Biografia
Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452, "na terceira hora da noite",[nb 7] de um sábado,[nb 8] no vilarejo de Anchiano, na comuna italianade Vinci, na Toscana, situada no vale do rio Arno, dentro do território dominado à época por Florença.[15] Era filho ilegítimo de MesserPiero Fruosino di Antonio da Vinci, um notário florentino, e Caterina,[16] [17] uma camponesa[14] [18] que pode ter sido uma escrava oriunda do Oriente Médio.[nb 9] [19] Leonardo não tinha um sobrenome no sentido atual; "da Vinci" significa simplesmente "de Vinci": seu nome completo de batismo era "Leonardo di ser Piero da Vinci", que significava "Leonardo, (filho) de (Mes)ser,[nb 10] Piero de Vinci".[15] O próprio Leonardo da Vinci assinava seus trabalhos simplesmente como Leonardo ou Io Leonardo ("Eu, Leonardo"); presume-se que ele não usou o nome do pai por causa do estado ilegítimo.Genealogia
Possível casa de infância de Leonardo, em
Anchiano.
Infância, 1452–1468
Pouco se sabe da infância de Leonardo. Provavelmente passou os seus primeiros quatro ou cinco anos no
vilarejo de
Anchiano, e depois do casamento de sua mãe com um lavrador de nome Accattabriga di Piero del Vaca, mudou-se para a casa da família de seu pai então casado com uma jovem de dezesseis anos chamada Albiera di Giovanni Amadori,
[13] com a qual Leonardo tinha uma boa relação, a quem chamava de madrinha, em companhia de seu avô, Antonio, e tio, Francesco, na paróquia de Santa Croce em Vinci, em um ambiente bucólico aconchegante, o que é significativo na personalidade de um Leonardo ligado a natureza.
[nb 11] Albiera morreu muito cedo sem filhos . A morte do seu avô Antonio a quem muito estimava deu-se logo após em 1468,
[2] [20] e Leonardo apesar de ilegítimo continuara filho único no segundo casamento do seu pai Piero, com Francesca di Giuliano Lanfredini; testemunharia a mais dois casamentos deste, até que em 1476, quando viviam em
Florença, Piero teve o tão esperado filho legítimo.
[21] Em sua vida adulta, Leonardo só se recordaria de dois incidentes de sua infância, um deles, tinha como presságio:
Parece-me que sempre fui destinado a me interessar muito profundamente por falcões, pois lembro-me como uma de minhas primeiras recordações que, quando estava no berço, um falcão desceu sobre mim e abriu-me a boca com a cauda, e me bateu muitas vezes entre os lábios com ela.[13] [20]
O segundo ocorreu enquanto ele brincava nas montanhas da região, e
depois de vagar por alguma distância entre as rochas projetadas acima, cheguei à boca de uma imensa caverna, diante da qual me quedei por algum tempo estupefato, pois ignorava a sua existência (…) e após ficar ali algum tempo, de repente despertaram dentro de mim duas emoções — medo e desejo — medo da escura e ameaçadora caverna, desejo de ver se haveria alguma coisa maravilhosa lá dentro.[13] [20]
A infância e a juventude de Leonardo foram tema de diversas conjunturas históricas.
[22] Giorgio Vasari,
biógrafo do
século XVI que escreveu sobre os pintores do
Renascimento, conta como um camponês local teria pedido a
Ser Piero que mandasse seu filho pintar um quadro numa placa redonda ou escudo. Leonardo respondeu com uma pintura de
serpentes soltando
fogo — ou mesmo um
dragão — tão terrível e mesmo assim tão surpreendente que
Ser Piero decidiu vender a um negociante de arte florentino que, por sua vez, a vendeu ao
Duque de Milão. Enquanto isso, com parte do lucro da venda,
SerPiero comprou uma placa, decorada com um
coração penetrado por uma
flecha, que ele deu ao camponês.
[23] Leonardo tornou-se um jovem instruído e sempre referido pelos estudiosos como dono de uma bela aparência de fartos cabelos louros e olhos claros, além de uma personalidade afável com o trato das pessoas.
[24]
Ateliê de Verrocchio, 1469–1476
Em 1469, com dezessete anos, Leonardo passou a ser aprendiz de um dos mais bem-sucedidos artistas de seu tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio (
Olho verdadeiro).
[13] O ateliê de Verrocchio estava no centro das correntes intelectuais de Florença, o que garantiu ao jovem Leonardo uma educação nas
ciências humanas. Outros pintores famosos que passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê foram
Ghirlandaio,
Perugino,
Botticelli e
Lorenzo di Credi.
[20] [25] Leonardo foi exposto desde cedo a uma vasta gama de técnicas, e teve a oportunidade de aprender
desenho técnico,
química,
metalurgia,
mecânica,
carpintaria, a trabalhar com materiais como
couro e metal, fazer
moldes, além das técnicas artísticas de desenho, pintura, escultura e modelagem.
[26] [27] [28]
Boa parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita por seus funcionários. De acordo com Vasari, Leonardo colaborou com Verrocchio em seu
O Batismo de Cristo, pintando o jovem
anjo da esquerda, que segura a túnica de
Jesus de maneira tão superior ao seu próprio mestre que Verrocchio teria decidido nunca mais pintar.
[23] Isto provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem diversos retoques feitos sobre a
têmpera utilizando a nova técnica de
pintura a óleo, como o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura do próprio Jesus, todas testemunhas da mão de Leonardo.
[18]
O próprio Leonardo pode ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio, incluindo a
estátua de
bronze de
David, no
Bargello, e o
Arcanjo em
Tobias e o Anjo. Na altura apenas se disse que a estátua de
David tinha sido inspirada num dos mais belos aprendizes do atelier de Verrocchio.
[18]
Em 1472, com vinte anos de idade, Leonardo se qualificou para o cargo de mestre na
Guilda de São Lucas, uma
guilda de artistas e doutores em
medicina,
[nb 12] porém mesmo depois de seu pai ter montado seu próprio ateliê, sua ligação com Verrocchio permaneceu tal que ele continuou a colaborar com ele.
[20] Aos poucos, as pessoas da corte passam a fazer encomendas diretamente a Leonardo. Sua obra mais antiga a ser datada é um desenho em
pena e
tinta do vale do
Arno, feito em 5 de agosto de 1473.
[nb 13] [25]
Vida profissional, 1476–1513
A Adoração dos Magos, (1481–1482) —
Uffizi. Em março de 1481, a Leonardo foi encomendada esta pintura, pelos monges de São Donato Scopeto em
Florença. O notário do mosteiro era o pai de Leonardo, e é muito provável que tenha induzido os monges a contratar seu filho.
[29]
Leonardo da Vinci na presença do Duque de Milão Ludovico Sforza,
afresco de Nicola Cianfanelli
Em 1476, Leonardo da Vinci, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio, foram acusados de
sodomia;
[nb 14] segundo a acusação referente a Leonardo, ele teria tido relações homossexuais com
Jacopo Saltarelli, um jovem de 17 anos muito popular à época em
Florença como prostituto.
[13] Diante, no entanto, da falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação, Leonardo foi absolvido.
[30] A partir desta data até 1478 não existem registros nem de obras suas nem de seu paradeiro,
[31] embora se costuma presumir que Leonardo tenha estado no ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481.
[18] Em 1478 foi-lhe encomendada a pintura de um
retábulo para a Capela de São Bernardo, e a
Adoração dos Magos, em 1481, para os
monges de San Donato a Scopeto. Esta importante encomenda foi interrompida com a ida de Leonardo para
Milão.
[32]
Em 1482, Leonardo, que de acordo com Vasari era um músico muito talentoso,
[33] criou uma
lira de
prata, com a forma da cabeça de um
cavalo.
Lourenço de Médici, dito "
il Magnifico", grande humanista, enviou Leonardo, a portar a lira como um presente, a Milão, para selar a paz com
Ludovico Sforza (dito
il Moro, "o
Mouro"),
Duque de Milão não oficial.
[34] Foi nesta época que Leonardo da Vinci escreveu uma carta a Ludovico, citada frequentemente, na qual ele descreve as coisas diversas e maravilhosas que conseguia realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que ele também podia pintar.
[25] [35]
Leonardo continuou a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebeu a encomenda de pintar a
Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição, e a
Última Ceia para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie.
[20] Enquanto vivia em Milão, entre 1493 e 1495, Leonardo listou uma mulher, chamada Caterina, entre seus dependentes, nas suas declarações de imposto de renda. Quando ela morreu, em 1495, a lista dos gastos com o funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe.
[20] [36]
Trabalhou em diversos projetos para Ludovico, incluindo o preparo de
carros alegóricos e
desfiles para ocasiões especiais, o projeto de uma
cúpula para a
Catedral de Milão, e um modelo de um imenso
monumento equestre para
Francesco Sforza, o antecessor de Ludovico. Setenta toneladas de
bronze foram separadas para a sua confecção; o monumento permaneceu inacabado durante anos, o que não foi comum na carreira de Leonardo. Em 1492 um modelo de argila foi terminado; ele era maior, em tamanho, que as duas únicas estátuas equestres do
Renascimento, a estátua de Gattemelata, em
Pádua, e a de
Bartolomeo Colleoni, de Verrocchio, em
Veneza, e ficou conhecido como o
"Gran Cavallo".
