria eram
principalmente judeus.
Os
maçons eram para o franquismo como os judeus para Hitler ou seja a escória que
deveria ser estirpada para o bem da pátria. E o tratamento foi de pô-los em
ilegalidade e de leva-los a campos de concentração. Também foi identificada
como anticatolicismo .
A
MAÇONARIA E O SALAZARISMO
Pós
primeira Guerra Mundial Portugal passa por uma crise econômica, país
essencialmente agrário, conservador e católico, a república se postou num viés
liberal e anti clerical, o governo liberal de Carmona convocou como ministro da
economia Antônio de Oliveira Salazar, que com o apoio da Igreja, invocando o
nacionalismo estabelece uma ditadura aos moldes italianos. Esse governo ficou
conhecido como Salazarismo.
Salazar,
advindo de uma família tradicional de agricultores, católico seminarista, não se torna padre,
forma-se em Direito, alguns autores
indicam-lhe como iniciado à ordem maçônica. Defensor do catolicismo, do
nacionalismo, opõem-se a República Liberal.
As
medidas econômicas de Salazar, combatem a crise econômica, com o apoio dos
latifundiários e da Igreja e a perca de apoio das classes médias à república
ele implanta uma ditadura marcada pelo conservadorismo, pelo anti
industrialismo, o combate a comunismo, ao anarcosindicalismo, e a maçonaria.
Alguns
autores afirmam que Salazar foi maçon, contudo quando chega ao poder ele de forma sutil através de um projeto de
lei do Deputado José Cabral, estabelecia
prisão e banimento a quem participasse de organizações secretas. Fernando
Pessoa considerado o maior poeta daquele país sai em defesa da maçonaria, mesmo
não sendo maçon, defendendo seus ideais e se opondo a lei que proibia as
organizações secretas.
Se
Salazar teve um passado de provável proximidade com a maçonaria, a instituição
não se aproximou em sua extrema maioria do fascismo, sempre esteve
majoritariamente na oposição.
“(…) Não
sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. Não
sou, porém, antimaçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma idéia
absolutamente favorável da Ordem Maçônica. A estas duas circunstâncias, que em
certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por
virtude de certos estudos meus, cuja natureza confina com a parte oculta da
Maçonaria – parte que nada tem de político ou social -, fui necessariamente
levado a estudar também esse assunto – assunto muito belo, mas muito difícil,
sobretudo para quem o estuda de fora (…)” (PESSOA, Passim).
MAÇONARIA
E DITADURAS
Os
ideais maçônicos, entre eles o de pluralidade político religiosa, tolerância,
solidariedade, além disto, sua organização paraestatal, independente e secreta
chocam-se com o estabelecimento de governos totalitários, tanto pelos
princípios de controle total do estado da sociedade como pelos seus caráter
exclusivista de não aceitação de discordância ou de qualquer pluralidade. A
ação de homens maçons refletem as contradições da sociedade e na Europa se por
um lado o liberalismo, a tolerância e o pluralismo afastava a maçonaria do
totalitarismo, por outro sua oposição ao totalitarismo de alguns grupos
socialistas ou mesmo a junção entre maçonaria e catolicismo os aproximou do
totalitarismo.
Mais
importante do que saber se a maçonaria apoiou ou se opôs ao fascismo é entender
que seus ideais são incompatíveis com violência e totalitarismo.
Em um
mundo pos bipolaridade e também pós socialismo real, e reconhecendo as manchas
e contradições do passado, fica a necessidade não de condenação ou de
absolvição mas de afirmação de alguns ideais maçônicos que o mundo tanto
necessita até hoje, como democracia, tolerância, pluralidade, combate a
violência e solidariedade.
BIBLIOGRAFIA