Preparamos uma retrospectiva dos dez fatos que (na nossa opinião) foram mais relevantes para os historiadores e para a área de história no Brasil, em 2013. Acha que algum fato ficou de fora? Compartilhe conosco a sua própria retrospectiva deixando um comentário. Vamos juntos lembrar o que aconteceu de mais importante na área.
1. Comissão Nacional da Verdade: A Comissão Nacional da Verdade e as suas comissões regionais e locais atravessaram momentos de avanços e retrocessos em 2013. Historiadores e membros da própria comissão manifestaram em alguns momentos do ano seus receios sobre o relatório final da mesma, isto é, se este traria ao seu final avanços e novidades em grande escala. Por outro lado, 2013 registrou também registrou avanços neste cenário. A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, por exemplo, tem demonstrado estar preocupada com a presença do debate na esfera pública. Embora tenha sido a última a ser criada no país, ela atua não apenas na pesquisa, mas também no ensino. Ao longo do ano, seus pesquisadores realizaram várias palestras dentro de escolas, procurando construir pontes com alunos e professores. Além disso, símbolo de 2013 no tocante a Comissão da Verdade foram as investigações a respeito da morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida dentro de uma sala do DOI-CODI de São Paulo. Em abril deste ano, a Comissão Nacional da Verdade esclareceu que o jornalista não cometeu suicídio, como diziam os militares, mas que ele fora morto em função do interrogatório. Tendo em vista o expediente da comissão, o Tribunal de Justiça de São Paulo emitiu uma nova certidão de óbito para Herzog, onde consta como causa da morte “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi”. No atestado anterior, a versão para o óbito era “enforcamento por asfixia mecânica”. Veja foto ao lado.
2. Lançamento da Editora Autêntica: abril de 2013 marcou o ultimo lançamento de uma das mais importantes coleções de história dos últimos anos, no Brasil: a coleção “História e Historiografia”, da Editora Autêntica. O livro que encerrou a coleção, composta de um total de dez livros, foi o clássico do historiador francês François Hartog, “Regimes de Historicidade: Presentismo e experiências do tempo”. Coordenada por Eliane de Freitas Dutra, esta coleção objetiva disponibilizar aos professores e estudantes de História títulos ainda não traduzidos no Brasil, escritos por autores que têm se notabilizado pela contribuição para a renovação temática, as reflexões de método e os debates teóricos no interior da historiografia contemporânea. No momento em que as renovações da disciplina incitam as reflexões epistemológicas e a busca de novas hermenêuticas, demandando esforços redobrados e sistemáticos de reflexão sobre a prática e a escrita da História, a Coleção História e Historiografia oferece aos seus leitores instigantes abordagens da história, resultantes de ousadas perspectivas de análise e originais e criativas incursões de arquivo. Nesta trilha, é que integram a Coleção os livros Doze Lições sobre a história, de Antoine Prost; A Leitura e seu Público na Época Contemporânea, de Jean-Yves Mollier; História e Psicanálise- Entre ciência e ficção, de Michel de Certeau; e Lugares para a História de Arlette Farge; entre outros. Conheça todos os títulos clicando aqui.
3. Regulamentação da profissão de historiador: o projeto de lei 4699/2012 (denominação atual), do Senador Paulo Pai (PT), que propõe o exercício da profissão de historiador no Brasil, entrou em tramitação de urgência em junho e chegou próximo da aprovação. Na época, no entanto, a sua redação ainda gerava certo desconforto em algumas atividades e entre alguns pesquisadores. Neste mesmo mês de junho, houve, por exemplo, uma grande discordância entre a Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC), crítica do projeto de lei, e a Associação Nacional de História (ANPUH), a principal entidade de historiadores que apoiava e apoia o mesmo. A discordância, que teve episódios de tensão após a publicação de cartas abertas na web, acabou sendo contornada a partir de uma reelaboração do projeto de lei, o que acabou por retardar mais um pouco a votação do congresso. O Projeto de Lei 4699/12, do Senado, regulamenta a profissão de historiador, exigindo que ele tenha pelo menos o diploma de curso superior em História. Além do diploma de curso superior de universidade brasileira ou estrangeira revalidado no Brasil, poderá trabalhar na área quem tiver mestrado ou doutorado na área, sem ter concluído o terceiro grau especificamente em História. O profissional também terá que se registrar na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do local onde irá atuar. Veja nossa matéria sobre a polêmica surgida este ano clicando aqui.