[25] [37]
Leonardo começou a fazer os projetos detalhados para a sua fundição;
[25] Michelangelo, no entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que Leonardo seria incapaz de fazê-lo.
[20] Em novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar
canhões, visando defender a cidade da invasão de
Carlos VIII da França.
[25]
No início da Segunda Guerra Italiana, em 1499, as tropas invasoras francesas de
Luís XII sucessor de
Carlos VIII, utilizaram-se do modelo de argila do
Gran Cavallo como alvo para praticar tiro. Com a deposição de Ludovico Sforza, Leonardo, juntamente com seu assistente, Salai, e seu amigo, o
matemático Luca Pacioli, abandonou Milão e fugiu para Veneza, passando por
Mântua, sendo que em Veneza foi empregado como arquiteto e engenheiro militar, planejando métodos de defender a cidade de um ataque naval.
[18] [20]
Ao retornar a Florença, em 1500, foi recebido, juntamente com sua família e criadagem, pelos monges servitas do mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à sua disposição um ateliê. Foi ali que, de acordo com Vasari, criou o desenho da
Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista — uma obra que conquistou tanta admiração que
homens e mulheres, jovens e velhos vinham vê-la, em massa,
como se estivessem frequentando um grande festival.
[23] [nb 15]
Em 1502, Leonardo passou a trabalhar para
César Bórgia, filho do papa
Alexandre VI, atuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália com seu patrão;
[18] foi nessa viagem que conheceu
Nicolau Maquiavel. Retornou a Florença, onde voltou a fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de outubro de 1503; recebeu a encomenda de um retrato: a
Mona Lisa, e passou os dois anos seguintes desenhando e pintando um grande
mural da
Batalha de Anghiari para a
Signoria,
[18] enquanto Michelangelo foi responsável pela peça que a acompanhava,
A Batalha de Cascina.
[nb 16] Ainda em Florença, em 1504, fez parte de um comitê formado para transferir, contra a vontade do próprio autor, Michelangelo, a célebre estátua do
Davi.
[40]
Em 1506, retornou a Milão. Muitos dos seus pupilos e seguidores mais importantes, no campo da pintura, ou o conheceram ou trabalharam com ele naquela cidade,
[20] incluindo
Bernardino Luini,
Giovanni Antonio Boltraffio e
Marco D'Oggione.
[nb 17] Seu pai morreu em 1504, e como resultado, em 1507 Leonardo teve de voltar a Florença para resolver com seus irmãos os problemas decorrentes da herança e das propriedades paternas. No ano seguinte, retornou a Milão por solicitação do governador francês Charles d'Amboise, para resolver problemas de trabalhos inconclusos, onde passou a viver em sua própria casa, na região da
Porta Orientale, na paróquia de
São Bábila.
[18]Após
mercenários suíços expulsarem os franceses em 1512,
Massimiliano Sforza filho de Ludovico, ascendeu ao poder, e Leonardo ficou sem patrono. No ano seguinte foi convidado por Juliano de Médici, filho de
il Magnifico, para viajar para
Roma, que estava sob o controle do papa
Leão X, um Médici.
[13]
Últimos anos, 1513–1519
Clos Lucé, na França, onde Leonardo viveu seus últimos anos de vida, até morrer em 1519.
De setembro de 1513 a 1516, Leonardo passou a maior parte do seu tempo vivendo no Belvedere, no
Vaticano, em
Roma, período durante o qual
Rafael e Michelangelo também estavam em atividade.
[18] Em outubro de 1515,
Francisco I da França reconquistou Milão;
[41] Leonardo estava presente no encontro entre Francisco I e o papa
Leão X, em 19 de dezembro, ocorrido em
Bolonha.
[20] [42] [43]
Foi de Francisco que Leonardo recebeu a encomenda de construir um
leão mecânico, que pudesse caminhar para a frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de
lírios.
[23] [nb 18] Em 1516, passou a trabalhar diretamente a serviço de Francisco, e foi-lhe concedido o
solar de
Clos Lucé,
[nb 19] próximo à residência do rei, no
Castelo de Amboise. Foi aqui que ele passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz, o
conde Francesco Melzi, e sustentado por uma
pensão que totalizava 10 000 escudos.
[18]
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LEONARDUS VINCIUS: QUID PLURA? DIVINUM INGENIUM, DIVINA MANUS, EMORI IN SINU REGIO MERUERE. VIRTUS ET FORTUNA HOC MONUMENTUM CONTINGERE GRAVISSIMIS IMPENSIS CURAVERUNT.
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Leonardo morreu em
Clos Lucé, em 2 de maio de 1519. Francisco havia se tornado um grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços quando este morreu — embora a história, amada pelos
franceses e retratada em pinturas
românticas de artistas como
Ingres e
Angelica Kauffmann, possa ser mais lenda do que realidade.
[nb 21]
A Morte de Leonardo da Vinci, porIngres (1818)
Vasari também conta que, em seus últimos dias, Leonardo teria pedido que um
padre lhe fosse trazido, para que se
confessasse e recebesse a
extrema unção.
[23] De acordo com o que pediu em seu
testamento, sessenta
mendigos seguiram o seu cortejo. Foi enterrado na Capela de Saint-Hubert, no
Castelo de Amboise.
[45] Melzi foi o principal herdeiro e inventariante, e recebeu, além de todo o dinheiro de Leonardo, todos os seus cadernos, ferramentas, sua biblioteca e seus objetos pessoais. Leonardo também se lembrou de seu antigo pupilo e companheiro, Salai, e de seu criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu uma metade das
vinhas de Leonardo, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas que acompanhavam o mestre desde então.
[17] Seus irmãos também receberam terras, e sua criada recebeu
um manto negro de bom material, com as bordas de pele.[46]
Cerca de vinte anos após a morte de Leonardo, o rei Francisco teria falado, segundo o
escultor Benvenuto Cellini:
Nunca nasceu no mundo outro homem que soubesse tanto quanto Leonardo, nem tanto [por seus conhecimentos]
de pintura, escultura e arquitetura, mas por ele ter sido um grande filósofo.[47]
Relacionamentos e influências
As Portas do Paraíso, de Ghiberti (1425–1452), realizadas com o apoio de diversos artistas, eram motivo de orgulho na cidade.
Florença – contexto social e artístico de Leonardo
Leonardo começou seu
aprendizado com Verrocchio em 1466, no ano em que morreu o mestre do próprio Verrocchio, o grande
escultorDonatello. O
pintor Uccello, cujas experiências com a
perspectiva influenciariam o desenvolvimento da pintura de paisagem, já era um homem de idade muito avançada, e os pintores
Piero della Francesca e
Fra Filippo Lippi, o escultor
Luca della Robbia, e o
arquiteto e
escritor Alberti já estavam em seus sessenta anos de idade. Entre os artistas mais bem sucedidos da geração seguinte estavam, além do próprio professor de Leonardo, Verrocchio,
Antonio Pollaiuolo e o escultor
Mino de Fiesole, cujos bustos realistas são até hoje as evidências mais confiáveis da aparência real do pai de
Lourenço de Médici, Piero, e de seu tio, Giovanni.
[48] [49] [50]
Peça central de
O Retábulo de Portinari,
por Hugo van der Goes, feito para uma família florentina
Leonardo passou sua juventude numa Florença decorada pelas obras destes artistas, e pelos contemporâneos de Donatello, como
Masaccio — cujos
afrescos figurativos estavam imbuídos de realismo e emoção, ou de
Ghiberti, cujas
Portas do Paraíso, folheadas a ouro, mostravam a arte da combinação de composições figurativas complexas com fundos arquitetônicos ricamente detalhados. Piero della Francesca fez um estudo detalhado da perspectiva, e foi o primeiro pintor a fazer um estudo científico da
luz. Estes estudos, juntamente com o
Trattato de
Leone Battista Alberti, teriam um efeito profundo nos artistas mais jovens, e especialmente nas próprias observações e obras de Leonardo.
[48] [49] [50]
A Expulsão do Jardim do Éden, de Massaccio, mostrando
Adão e Eva nus e transtornados, abandonando o
Jardim do Éden, criou uma imagem tremendamente expressiva da forma humana, representada em três dimensões através do uso de
luz e sombra — algo que seria desenvolvido nas obras de Leonardo a ponto de influenciar a história da pintura a partir de então. As influências
humanistas do
Davi de Donatello podem ser vistas nas pinturas da velhice de Leonardo, em especial o
São João Batista.
[50]
Uma tradição recorrente em Florença era a de pequenos
retábulos retratando a
Virgem e o
Menino. Muitos eram feitos em
têmpera ou
terracota vitrificada, pelos ateliês de Filippo Lippi, Verrocchio e da prolífica família
della Robbia.
[50] As primeiras
madonas de Leonardo, como
A Virgem do Cravo e
Virgem Benois seguiram nesta tradição, embora mostrassem diferenças idiossincráticas, especialmente no caso da
Virgem Benois, na qual a Virgem está retratada num ângulo oblíquo ao espaço do quadro, com o Menino Jesus num ângulo oposto. O mesmo tema reapareceria em diversas pinturas posteriores de Leonardo, como
A Virgem e o Menino com Santa Ana.
[20]
Leonardo foi contemporâneo de
Botticelli,
Ghirlandaio e
Perugino, embora fossem um pouco mais velhos que ele. Teria conhecido todos no atelier de Verrocchio, com quem eles tinham ligações, e na Academia dos Médici.
