Se por um lado o dólar alto gera vantagens a alguns setores exportadores, por outro significa problemas a outros. A maior desvantagem é o repasse do custo da matéria-prima importada aos produtos manufaturados no Brasil. Esse repasse gera a inflação, e para controlá-la, o governo aumenta os juros, que causa a recessão. É exatamente esse cenário encontrado no País atualmente. “Sei de muitos exportadores de São Paulo que estão cancelando os pedidos, pois compraram matéria-prima com o dólar alto e agora não conseguem repassar ao produto final”, diz o despachante aduaneiro Paulo Narcizo Rodrigues, da Caribbean Express. Na opinião do economista Hipólito Martins Filho, o ideal seria que o Brasil não precisasse captar dólares no mercado externo. Nesse caso, os juros não estariam nas alturas. “Mas o governo não tem cacife para isso”, afirma.
Diante da economia brasileira, em que a taxa básica (Selic) está em 26% ao ano, existem três possibilidades para a derrubada dos juros. A primeira é quando o governo não tiver mais necessidade de captar dólar no mercado externo e poder se sustentar por conta própria. A segunda seria a liquidez do próprio mercado, que reduziria naturalmente os juros. A terceira hipótese é o pagamento, ou ao menos o abatimento, da dívida pública brasileira, que hoje gira em torno de R$ 840 bilhões. Um terço do valor da dívida pública é atrelada ao dólar. Quando ele sobe, a dívida acompanha o crescimento. Esse enorme valor da dívida obriga o governo a ir aos bancos vender títulos. E para isso, precisa jogar com juros altos para que as instituições se interessem por seus papéis e não optem pelo dólar.
Caso os investidores e instituições financeiras prefiram o dólar à moeda nacional, existe o risco de faltar o dinheiro norte-americano no mercado. Com a escassez, o valor sobe e a dívida cresce. Por isso, os juros tão altos. “Foi uma brincadeira o que o Copom (Comitê de Política Monetária) fez na quarta-feira, ao reduzir meio ponto da taxa”, critica o economista presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP), Sinésyo Batista da Costa, para quem os juros deveriam ter ficado como estavam. “Isso (meio ponto) não influencia em nada. Esse pretexto de sinalizar alguma coisa não existe. Ninguém vive de sinais.”
Diante da economia brasileira, em que a taxa básica (Selic) está em 26% ao ano, existem três possibilidades para a derrubada dos juros. A primeira é quando o governo não tiver mais necessidade de captar dólar no mercado externo e poder se sustentar por conta própria. A segunda seria a liquidez do próprio mercado, que reduziria naturalmente os juros. A terceira hipótese é o pagamento, ou ao menos o abatimento, da dívida pública brasileira, que hoje gira em torno de R$ 840 bilhões. Um terço do valor da dívida pública é atrelada ao dólar. Quando ele sobe, a dívida acompanha o crescimento. Esse enorme valor da dívida obriga o governo a ir aos bancos vender títulos. E para isso, precisa jogar com juros altos para que as instituições se interessem por seus papéis e não optem pelo dólar.
Caso os investidores e instituições financeiras prefiram o dólar à moeda nacional, existe o risco de faltar o dinheiro norte-americano no mercado. Com a escassez, o valor sobe e a dívida cresce. Por isso, os juros tão altos. “Foi uma brincadeira o que o Copom (Comitê de Política Monetária) fez na quarta-feira, ao reduzir meio ponto da taxa”, critica o economista presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP), Sinésyo Batista da Costa, para quem os juros deveriam ter ficado como estavam. “Isso (meio ponto) não influencia em nada. Esse pretexto de sinalizar alguma coisa não existe. Ninguém vive de sinais.”
Assalariado é quem mais sofre com o câmbio Quem mais sofre com a alta do dólar é quem menos influencia nas decisões econômicas - o cidadão comum. É aquele trabalhador assalariado, que há anos não tem as perdas inflacionárias repostas e que luta para sobreviver. Vários serviços e produtos básicos que fazem parte do seu dia-a-dia são atrelados ao dólar. Entre os principais estão os combustíveis, energia elétrica, telefone, gás de cozinha, remédios, commodities e até o pãozinho, que sofreram - e ainda sofrem - fortes altas com a subida do dólar. O Brasil importa hoje mais de 80% do trigo consumido. Por isso, a cada disparada do dólar, o cidadão tem que arcar com o encarecimento do pão e tudo que é produzido a partir da farinha do produto, como macarrão e bolos. Outro item de consumo essencial para as famílias brasileira são os remédios. Cerca de 90% da matéria-prima para a produção de remédios são importadas e sofrem impacto do dólar. Até mesmo produtos essencialmente brasileiros estão sujeitos à influência da moeda norte-americana, como cana-de-açúcar, café, soja e aço, todos cotados no mercado externo e em dólar. O aumento desses produtos é refletido em toda a cadeia produtiva. Até o pipoqueiro, por exemplo, é influenciado: ao comprar o óleo de soja para estourar o milho, e constata que o produto sofreu aumento e terá de repassá-lo. O consumidor vai pagar mais pelo mesmo saquinho de pipoca. Enquanto isso, os salários de grande parte dos trabalhadores brasileiros continuam quase congelados. O caso mais notório é o dos servidores públicos federais, que há mais de oito anos não foram beneficiados com um reajuste sequer. Revés E ao contrário do que acontece quando o dólar sobe, o mesmo não acontece quando o dólar cai. Todos os setores da cadeia acima citados reajustam seus preços sob a alegação de que são indexados ao dólar, mas, quando a moeda norte-americana cai, os preços ficam como estão. Os empresários se defendem afirmando que durante muitos anos, desde o início do Plano Real, trabalharam com a margem de lucro represada. Assim, quando têm a possibilidade de um lucro maior, recusam-se a reduzi-lo. |
Investimento de risco “Quem comprar dólar vai quebrar a cara”. A afirmação é do presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP) Synésio Batista da Costa. Na opinião do economista, é possível encontrar outros investimentos mais rentáveis e seguros no mercado do que o dólar. Bolsa de Valores e CDB a longo prazo são algumas das opções citadas por Costa. O primeiro dos motivos apontados para não investir em dólar é que a moeda deve continuar a cair ainda mais até agosto, quando vencem os compromisso firmados em dólar pelas grandes empresas e estatais brasileiras. Na previsão do economista, a moeda norte-americana deve fechar o ano em torno dos R$ 3,50. Apesar de ser bem acima do valor atual, que está na casa dos R$ 2,80, ele diz não se tratar de um investimento seguro. “E se acontecer algum fator incontrolável ao mercado e a moeda despencar? É o caso do Iraque. Se não der certo, os petrodólares devem cair muito e quem comprou vai se arrepender”, explica. Mas, ao mesmo tempo que não recomenda o investimento em dólares, o economista diz que a casa dos R$ 3,50 é extremamente útil para o Brasil, pois funciona como uma barreira às importações e incentiva a exportação. “Neste ano, já batemos o recorde de exportação. E todos sabem que, historicamente, o melhor período exportador brasileiro é a partir de agosto. Então, acho que teremos uma agradável surpresa em 2003.” Como o Banco Central (BC) não controla o câmbio brasileiro, qualquer “espirro” faz com que a moeda dispare no mercado. E, segundo o economista, o mesmo não acontece quando o assunto é reduzir o valor do dólar. “Não há fator que garanta a redução.” |