4. Morte de Ciro Flamarion Cardoso: o historiador brasileiro Ciro Flamarion Cardoso, 70 anos, faleceu em junho, no Rio de Janeiro. Um dos pesquisadores mais conhecidos e competentes de sua geração, Cardoso construiu uma carreira sólida na Universidade Federal Fluminense, na qual atuou desde 1979. Uma de suas maiores contribuições à historiografia diz respeito à interpretação das sociedades coloniais na Época Moderna. Marxista, nunca deixou de criticar o próprio marxismo. Abriu caminho no Brasil para os estudos sobre Egito Antigo e foi um professor incansável, orientando centenas de estudantes ao longo de sua carreira. Euller de França, ex-aluno de Ciro, lembrou no "Jornal Opção" do velho mestre: Ele nos ensinava a pensar a história, não apenas a fazer o registro mecânico dos fatos. Olhando do ponto de vista de hoje, pode-se perceber um didatismo excessivo em “Os Métodos da História”, mas o víamos, na época (e por certo ainda há o que aprender lendo-o), como um guia seguro. O livro, de capa marrom, salvo engano editado pela Graal, não saía de nossas mãos e, claro, dos nossos cérebros. Outro detalhe que nos chamava a atenção era o rigor do historiador Ciro Cardoso. Seus livros eram muito bem escritos – talvez porque tivesse alma de artista (era um artista, músico, e escritor, contista, informa o crítico literário Carlos Augusto Silva) – e, sobretudo, muito bem pesquisados. Sua preocupação metodológica era crucial. Naquele período de distensão, com a abertura em marcha, dizia-se, às vezes, que havia um lado “bom” da história, o “nosso”, contra o lado “ruim”, o da ditadura. Assim, havia uma certa lassidão intelectual. Quem estivesse do “nosso lado”, mesmo se não estudasse e não fosse rigoroso, era “bom”. A leitura das obras de Ciro Flamarion Cardoso nos ensinava que era preciso ir além da questão do lado “bom” e do lado “mau”. Era preciso estudar e interpretar os documentos e os fatos rigorosamente. É o dever do historiador e de qualquer pesquisador. Veja uma palestra de Cardoso, aqui.
5. ANPUH 2013: em julho, aconteceu o XXVII Simpósio Nacional de História Nacional, promovido pela ANPUH. O evento, que acontece de dois em dois anos, foi realizado este ano na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal, Rio Grande do Norte, reunindo milhares de pessoas. A temática do simpósio foi “Conhecimento histórico e diálogo social”, escolhida em função da necessidade, cada dia mais evidente, de a academia estabelecer formas de diálogo com a sociedade. Sobre este mote se organizaram 08 conferências, 09 diálogos contemporâneos (mesas-redondas sobre temas candentes e atuais para a categoria), 141 simpósios temáticos e 70 minicursos. Esta programação teve o objetivo de apresentar para a comunidade científica as últimas pesquisas sobre a história e a historiografia, resultados das investigações desenvolvidas no Brasil e no exterior. Todas as propostas de atividades foram analisadas e selecionadas pela Comissão Científica, formada pela Diretoria e Diretorias dos Núcleos regionais. No caso dos simpósios temáticos, os coordenadores, professores doutores, muitos deles pesquisadores bolsistas de produtividade CNPq e professores orientadores dos Programas de Pós-Graduação em História nacionais, discutiram temáticas diversas previamente selecionadas. Os anais do simpósio deste ano já estão online. Para conferir, aqui. E anote aí: o próximo Simpósio Nacional de História da ANPUH ocorre em 2015 na linda cidade de Florianópolis, Santa Catarina.
6. Digitalização do acervo histórico do jornal OGLOBO: depois de “Folha de S.Paulo” e o “Estado de S.Paulo” fazerem, agosto marcou a digitalização de outro acervo histórico de um grande jornal brasileiro: o acervo do jornal OGLOBO. Inicialmente pago, mas atualmente (infelizmente) disponível apenas para assinantes, o jornal carioca disponibilizou todos os seus 88 anos de história na internet. Baseado em sistema próprio, o sistema de indexação é um dos mais precisos já vistos no Brasil. Estão lá as guerras, as grandes conquistas tecnológicas, os artistas, filmes, livros e músicas que fizeram sucesso em quase um século de História. Os eventos esportivos e as grandes transformações da economia também aparecem no acervo. Tudo isso fez inclusive com que antigas memórias viessem à tona. Por exemplo, levou a direção de OGLOBO a admitir que errou ao ter apoiado o golpe militar de 1964. Tal fato gerou uma enorme discussão entre historiadores na esfera pública. Indispensável para a promoção da pesquisa histórica, a digitalização de acervos históricos como a empreendida pelo jornal OGLOBO materializam ainda mais uma verdadeira tendência institucional. Ponto positivo para nós historiadores. Acesse o acervo aqui.