[20] Botticelli era especialmente preferido pela
família Médici, e seu sucesso como pintor era praticamente garantido. Ghirlandaio e Perugino eram prolíficos, e também geriam grandes ateliês; foram responsáveis por comissões realizadas com competência, para patronos satisfeitos, que apreciavam a habilidade de Ghirlandaio de retratar os cidadãos ricos de Florença em grandes afrescos religiosos, e a habilidade de Perugino em criar multidões de
santos e
anjos de inescapável doçura e inocência.
[50]
Estes três estavam entre os que foram comissionados para pintar as paredes da
Capela Sistina, no
Vaticano, obra que havia sido iniciada por Perugino em 1479. Leonardo não fez parte desta comissão de prestígio; sua primeira encomenda significante, a
Adoração dos Magos, para os
monges de Scopeto, nunca foi terminada.
[20]
Em 1476, durante o período em que Leonardo esteve ligado ao atelier de Verrocchio, o pintor
flamengo Hugo van der Goes chegou em Florença, trazendo o
Retábulo de Portinari e as
novas técnicas de pintura do
Norte da Europa que afetariam profundamente os pintores florentinos do período. Em 1479 o pintor
siciliano Antonello da Messina, que trabalhava exclusivamente com
óleos, viajou para o norte, em direção a
Veneza, onde o principal pintor da cidade,
Giovanni Bellini, também adotara a técnica da pintura a óleo, transformando-a rapidamente na técnica preferida do local. Leonardo também visitaria Veneza algum tempo depois.
[49]
Como dois arquitetos contemporâneos,
Bramante e
Antonio da Sangallo, o Velho, Leonardo experimentou com projetos para
igrejasplanejadas centralmente, diversas das quais aparecem em seus diários, tanto em plantas quanto vistas — embora nenhum destes projetos tenha chegado a ser posto em prática.
[50] [51]
Os contemporâneos políticos de Leonardo foram
Lourenço de Médici (
il Magnifico), três anos mais velhos que ele, e seu popular irmão mais novo, Juliano, morto na
Congiura dei Pazzi de 1478.
Ludovico Sforza (
il Moro), que governou
Milão entre 1479 e 1499, período durante o qual Leonardo foi enviado como
embaixador em nome da corte dos Médici, também tinha aproximadamente a mesma idade.
[48] [50]
Juntamente com Alberti, Leonardo passou a frequentar o lar dos Médici, e através deles conheceu
filósofos humanistas como
Marsilio Ficino, proponente do
neoplatonismo,
Cristoforo Landino, autor de comentários sobre os escritos da
Antiguidade Clássica, e
João Argyropoulos, professor de
grego e tradutor das obras de
Aristóteles. Outro contemporâneo de Leonardo que também teve seu nome associado à Academia dos Médici foi o jovem e brilhante poeta e filósofo
Pico della Mirandola.
[49] [52] Leonardo escreveu mais tarde, na margem de um de seus diários:
"Os Médici me fizeram, e os Médici me destruíram." Embora tenha sido através de Lourenço que Leonardo receberia importantes trabalhos em Milão, não se sabe o que ele quis dizer exatamente com este comentário críptico.
[20]
Embora costumem ser agrupados como os três gigantes do
Alto Renascimento, Leonardo,
Michelangelo e
Rafael não pertenceram à mesma geração. Leonardo tinha vinte e três anos quando Michelangelo nasceu, e trinta e um no nascimento de Rafael, este último teve uma vida curta, morrendo em 1520, no ano após a morte de Leonardo; já Michelangelo continuou criando por mais 45 anos.
[48] [49]
Vida pessoal
Ao longo da vida de Leonardo, seu extraordinário poder de inventividade, sua "espetacular beleza física", "graça infinita", "grande força e generosidade", "espírito régio e tremendo alcance mental", como foram descritos por Vasari,
[23] atraíram a curiosidade daqueles que o cercavam. Diversos autores especularam sobre os vários aspectos da personalidade de Leonardo; um deles, a sua adoção de éticas e práticas pessoais, que podem ser ocasionadas de sua crescente admiração pela natureza e suas criaturas, como pode ser exemplificado por seu
vegetarianismo e o hábito, descrito também por Vasari, de comprar
pássaros engaiolados e libertá-los.
[23] [53] [nb 22]
Leonardo teve muitos amigos que se tornaram profissionais renomados em seus campos, ou que são célebres até hoje por sua importância histórica. Entre eles está o
matemático Luca Pacioli, com quem ele colaborou num livro na década de 1490, assim como
Franchinus Gaffurius e
Isabella d'Este,
a grande dama do Renascimento.
[54] Com a exceção desta última, Leonardo parece não ter se relacionado intimamente com mulheres. Isabella foi retratada por ele durante uma viagem que levou-os a
Mântua; o retrato teria sido usado como rascunho para uma pintura, que já não existe mais.
[20]
Além de suas amizades, Leonardo mantinha sua vida privada em segredo. Sua
sexualidade foi alvo frequente de estudos, análises e especulações. Esta tendência já se tinha iniciado no meio do
século XV, e tomou novo ímpeto nos séculos XIX e XX, especialmente a partir de
Sigmund Freud.
[55]
Assistentes e pupilos
Os relacionamentos mais íntimos de Leonardo foram com seus dois pupilos, Gian Giacomo Caprotti da Oreno, apelidado
Salai ou
il Salaino ("pequeno diabo" na
gíria da época), que entrou para o seu convívio familiar em 1490. Depois de apenas um ano, Leonardo fez uma lista de suas contravenções, chamando-o de "um ladrão, um mentiroso, teimoso, e glutão", depois de ele ter roubado dinheiro e objetos de valor em pelo menos cinco ocasiões, e gastar uma fortuna em roupas.
[56] Ainda assim, em seus primeiros anos, os cadernos de Leonardo contêm diversas pinturas do estudante, que permaneceu como parte da família de Leonardo pelos trinta anos seguintes.
[18]Salai também fez uma série de pinturas, sob o nome de Andrea Salai; embora Vasari tenha alegado que Leonardo "ensinou-lhe muito sobre pintura",
[23] sua obra é geralmente considerada como tendo um mérito artístico menor do que outros pupilos de Leonardo, como
Marco d'Oggione e
Boltraffio. Em 1515 Salai pintou uma versão
nua da
Mona Lisa, conhecida como
Mona Vanna.
[57] O próprio Salai era proprietário da
Mona Lisa na ocasião de sua morte, em 1525, e em seu testamento ela foi estimada em 505
liras, um valor excepcionalmente alto para um pequeno retrato.
[58]
Em 1506 Leonardo acolheu outro pupilo, o
conde Francesco Melzi, filho de um
aristocrata da
Lombardia. Melzi, estudante predileto de Leonardo, viajou com o tutor para a
França, onde esteve ao seu lado durante todo o fim de sua vida.
[20] Com a morte de Leonardo, Melzi herdou as coleções, manuscritos e obras artísticas e científicas de Leonardo, patrimônio que ele administrou fielmente a partir de então.
[59]
Obra artística
Esboço a carvão para A Última Ceia.
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Quando ouvimos os sinos, ouvimos aquilo que já trazemos em nós mesmos como modelo. Sou da opinião que não se deverá desprezar aquele que olhar atentamente para as manchas da parede, para os carvões sobre a grelha, para as nuvens, ou para a correnteza da água, descobrindo, assim, coisas maravilhosas. O gênio do pintor há-de se apossar de todas essas coisas para criar composições diversas: luta de homens e de animais, paisagens, monstros, demônios e outras coisas fantásticas. Tudo, enfim, servirá para engrandecer o artista.
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—Leonardo da Vinci
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Introdução
Apesar do recente interesse e admiração por Leonardo como
cientista e inventor, durante mais de quatrocentos anos a sua enorme fama apoiou-se nos seus feitos como
pintor e num punhado de obras, autenticadas ou atribuídas a ele, que têm sido vistas desde então como algumas das obras-primas supremas já criadas pelo homem.
[60]
Estas pinturas ficaram famosas por uma série de qualidades que foram muito imitadas por estudantes e discutidas extensivamente por conhecedores e críticos. Entre algumas destas qualidades que tornam a obra de Leonardo única estão as técnicas inovadoras que ele usou na aplicação da
tinta, seu conhecimento detalhado de
anatomia,
luz,
botânica e
geologia, seu interesse na
fisiognomonia e na maneira pelo qual os humanos registram emoções em suas expressões e gestos, seu uso inovador da forma humana em composições figurativas, e o uso da graduação sutil da tonalidade. Todas estas qualidades encontram-se reunidas em suas obras mais famosas, como a
Mona Lisa,
A Última Ceia e a
Virgem dos Rochedos.
[61]
A
Última Ceia (
L'ultima cena ou
Cenacolo), em Milão, é uma das mais conhecidas pinturas atribuídas a da Vinci, exposta no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie e tema central da obra
O Código da Vinci de
Dan Brown, assim como a
Mona Lisa (também conhecida como
La Gioconda, exposta no
museu do Louvre, em
Paris).
Leonardo não foi um pintor prolífico, mas foi o mais prolífico
desenhista (projetista), mantendo diários cheios de pequenos rascunhos e desenhos detalhados registrando todas as coisas que lhe chamavam atenção. Juntamente com os diários, existem diversos estudos de pinturas, alguns dos quais podem ser identificados como preparações para trabalhos específicos como
A Adoração dos Magos, a
Virgem dos Rochedos e
A Última Ceia.
[62] Seu desenho mais antigo, é o
Vale do Arno (1473), que ostenta as montanhas tão frequentes em suas obras.
[20] [62]
Entre seus desenhos mais famosos está o
Homem Vitruviano, um estudo das proporções do corpo humano, e a
Cabeça de Anjo, esboço de
Uriel em
A Virgem dos Rochedos, no Louvre, e um grande desenho em giz,
A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista, na
National Gallery em
Londres.
[62] Este desenho emprega o efeito sutil do
sfumato, técnica de sombreado presente em
Mona Lisa. Pensa-se que Leonardo nunca fez uma pintura a partir dele, mas há uma notável semelhança com a pintura
A Virgem e o Menino com Santa Ana, atualmente no Louvre.
[18]
Outros desenhos de interesse incluem numerosos estudos geralmente referidos como "caricaturas", porque, embora exagerados, parecem ser baseados em observação de modelos vivos, como
Cabeças Grotescas. Vasari refere que, se Leonardo encontrasse pessoas com personalidade interessante, ele iria acompanhá-las o dia todo observando.
[23] Existem numerosos estudos de belos jovens, muitas vezes associados a Salai, com sua rara e muito admirada beleza facial, o então chamado "perfil grego". Outros estudos muito detalhados são os de roupagens, um bom exemplo é o macabro
Retrato de Bernardo di Bandino Baroncelli executado, em que com desapaixonada integridade Leonardo descreve as vestes do participante da
Congiura dei Pazzi.
[62]
Primeiras obras
Em Florença, 1469–1482
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Il bono pittore ha da dipingere due cose principali, cioè l'homo e il concetto della mente sua. Il primo è facile, il secondo difficile perché s'ha a figurare con gesti e movimente delle membra.
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Retrato de Bernardo di Baroncelli executado
Imagem horizontalmente invertida para visualização legível da escritaleonardiana
Leonardo da Vinci nasceu no seio de uma família cujas posses equivaliam à riqueza das famílias que hoje chamamos
classe-média, instruída e altruísta. Jovem, Leonardo revelou desde cedo uma aptidão genial para o
desenho, área em que, tecnicamente, mais se destacou, pelo menos na sua carreira prematura.
[63] [64]
Segundo,
Giorgio Vasari, sua
família, amiga íntima da família de Verrocchio, tinha um estreito contato com a arte
florentina.
Messer Piero, pai de Da Vinci, levou um dia alguns dos trabalhos de Leonardo ao ateliê do pintor, questionando-o sobre o eventual talento de Leonardo e se valeria a pena investir no jovem. Verrocchio ficou espantado com a habilidade de Leonardo e, prontamente, aceitou o jovem no seu estúdio.
[65]
Os trabalhos prematuros de Leonardo resumiam-se, de fato, a desenhos,
esboços a
carvão,
tinta nanquim ou aguada. Embora somente se conheça um retrato masculino a óleo na sua obra, o pintor explorou com ênfase o retrato da virilidade masculina, um interesse que se revela mesmo neste tempo de aprendiz. Um dos seus trabalhos mais intrigantes deste início de carreira é
Retrato de Bernardo di Baroncelli executado, já no estúdio de Verrocchio, a pena e tinta, realizado a caneta de aparo sobre papel preparado, que conclui o maior registro desenhado, realizado em 29 de dezembro de 1479. Trata-se do retrato de um cadáver, um participante da
Congiura dei Pazzi, executado pelo assassinato de
Juliano de Médici.
[66] Na inscrição no topo do papel, Leonardo descreve o vestuário do executado, incluindo as cores com sua típica escrita invertida.
[nb 24] [68] Na margem inferior direita do trabalho aparece ainda uma cabeça. Referência notável para o seu trabalho é a facilidade e o domínio do traço, que revelaria mais tarde no pincel. Duas outras pinturas parecem datar deste seu período no ateliê de Verrocchio, ambas
Anunciações. Uma é pequena, com 59 centímetros por 14; é uma
predella, destinada a adornar a base de uma composição maior — neste caso, uma pintura de
Lorenzo di Credi da qual ela foi separada. A outra é uma obra muito maior, com dois metros e 17 centímetros.
[18] Em ambas as Anunciações Leonardo utilizou-se de um arranjo formal (como nas célebres pinturas de
Fra Angelico sobre o mesmo assunto), da
Virgem Maria sentada ou ajoelhada à direita do quadro, com um anjo de perfil se aproximando pela esquerda, com as asas eretas e portando um lírio em um cenário aberto, com um rico jogo de perspectiva linear.
[nb 25] Embora tenha sido atribuído anteriormente a
Ghirlandaio, a maior das duas obras é considerada de maneira unânime nos dias de hoje como sendo de Leonardo.
[71]
Na menor das pinturas, Maria desvia seus olhos, e dobra suas mãos, num gesto que simbolizava a submissão à vontade de Deus; na outra, no entanto, Maria não está nem um pouco submissa. A bela jovem, interrompida em sua leitura por este inesperado mensageiro, coloca um dedo na sua
Bíblia para marcar o lugar onde parou e levanta sua outra mão num gesto formal de saudação ou surpresa.
[50] Esta jovem tranquila parece aceitar seu papel como a
Mãe de Deus, não com resignação, mas com confiança. Nesta pintura, o jovem Leonardo apresenta a face
humanista da Virgem Maria, reconhecendo o papel da humanidade na encarnação de Deus.
[72]
Uma série de estudos meticulosos o levou a concretizar trabalhos como
A Anunciação ou a futura
Virgem do Cravo. O estudo de roupagens das
personagens das obras são um dos marcos do seu percurso artístico, concebidos com uma primazia notável.
[73] [74] Baseando-se em
esculturas ou modelos de
madeira ou
terracota, cobertos por panejamentos e
joias — algo em voga, para não ter que pagar cortesãs para posarem para si — Leonardo desenvolveu as suas competências no
desenho e sabendo-o bem, no seu
Trattato della Pittura, aconselha os artistas a praticarem o desenho através do estudo de relevos e esculturas.
[nb 26] Estes estudos, primeiramente postos em prática pelo artista, prepararam um
génio sagaz e um mestre inconfundível. O
humanista Paolo Giovio e Vasari referem constantemente nas suas obras, a perfeição do jovem artista nos seus desenhos. Vasari refere mesmo que "os desenhos de Da Vinci são tão perfeitos e relatam tão incansável procura por novos detalhes, com um esforço de imaginação soberbo, que dificilmente os conseguem igualar."
[75]
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A natureza benigna providenciou de modo que em qualquer parte você encontra algo para aprender.
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— Leonardo da Vinci
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Detalhe do anjo atribuído a Leonardo em O Batismo de Cristo; caracterizado pela beleza, apresenta grande perfeição de perfil,[54] que expressaria com total maestria no Anjo Uriel em sua futuraVirgem dos Rochedos.
Nesta época, Leonardo desenvolveu um
vitium (na acepção
portuguesa, uma «obsessão») pela perfeição das obras e desenvolveu imensamente a sua técnica, que o levou a criar outras inéditas, como o
sfumato, hoje conhecido através da
Mona Lisa. Tal exigência para consigo próprio levaria à não conclusão de diversos
trabalhos, pois assim que os iniciava punha-os de lado, tal era a rapidez e eficácia com que aprendia novas técnicas.
Ao mesmo tempo em que realizava os seus famosos estudos de roupagens, Leonardo concretizou vários
desenhos e
estudos a partir da
natureza. Estes são tipificados pelo trabalho que produziu ainda enquanto aprendiz, assim como uma das primeiras obras datadas constantes entre a coleção da
Galeria dos Uffizi, atualmente. No canto superior de o
Vale do Arno aponta, na sua acostumada escrita invertida, «no dia de Santa Maria do Milagre da Neve,
[nb 27] 5 de agosto de 1473».
[29]
Estudo a pena e tinta sobre um suporte preparatório quase invisível, mostra a vista sobre um vale com montes e escarpas de ambos os lados, abrindo no fundo uma escassa visibilidade do
mar. A vista poderá ser do caminho entre Vinci e
Pistoia e, provavelmente, terá sido esboçado a lápis ao ar livre
in loco, e depois completada a pena e tinta no ateliê. No início do
século XX,
Woldemar von Seidlitz compreendeu as fortificações de Papiano nas muralhas e torres numa colina à esquerda da composição. A importância deste desenho não se reflete só no fato de ter sido feito por Leonardo, mas sim, em figurar como um dos primeiros desenhos autónomos de
paisagens de toda a
História da Arte.
[76][77]
Vale do Arno
5 de agosto de 1473
Estes estudos da natureza e de modelos vivos eram postos em prática nas suas obras pintadas, como no
Batismo de Cristo, onde, conclusivamente, pintou o
anjo que segura às vestimentas de
Cristo, que é de longe, muito melhor e elegante que as figuras pintadas por
Verrocchio e
Botticelli, e a paisagem de sutis transições de tons cromáticos, com incríveis efeitos da luz, desfocando contornos de
montanhas e
colinas distantes, fundindo-as a uma neblina luminosa — efeito obtido pelo emprego prematuro do óleo em sua obra artística —, uma evocação ao desenho do
Vale do Arno e antecipação do fundo de
Mona Lisa.
[54]
Vida profissional, 1476–1513
Dando início à carreira profissional de artista, o retrato de uma jovem foi encomendado diretamente a Leonardo. Marcante, o retrato possui uma forte presença
iconográfica e uma austera amargura.