7. Polêmica das Biografias: nos meses de outubro e novembro, os meios de comunicação deram grande espaço para um debate que já era mais ou menos conhecido: as restrições existentes no Brasil para a publicação de biografias não-autorizadas. O tema já tinha sido muito discutido em 2007 quando o historiador Paulo César Araújo quase foi parar na cadeira após o lançamento de sua biografia sobre Roberto Carlos. Em 2013, porém, o tema voltou à tona quando uma associação chamada “Procure Saber”, formada por vários notáveis da cultura brasileiro, entre os quais Chico Buarque e Caetano Veloso, fez ampla campanha, inclusive junto ao legislativo, para estabelecer que biografias no país só pudessem ser publicadas uma vez autorizadas pelos biografados. Na opinião do grupo, o direito à privacidade deveria prevalecer em detrimento do direito a liberdade de expressão intelectual. Diversos juristas, artistas, historiadores e escritores vieram à público colocar suas opiniões. O ápice do debate aconteceu quando Chico Buarque desmentiu o historiador Paulo César Araújo, dizendo que este nunca o tinha entrevistado para o seu livro. No mesmo dia, Araújo tornou pública a famigerada entrevista com chico. Em foto e vídeo. Relembre a polêmica aqui.
8. Reportagens da RHBN sobre as demissões da Fundação Getúlio Vargas: em novembro, a Revista de História da Biblioteca Nacional publicou uma série de reportagens sobre demissões de pesquisadores do CPDOC, prestigioso centro de pesquisas da FGV-RJ, que estavam para atingir a idade de 65 anos. De acordo com a instituição de ensino, as demissões levaram em conta critérios a avaliação de professores. A Revista de História, no entanto, depois de escutar vários funcionários, inclusive os desligados, sublinhou, no entanto, que o critério por idade é uma regra não escrita, mas muito conhecida no CPDOC. Em uma das reportagens, lê o seguinte: Ângela de Castro Gomes, por outro lado, diz temer a saúde do CPDOC, já que o clima que se instaurou com a crise não é positivo. “Há 30 anos o CPDOC foi sinônimo de inovação, rotatividade de poder, debate e construção de pensamento crítico. Foi o que fez com que ele crescesse. A mudança desses preceitos nos preocupa”. Para a historiadora, que trabalhou na casa durante 37 anos, é fundamental renovar, mas o ponto é apenas como isto é feito. “Nas Ciências Humanas, há a acumulação do saber, do conhecimento. E isso é chamado de experiência”. A troca de experiência entre gerações é o que garante a excelência deste tipo de instituição. Para conhecer mais esse caso, clique aqui.
9. Avaliação da Capes: em dezembro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES, publicou a avaliação dos Programas de Pós-Graduação referente ao triênio 2010-2012. O Sistema de Avaliação da Pós-graduação foi implantado pela CAPES em 1976 e desde então vem cumprindo papel de fundamental importância para o desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa científica e tecnológica no Brasil. A Avaliação dos Programas de Pós-graduação compreende a realização do acompanhamento anual e da avaliação trienal do desempenho de todos os programas e cursos que integram o Sistema Nacional de Pós-graduação, SNPG. Os resultados desse processo, expressos pela atribuição de uma nota na escala de "1" a "7" fundamentam a deliberação CNE/MEC sobre quais cursos obterão a renovação de "reconhecimento", a vigorar no triênio subseqüente. A área de história conta com 63 programas. Destes, dez subiram de nota 3 para 4; seis subiram de nota 4 para 5; e um subiu de nota 5 para 6. Por outro lado, cinco programas tiveram o conceito rebaixado de 5 para 4; um de 7 para 5; e um de 7 para 6. Houve um programa de mestrado descredenciado. Apenas quatro programas de história no país possuem as notas máximas, 6 e7: UNICAMP, UFRJ, USP e UFRGS. Confira a tabela com as notas de todos os cursos aqui.
10. Café História TV: tudo bem...não foi assim um acontecimento de grandes proporções para a história. Mas para nós do Café História trata-se sim de uma grande realização: a criação do Café História TV, um projeto feito com muito carinho. Em dezembro, lançamos o nosso canal de vídeos. E para começar, um debate sobre o tema da História Digital. O papo, que durou pouco mais de uma hora, contou com as participações de Bruno Leal, criador do Café, Lise Sedrez (UFRJ), Keila Grinberg (UNIRIO) e Flavio Edler (FIOCRUZ). Toda semana, o Café História TV publica um vídeo. Não deixe de conferir e se e inscrever no canal. É bem fácil: basta apenas um clique não custa absolutamente nada. Cadastrando-se no canal, você fica sabendo de nossos últimos lançamentos. Em breve, por exemplo, vamos lançar uma seção do canal destinada a livros de história. Para conhecer o canal, clique aqui.
FONTE: http://cafehistoria.ning.com/retrospectiva2013?xg_source=msg_mes_network
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