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Cosa bellissima
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Prematuramente noiva de Luigi di Bernardo di Lapo Niccolini, a juventude de Ginevra, filha de Amerigo Benci, um banqueiro,
[79] e possivelmente desejada do embaixador de
Veneza, Bernardo Bembo alcançou a eternidade com esta pintura, encomendada provavelmente pelo último,
[54] embora seja sugerido que a encomenda tenha sido feita pela família da jovem em comemoração de seu casamento.
A pintura, inicialmente maior, sofreu danos, e proprietários posteriores provavelmente a compactaram
[78] [79] com um corte de cerca de nove centímetros em sua parte inferior. Tal suposição é sustentada pela pintura do reverso, e por um
desenho preparatório de mãos, que seria da mesma jovem. O desenho encontra-se na Royal Library,
Castelo de Windsor.
[54]
Tem-se conta de que o nome da jovem e o da pintura formam um jogo
iconográfico de palavras.
[78] Atrás da bela jovem, surge uma
juniperus. A palavra
italiana que define esta árvore é
ginepro, significando
genebra ou
zimbro.
[78] Contudo, o significado renascentista da árvore era a pureza e a castidade.
[79] Esta ideia é reforçada pela frase inscrita no reverso da pintura, na qual está pintado um pergaminho com louros e uma palma, ambos em torno de um pequeno ramo de
zimbro. No pergaminho há os seguintes dizeres:
A beleza adorna a virtude[78] (
VIRTUTEM FORMA DECORAT).
[54]
A criptografia
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uomo senza lettere
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Alguns historiadores e especialistas concluem que Leonardo gostava muito de distorcer coisas como em um quebra-cabeça. Muitos acham que sua escrita invertida era um código que protegia seus esboços contra espiões. Segundo Bruce Peterson, da RYP Australia Major Projects, Leonardo da Vinci escrevia assim porque era canhoto[80] e não queria borrar os textos que criava febrilmente. Já historiadores acreditam que esta escrita era um sinal de que Leonardo da Vinci tinha dislexia, pois escrevia de forma embaralhada e às vezes gostava de formar anagramas.
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A expressão facial da jovem é o mais intrigante na pintura. Olhando o espectador sem encarar, a incerteza dos seus sentimentos intriga os especialistas; não se sabe se está cansada, triste, serena, zangada, ou seja, um rol de sentimentos inacabáveis que a expressão facial lhe atribui. Uma jovem que oculta o íntimo, modesta, ausente de joias,
[79] tem como maior adorno a própria beleza natural como a paisagem que a cerca, o que poderia justificar a inscrição do reverso.
Obras da década de 1480
Na década de 1480 recebeu três importantes encomendas e começou outro trabalho ainda, cujo tema abriu uma rotura em termos de
composição. Infelizmente, dois desses três trabalhos nunca foram acabados (devido a sua partida para
Milão) e o terceiro levou tanto tempo, que tornou-se alvo de longas negociações ao longo da sua execução e pagamento. Uma destas pinturas é
São Jerônimo no Deserto. Esta pintura é associada com um período difícil da vida de Leonardo, e coincide com sinais de melancolia encontrados em seu diário:
"Achei que estava aprendendo a viver; estava apenas aprendendo a morrer."[20] A composição da pintura foge às práticas costumeiras da época;
[84] São Jerônimo, como um penitente, ocupa o centro da figura, levemente inclinado diagonalmente, e visto quase que de cima. A sua forma, ao ajoelhar-se, adquire um contorno trapezoide, com um braço esticado à borda exterior da pintura, e seu olhar virado para a direção oposta; alguns estudiosos apontam na obra ligações com os estudos anatômicos de Leonardo.
[nb 30] [41] Da Vinci serviu-se de um modelo de madeira e pano para conceber a figura do santo, como se fazia na altura. Para o poder pintar nesta posição, a cabeça de Leonardo colocava-se à mesma altura que o meio da
tíbia do modelo, pintando-o na diagonal. Por toda a extensão do quadro está o seu símbolo, um grande leão cujo corpo e cauda formam uma espiral dupla ao longo da base do espaço da pintura. Outra característica que se destaca é o cenário incompleto, de rochas escarpadas, contra o qual a figura está delineada.
Outra composição um tanto quanto atrevida, os elementos paisagísticos e o drama pessoal ressoam na obra de arte inacabada:
A Adoração dos Magos, encomenda dos monges de
San Donato a Scopeto. É uma composição muito complexa sobre cerca de 250 cm de largura e comprimento de uma placa de madeira. Para este trabalho o artista esboçou vários desenhos e numerosos trabalhos e estudos preparatórios, incluindo um detalhe de uma
perspectiva linear das ruínas de um edifício clássico. Mas em 1482 Leonardo saiu com destino a Milão por ordens de
Lourenço de Médici, em tributo a
Ludovico Sforza, o
mouro, e a pintura e todo o trabalho que havia tido foi abandonada.
[18] [71]
Em Milão, 1482–1499
Em
Milão, o primeiro registo de Leonardo da Vinci é um contrato de uma Confraria religiosa intitulada Imaculada Conceição, datado de 25 de abril de 1483, para a pintura de um retábulo para abrilhantar o
altar da capela de São Francisco, o Grande.
[17] O resultado seria o terceiro mais importante trabalho pictórico do artista,
A Virgem dos Rochedos.
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Que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre.
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A Virgem dos Rochedos (Versão Cheramy) (1494–1497),[86] é uma pintura que, juntamente a uma representação de Maria Madalena, é atribuída a Giampietrino, pupilo de Da Vinci, da qual, acredita-se atualmente, que Leonardo possivelmente tenha participado, embora essa afirmação não seja unânime.[87] Realizada após a versão do Louvre e anterior a versão de Londres.[86] Foi exibida na mostraLeonardo, Genio e Visione in terra Marchigiana no Museu Mole Vanvitelliana, em Ancona por Carlo Pedretti e Giovanni Morello (2005-2006).[88]
A encomenda era a execução de pinturas com a ajuda dos imãos
Ambrogio e Evangelista de Predis, para um grande e complexo altar, já construído anteriormente por Giacomo da Maiano.
[17] [41]Leonardo, encarregado do painel central, escolheu pintar um enfático momento da
infância de
Cristo, quando o pequeno
João Baptista, com a proteção do
anjo Uriel, conheceu a
Sagrada Família numa gruta do
Egito, cena da
tradição cristã dos
livros apócrifos e de uma
Florença deixada para trás, de numerosas lendas sobre
São João Batista.
[89] [90] Neste cenário rochoso que evoca a um passeio de infância do artista ao Monte Ceceri (próximo do território
florentino),
[54] João reconhece e adora
Jesus como o
Cristo. A pintura mostra uma misteriosa beleza como as graciosas figuras ajoelhadas em adoração em torno do Menino Jesus, em uma paisagem selvagem de queda de rochas e um vale de águas azuis, e coincide com a abandonada
Adoração dos Magos devido ao seu naturalismo e contraste de luz e sombra (
chiaroscuro),
[54] aqui distintamente visível. A pintura solenemente declara a riqueza do conhecimento
estilístico do traje e da sua representação, a julgar pela concepção notável do vestuário de
Uriel (que compete com a simples túnica enegrecida azul da Virgem), impressa numa figura sóbria e imponente, que perde lugar na segunda versão onde assume outra pose, desta feita mais singela, cedente a uma nova Virgem vestida de um manto de azul brilhante, suavizando o cenário áspero
[54] e contrastando com a representação da primeira versão. Apesar das avantajadas medidas, cerca de 200 por 120 cm (a segunda versão existente cerca de 190 por 120 cm), a pintura da Virgem nas Pedras não é tão complexa quanto a encomenda dos
monges de São Donato, constando em cena somente quatro figuras em vez de cerca de cinquenta — cuja forma conjunta completa uma
pirâmide triangular — numa paisagem rochosa, em vez de detalhes arquitetônicos. Eventualmente, a pintura foi acabada. De fato, duas versões desta pintura foram feitas, uma entregue a Confraria religiosa e a outra levada para a
França pelo próprio Leonardo.
[18] [25]
Acredita-se que a versão do
Louvre seja a primeira das versões, pintada entre 1483–1486, ou mais cedo.
[91] A segunda versão, pertencente a
National Gallery desde 1880, foi vendida pela igreja em 1781, e,certamente, em 1785 tornou-se posse de Gavin Hamilton, que a levou para a
Inglaterra, onde passou por várias coleções.
[91] Nesta versão é provável a participação de outros artistas como
Ambrogio de Pedris, e, de certo modo, mesmo tratando-se de uma pintura mais madura, seu naturalismo perde lugar para um idealismo muito maior do que o da versão anterior.
[54]
Atualmente, existe a especulação de uma outra versão
[87] (
Versão Cheramy), em que Leonardo tenha participado, cronologicamente anterior a versão de
Londres.
Arquitetura militar
Durante seu período em Milão com Ludovico Sforza, Leonardo projetou vários prédios com armas de guerra e reforços. Sua habilidade para arquitetura militar contribuiu para sua fama entre os Sforza.
Entre seus mais formidáveis projetos militares está uma escada para uso numa torre fortificada. O projeto incluía quatro rampas independentes de outras. Assim, os soldados podiam subir e descer de 4 andares sem esbarrar em grupos de soldados que iam em direção contrária.
Em 1502, Leonardo projetou um fosso interessante. Ele escondeu uma torre cilíndrica debaixo d'água com um teto levemente inclinado que saía um pouco da superfície da água. Os defensores que estivessem dentro da torre poderiam disparar suas armas através da superfície da água. Feno molhado cobria o teto da torre contra os danos causados pelos disparos.
Leonardo projetou também um castelo com sistema triplo de segurança. Um dos cantos dessa construção tinha duas fortificações: a primeira estendia-se até o canto do forte e a outra estendia-se sobre parte da parede externa.
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Encargos na Corte
Entre 1487 e 1490, Leonardo assume uma posição de destaque na
corte milanesa. O seu trabalho não se resumia a pintar, e entre outras coisas, também era responsável pela organização de festividades, trabalho que intimamente não o contentava;
[13] trabalhou vários anos na realização de uma
estátua equestre para o antecessor de Ludovico,
Francesco Sforza, que nunca concluiu e na edificação de estruturas defensivas, como arquiteto militar do duque. Leonardo também participou da decoração de quartos e apartamentos da corte (sendo somente parte da
Salla delle Asse trabalhada por volta de 1498, o que restou deste encargo), e na decoração do refeitório dos padres dominicanos de
Santa Maria delle Grazie (1495–1498).
[17]
É nesta época de grandes feitos que inúmeros retratos de mulheres intimamente ligadas ao seu patrono são realizados, entre eles o retrato de uma jovem muito admirada na corte, cujo resultado seria uma mistura da linguagem iconográfica de
Ginevra de' Benci e o naturalismo da
Virgem dos Rochedos.
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O mais belo desenho do mundo.
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Retrato de Cecília Gallerani,Dama com Arminho. É possível notar, na ponta dos dois dedos inferiores, retoques grosseiros, assim como na região esquerda do modelo, efeito de restaurações posteriores.[54]
Entre as suas obras acabadas ocupa uma posição de destaque um retrato de uma senhora da
aristocracia, que segura nas mãos um arminho: o retrato de Cecília Gallerani, mundialmente conhecido como
Dama com Arminho. Pintado por volta de 1488, o quadro concentra todas as inovações de Leonardo na época: a representação do rosto virado em uma posição de três-quartos, o gesto da mão,
[nb 32] a definição da forma pela luz e
a representação do movimento interrompido[92] visando uma estrutura helicoidal.
[54] Cecília parece reagir à presença de alguém fora da pintura, em um movimento de giros de cabeça e tronco, o arminho de tamanho um tanto exagerado, repete-lhe o gesto, a mão curvada elegantemente corresponde, por sua vez, ao movimento do animal, criando um sintonia entre modelo e o arminho.
De fato, a
linguagem iconográfica utilizada por Leonardo nesta obra — que nos remete a uma pintura de sua fase inicial, a
Ginevra de' Benci—, fez com que permanecessem vários mistérios em relação ao simbolismo do arminho. Acredita-se que o
arminho é uma alusão ao apelido da jovem aristocrata,
[54] visto que o som de «Gallerani» é remanescente da acepção grega para arminho, "galée". Noutra vertente, o animal é considerado um sinal de pureza, pois, acreditava-se, o arminho preferia morrer em uma caçada, do que se refugiar em alguma toca, para não sujar seu manto branco.
[17] [93] Porém, a razão mais provável é a terceira, ou seja, a alusão a Ludovico Sforza.
[54] A jovem era a amante de eleição de Ludovico e, a partir de meados de 1488, este começou a usar o arminho como um dos seus emblemas. Assim Ludovico, sob a simbólica forma de animal, surge no regaço da jovem, bem penteado e acariciado pelas mãos da sua amante. Existem provas documentais de que o quadro pertenceu a retratada.
Obras da década de 1490
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Retrato de Mulher de Perfil | La Bella Principessa |
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O
Retrato de Mulher de Perfil (c. 1493–1495), trata-se do retrato da esposa de Ludovico Sforza, Beatriz d'Este. Pintado, provavelmente, por
Ambrogio de Pedris, com a qualidade do traço da cabeça da retratada sugerindo, segundo Martin Kemp, professor emérito de pesquisa em
história da arte na
Universidade de Oxford, que Leonardo tenha participado da pintura, se responsabilizando pelas bases do desenho.
[17] A atribuição é reforçada de forma recíproca com a atribuição de um quadro a que, inicialmente, foi dada origem alemã, do
século XIX, mas que foi, em 2009, atribuído a Leonardo.
[94] Trata-se de um retrato de mulher igualmente de perfil e com características semelhantes ao retrato de Cecília Gallerani, que foi identificado graças a uma
impressão digital e análises científicas. Inicialmente denominado
Mulher de Perfil com Vestido da Renascença, foi renomeado de
La Bella Principessa por Kemp, que identificou a retratada como Bianca Sforza, filha de
Ludovico Sforza e sua amante Bernardina de Corradis. Os membros da família Sforza sempre foram retratados em perfil, em contraste com as amantes de Ludovico que não eram.
Por volta deste período datam-se mais dois retratos atribuídos ao artista, o inacabado
Retrato de um Músico, seu único retrato pictórico masculino e
La Belle Ferronière, retrato de Lucrezia Crivelli, amante de Ludovico, encerrando um ciclo de retratos femininos na corte milanesa.
Há uma referência documentada de uma encomenda, possivelmente do duque Ludovico Sforza, presente em uma lista que instruía um de seus funcionários, Marchesino Stanga, com tarefas que lhe exigiam atenção. Uma das tarefas era que
Apresse Leonardo, o florentino, a terminar o trabalho no refeitório delle Grazie, que ele começou, para que se ocupe em seguida do outro salão do refeitório delle Grazie; e que os contratos que ele assinou com sua mão sejam cumpridos, pois o obrigam a terminar o trabalho dentro do tempo que será combinado com ele — Ludovico Sforza
[17]
| As mãos e os braços, em todas as suas ações, devem exibir a intenção da mente que os move, até quando for possível, porque, por meio deles, quem tiver um bom julgamento mostrará intenções mentais em todos os seus movimentos. |
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A pintura mais famosa de Leonardo, da
década de 1490, é
A Última Ceia (1495–1498), pintada no refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie em
Milão. É uma obra fundamental da
história da Arte. A pintura apresenta a
Última Ceia, partilhada por
Jesus com seus
discípulos, antes de sua captura e execução. Mostra o momento específico em que Jesus, de acordo com o relato
bíblico, teria dito aos apóstolos que um deles o trairia. Leonardo mostra a consternação que esta afirmação provocou entre os doze seguidores de Jesus.
[25] O
romancista Matteo Bandello observou Leonardo trabalhando na obra, e escreveu que
Por diversas ocasiões, presenciei Leonardo dirigir-se logo pela manhã para se dedicar à pintura de A Última Ceia. Costumava permanecer ali, desde o nascer do sol até o entardecer, sem deixar os pincéis descansarem de suas mãos, pintando sempre, sem comer nem beber. Depois, por três ou quatro dias, não voltava a tocar no trabalho" — Matteo Bandello
[54]
Isto, de acordo com Vasari, estava além da compreensão do
prior, que o atormentou até que Leonardo pedisse a intervenção de Ludovico. Vasari descreve como Leonardo, atormentado com a dúvida de sua capacidade de retratar os rostos de Cristo e do traidor Judas, disse ao duque que seria obrigado a usar o próprio prior como seu modelo.
[23][nb 33]
Quando terminada, a pintura foi aclamada como uma obra-prima do desenho e da caracterização,
[23] porém rapidamente deteriorou-se, a tal ponto que, cem anos depois de seu término, a obra foi descrita por um observador seu como "completamente arruinada".
[18] Leonardo, em vez de usar a técnica mais confiável do
afresco, utilizou-se da
têmpera sobre uma superfície feita basicamente de
gesso — o que resultou num material sujeito ao
mofo e a esfarelar-se.
[18] Apesar disso, a pintura continua a ser uma das obras de arte mais reproduzidas de todos os tempos, e incontáveis cópias suas são feitas corriqueiramente, das maneiras mais variadas — de
tapetes a
camafeus.
Leonardo pintou A Última Ceia, um incrível trabalho, o mais sereno e distante do mundo temporal, durante anos caracterizado por conflitos armados, intrigas, preocupações e emergências. Ele a declarou como concluída, embora eternamente insatisfeito, e continuou trabalhando nela. Foi exposta a vista de todos e contemplada por muitos. Desde então ele foi considerado sem discussão como um dos primeiros mestres da Itália, senão o primeiro. Os artistas vinham de muito longe, para, no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, analisar cuidadosamente a pintura, copiando-a e discutindo-a. O rei da França, ao chegar em Milão, acariciou a ideia impossível de remover o afresco da parede para levar para o seu país. Durante a sua realização muitas lendas foram tecidas em torno do mestre e seu trabalho. Os relatos de Bandello e Giraldi, dedicados a temas radicalmente diferentes, incluíram também a gênese de A Última Ceia.[29] [95] [96] [97]
Explode em Milão a Segunda Guerra Italiana (1499–1504), e
Ludovico Sforza é deposto. Após a destruição de seu modelo em argila para o
Gran Cavallo pelas tropas francesas, Leonardo sente-se fortemente motivado a abandonar a cidade. Acompanhado de Salai e seu amigo
Luca Pacioli parte, passando por
Mântua e depois
Veneza, sendo aí empregado como engenheiro e
arquiteto militar, e, no ano seguinte, vai para
Florença.
[18] [20]
Obras da década de 1500
Retorno a Florença, 1500–1506
Em
Florença estão documentadas uma ou duas pequenas pinturas da Virgem com o Menino, trabalhadas por Leonardo e seu ateliê, por volta de 1501
[17] em uma carta de Pietro da Novellara para
Isabella d'Este,
a grande dama do Renascimento protetora das artes em
Mântua.
[54] [98] A pintura da
Virgem do Fuso — como no caso da
Virgem dos Rochedos com mais de uma versão —, destinava-se ao secretário de Estado francês Florimond Robertet, sendo-lhe entregue, provavelmente, uma de suas versões em 1507, em Blois.
[99]
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Que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da tua morte, ele permaneça.
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Virgem do Fuso Duas versões atribuídas ao ateliê de Leonardo como cópias de um original perdido, ou instrucionadas pelo mestre. |
A
Virgem do Fuso retrata uma cena de um forte vínculo entre mãe e filho — um amor maternal que se repetiria em pinturas como
A Virgem e o Menino com Santa Ana —, o que leva a crer que a pintura fosse destinada a devoção privada.
[99] O nome da obra baseia-se no fuso de significado ambíguo presente na pintura.
Ao longo dos tempos, vários críticos têm atribuído diversas interpretações ao fuso, mas o mais certo é mesmo que represente uma cruz, mas simplesmente, de forma simbólica.
De fato, a enorme inteligência e criatividade de Leonardo permitiam-lhe tratar todos os assuntos que lhe provocavam algum interesse recorrendo a símbolos. Caso queira representar uma cruz, especialistas apontam duas hipóteses, sendo a mais provável a segunda. Muitos creem, baseando-se nas cópias existentes, que o Menino mira o fuso (simbolicamente, a cruz) com uma devoção perplexa, reforçada pela expressão do seu olhar, que parece agradado com o objeto que tem em mãos. No entanto, em segunda hipótese está a ideia de que o Menino brinca com o fuso com alegria, o que seria considerado uma heresia na altura em que foi pintada, caso este represente uma cruz. A imagem de Jesus brincando com a cruz não seria aceita pela conservadora sociedade, e menos ainda pela Igreja e pelo
Tribunal Inquisidor, o que reforçaria os fins de devoção privada.
Atualmente, existem duas versões associadas a Leonardo,
[99] mas as atribuições não são unânimes. É provável que as pinturas sejam cópias do original de Leonardo, de autoria dos pupilos do artista, com ou sem o auxílio do mestre.
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Imagem culminante da poética de da Vinci
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Mona Lisa (1503–1507 — Louvre) é o retrato que mais tem rendido, em termos de literatura — tem dado origem a contos, romances, poemas e até mesmo óperas (e paródia) desde seu tempo, como a Monna Vanna de Salai — em toda a história da arte. Foi uma obra famosa desde o momento da sua criação; e inspirou muitos, como o jovemRafael, que se embebedou nela. Seu sorriso sutil é visto em sua crueldade e tem sido considerado o implacável sorriso de mulher que escraviza os homens. Outros foram deslumbrados pelo seu encanto, pela sua doçura. Para o crítico Walter Pater, simboliza o "espírito moderno com todos os seus traços patogênicos",[96] considerando como a "beleza extraída desde o interior, trabalhando a carne, célula por célula".[54] Provocado pelo mestre no modelo com o toque do alaúde,[100]como citado por Vasari: "Mona Lisa era muito bela e Leonardo, ao mesmo tempo que a pintava, procurava que tivesse alguém cantando, tocando algum instrumento ou brincando. Desta forma, o modelo foi mantido em um bom humor e não adotava um aspecto triste, cansado [...]".[23]
Entre as obras realizadas por Leonardo na década de 1500 está um pequeno retrato, conhecido como
Mona Lisa ou
La Gioconda, "a risonha". A pintura é famosa principalmente pelo sorriso elusivo no rosto da retratada, e pela qualidade misteriosa, possivelmente provocada pelo fato de que o artista sombreou sutilmente os cantos de sua boca e olhos, para que a natureza exata do sorriso não pudesse ser determinada. Este sombreado peculiar, pelo qual a obra é conhecida, veio a ser chamado de
sfumato("esfumaçado"). Vasari, que se acredita ter conhecido a pintura apenas pela sua reputação, disse que o seu "
sorriso era tão agradável que parecia ser divino, em vez de humano; e aqueles que o viram ficaram espantados ao descobrir que ele parecia tão vivo quanto o original".
[23] [nb 34]
Outra característica observada nesta obra é o vestido sem adornos (uma maneira de evitar que o espectador não tenha a sua atenção desviada dos olhos e das mãos da retratada), o cenário de fundo, dramático, no qual o mundo parece estar no estado de fluxo contínuo, com uma coloração controlada, e a natureza extremamente suave da técnica de pintura, que emprega
tintas a óleoaplicadas como se fossem
têmpera, e misturadas de tal maneira na superfície que as pinceladas não podem ser percebidas.
[nb 35]Vasari expressou a opinião de que a maneira com que Leonardo fez a pintura faria mesmo "
o mais confiante dos mestres (…)
desesperar-se e desanimar."
[23] O estado perfeito de conservação em que a pintura se encontra, e o fato de que não existem outros sinais de reparos relevantes ou pinturas sobrepostas é extremamente raro numa pintura desta idade.
[18]
A identidade do modelo é motivo de controvérsias, acredita-se que seja Lisa del Giocondo (Lisa Gherardini), mulher de um comerciante florentino,
Francesco del Giocondo, com base em notas escritas de Agostino Vespucci de 1503 em um livro impresso de Cícero, de 1477 (parte do acervo de livros datados da primeira fase da imprensa), encontradas na Biblioteca da Universidade de Heidelberg, confirmando a afirmação de Vasari, que identificou a pintura como "
Monalisa" em sua publicação em 1550, em referência à Lisa del Giocondo. Descobriu-se também que Lisa tinha sido mãe recentemente, e o retrato foi realizado possivelmente em comemoração da recente maternidade.
[102] [103] Esta teoria é reforçada pela descoberta de um fino véu negro — utilizado pelas aristocratas toscanas durante, e alguns meses após a gestação —, durante pesquisas do Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus da França (C2RMF) e o Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá (NRC), quando a pintura foi submetida ao exame em infravermelho.
[104]
Lillian Schwartz, cientista dos Laboratórios Bell, sugere que a Mona Lisa é, na verdade, um autorretrato de Leonardo, porém, vestido de mulher. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto de Leonardo e os traços do modelo. Comparando um autorretrato de Leonardo com a mulher do quadro, verifica-se que as características dos rostos alinham-se perfeitamente. Essa hipótese ganha ênfase em
O Código da Vinci,
best-seller de
Dan Brown.
O quadro está exposto no Museu do Louvre desde 1804 e é a maior atração dos seis milhões de visitantes anuais do museu
[105] .
Em 1506, o então governador francês do
ducado de Milão, Charles d'Amboise, solicitou ao governo de
Florença a permissão para a viagem de Leonardo a Milão, para resolver o problema de trabalhos pendentes. A permissão concedida era de três meses, entretanto, o artista acabou permanecendo na cidade mais tempo do que o previsto.
[54]
Retorno a Milão, 1506–1513
Não se sabe ao certo a natureza da origem do trabalho inacabado, é sugerido tratar-se da
Virgem dos Rochedos versão de
Londres, em que, em uma sentença judicial datada de 27 de abril, era cobrada a finalização da pintura à Leonardo e
Ambrogio de Pedris.
[54] Possivelmente, a pintura inicial tratava de uma cena de adoração ao Menino
Jesus, já que exames em infravermelho realizados em 2005 revelaram uma pintura diferente oculta, por baixo da versão visível,
[106] entretanto, Leonardo retomou a composição da anterior
Virgem dos Rochedos de 1483, com leves alterações, e figuras maiores e mais monumentais do que a versão anterior. O fator da execução da mesma pintura é alvo de controvérsias, mas sabe-se que a versão de
Londres foi a entregue, de fato, a confraria, mesmo provavelmente, ainda inacabada, e a anterior ficou em mãos de Leonardo.
Leonardo teve uma estranha carreira, de não cumprimento de prazos, de encomendas inconcluídas ou mesmo jamais entregues, o que resultava em clientes insatisfeitos e frequentes cobranças.
[4] [17] Destes trabalhos inacabados, parece existir um importante que retoma as posições oblíquas de pinturas anteriores como
São Jerônimo no Deserto, e cuja origem não é necessariamente de uma encomenda.
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Faça sempre suas figuras de tal modo que o tronco não esteja orientado na mesma direção da cabeça. Deixe o movimento da cabeça e dos braços ser suave e agradável, valendo-se de diferentes giros e torções.
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Nessa nova pintura, a coroação dos muitos desenhos e esboços do tema,
[17] abordado pelo artista em diversas ocasiões como em
A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista,
[54] Leonardo emprega novamente o sutil efeito do
sfumato. A pintura retrata a
Virgem Maria(cujo manto parece evocar a igualmente oblíqua
Virgem Benois, uma de suas primeiras
Madonas), seu filho
Jesus e sua mãe
Santa Ana, avó de Jesus, em uma cena privada e intimista. O que faz esta pintura incomum é que há duas figuras posicionadas obliquamente, sobrepostas. Maria está sentada no joelho de sua mãe, Santa Ana. Ela se inclina para frente para segurar o menino Jesus que brinca (um tanto grosseiramente) com um cordeiro, sinal de seu próprio e vindouro sacrifício.
[25] Essa pintura copiada muitas vezes, foi influência para
Michelangelo,
Rafael e
Andrea del Sarto,
[18] e através deles
Pontormo e
Correggio. Na composição, Leonardo mostra novidades que serão adotadas principalmente pelos pintores venezianos
Tintoretto e
Veronese.
Essa pintura assim como
Mona Lisa acompanharia Leonardo desde então, entretanto devido a problemas, ficou por concluir.
Últimas obras
Em 1512,
Massimiliano Sforza, filho de Ludovico toma posse do ducado de Milão, após a expulsão das tropas francesas de Luís XII, e Leonardo viu-se sem patrono. Em 1513, o filho de Lourenço
il Magnifico, Juliano de Médici, o então chefe do estado de
Florença, fez um convite para Leonardo viajar a
Roma, que estava sobre o controle do seu irmão mais velho,
Giovanni (João), agora
Papa Leão X.
[13]
Em Roma, 1513–1516
|
Os Médici me fizeram, e os Médici me destruíram
|
— Leonardo da Vinci
|
Em 1513, Leonardo está hospedado no Palácio do Belvedere, no
Vaticano, onde residiria até 1516, época em que seu rival
Michelangeloe
Rafael eram ativos em
Roma.
[13] [18] Leonardo então sente-se envolvido em crescentes problemas resultantes de seu afastamento da corte — incluindo intrigas com
Michelangelo —, e depois é acusado e punido pelo papado devido aos seus estudos anatômicos, sendo proibido de continuar seus estudos por possíveis irregularidades sacrílegas, sendo que de seu patrono, Juliano, não houve nenhuma intervenção.
[13] Suas últimas pinturas datam deste período em que o avanço de um problema de articulação em uma das mãos o faz aos poucos perder as forças, sendo que após esse período não pinta mais.
[2] Suas últimas pinturas são
São João Batista em que novamente emprega o sutil efeito do
Sfumato,
Leda e o Cisne seu único nu, hoje perdido, e devido a fraqueza de sua mão, estava incapaz de dar continuidade a
Virgem e o Menino com Santa Ana, que leva consigo, juntamente de outras pinturas como
Mona Lisa para a
França em 1516, onde viveria seus últimos anos acompanhado de Salai e
Francesco Melzi, seu pupilo preferido.
Leonardo o observador, cientista e inventor
| Ele foi um homem que acordou cedo demais na escuridão, enquanto os outros continuavam a dormir. |
|
Introdução
Estudos de embriões (1510–1513) nos quais retrata imagens impossíveis de se ver na época, mas completamente atuais.
O
humanismo renascentista não via polaridades mutuamente exclusivas entre as ciências e as artes, sendo os estudos de Leonardo, em ciências e engenharia, tão impressionantes e inovadores como o seu trabalho artístico, gravados em cadernos compostos por cerca de 13 000 páginas de notas e
desenhos que fundem arte e filosofia natural (precursora da ciência moderna). Estas notas foram feitas e mantidas cotidianamente durante toda a vida de Leonardo e suas viagens, como ele fez em suas observações contínuas do mundo ao seu redor.
[25]
Os cadernos são, em sua maioria, escritos de forma invertida (da direita para a esquerda). A razão pode ter sido mais uma oportunidade prática, do que por razões de sigilo como muitas vezes é sugerido. Sendo Leonardo provavelmente
canhoto, é possível que lhe era mais fácil escrever da direita para a esquerda.
[80]
Suas anotações e desenhos mostram uma enorme gama de interesses e preocupações, algumas tão banais como as listas de compras e as pessoas que lhe deviam dinheiro, e outras tão intrigantes como desenhos de asas e sapatos para caminhar sobre a água. Há composições de pinturas, estudos de detalhes e planejamentos, estudos de rostos e gestos, de animais, bebês, dissecações, estudo de plantas, formações rochosas, piscinas de hidromassagem, máquinas de guerra,
helicópteros e
arquitetura.
[25]
Essas páginas de cadernos originalmente soltas, de diferentes tamanhos, distribuídas após sua morte, encontraram caminho em coleções importantes, como a Royal Library do
Castelo de Windsor, o
Museu do Louvre, a
Biblioteca Nacional da Espanha, o
Museu Vitória e Alberto, a
Biblioteca Ambrosiana de
Milão, que detém os doze volumes
Codex Atlanticus, e a
Biblioteca Britânica em
Londres, que disponibilizou de forma on-line uma seleção a partir do seu caderno
BL Arundel MS 263.
[108] O
Codex Leicester é a única grande obra científica de Leonardo em mãos privadas. É propriedade de
Bill Gates e é exibido uma vez por ano em diferentes cidades pelo mundo.
[109]
Os estudos de Leonardo parecem ter sido destinados à publicação, porque muitas das folhas têm uma forma e ordem que facilitam a mesma. Em muitos casos, um único tópico, por exemplo, o coração ou o feto humano, é abordado em detalhes em palavras e imagens, em uma única folha.
[110] O motivo de eles não terem sido publicados durante a vida de Leonardo é desconhecido.
[25]
Estudos científicos
Homem Vitruviano
Datado do ano 1490, um estudo das proporções humanas baseado no tratado recém-redescoberto do arquiteto romano Vitrúvio. Leonardo debruçou-se sobre o que foi chamado o Homem Vitruviano, o que acabou se tornando um dos seus trabalhos mais famosos e um símbolo do espírito renascentista. O desenho reproduz a anatomia humana conduzindo eventualmente ao desígnio do primeiro robô conhecido na história que veio a ser chamado de O Robô de Leonardo.
|
Leonardo tentou entender os fenômenos e descrevendo em detalhe extremo, e não enfatizou experiências ou explicações teóricas. Ao longo de sua vida, planejou uma
enciclopédia baseado em desenhos detalhados de tudo. Como não dominava o
latim e a
matemática, o
Leonardo da Vinci cientista era ignorado pelos estudiosos contemporâneos, como evoca sua famosa frase
uomo senza lettere, em que claramente se refere a tais limitações. Na década de 1490, estudou matemática com seu amigo, o matemático
Luca Pacioli e preparou uma série de gravuras — incluindo o
Homem Vitruviano — para ilustrar o livro de Pacioli,
De Divina Proportioni, publicado em 1509.
[25]
Parece que a partir do conteúdo de seus diários estava planejando uma série de tratados que seriam publicados em uma variedade de assuntos. Um tratado coerente sobre a
anatomia foi dito ter sido observado durante a visita do cardeal secretário Louis D'Aragon, em 1517.
[111] Aspectos do seu trabalho sobre os estudos de anatomia, luz e de paisagem foram montados para a publicação por seu pupilo
Francesco Melzi e, finalmente publicado como
Trattato della Pittura de Leonardo da Vinci, postumamente na
França e na
Itália em 1651, e na
Alemanha em 1724,
[112] com gravuras baseadas em desenhos do pintor
clássico Nicolas Poussin. Segundo Arasse, o tratado, que na França foi publicado em sessenta e duas edições em cinquenta anos, ocasionou que Leonardo fosse visto como
o precursor do pensamento acadêmico francês sobre a arte.
[25]
Uma análise recente e exaustiva de Leonardo como cientista por Frtijof Capra
[113] defende que Leonardo era um tipo fundamentalmente diferente de cientistas como
Galileu,
Newton e outros cientistas que o seguiram. Sua experimentação seguiu claro, abordagens com métodos científicos, e juntamente a sua teorização e hipotética voltada às artes, particularmente na pintura, o fizeram um Leonardo único e integrado, em que pontos de vista holísticos da ciência, fazem dele um precursor dos modernos sistemas teóricos e complexas escolas de pensamento.
Estudo de ossos do braço (c. 1510)
Anatomia
A formação de Leonardo da
anatomia do corpo humano iniciou-se com o seu aprendizado no ateliê de
Andrea del Verrocchio, seu mestre insistia que todos os alunos deviam aprender anatomia. Como artista, ele rapidamente se tornou mestre da anatomia topográfica, realizando muitos estudos de
músculos, tendões e outras características anatômicas visíveis.
Como um artista de sucesso, ele recebeu a permissão para dissecar cadáveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova, em
Florença e mais tarde no hospital de Milão e
Roma. Entre 1510 e 1511, colaborou em seus estudos o médico Marcantonio della Torre, e juntos elaboraram um trabalho teórico sobre a anatomia, em que Leonardo fez mais de 200 desenhos. Foi publicado apenas em 1680 (161 anos após sua morte), integrando o
Trattato della Pittura.
[25] [62]
Leonardo desenhou muitos estudos sobre o esqueleto humano e suas partes, bem como os
músculos e nervos, o
coração e o
sistema vascular, os órgãos sexuais, e outros órgãos internos. Ele fez um dos primeiros desenhos científicos de um feto no útero.
[62] Como artista, Leonardo observou e registrou cuidadosamente os efeitos da idade e da emoção humana sobre a
fisiologia, estudando em particular os efeitos da raiva. Ele também desenhou muitas figuras importantes que tinham deformidades faciais ou sinais de doença.
[25][62]
Ele também estudou e desenhou a anatomia de animais diversos, bem como, dissecando vacas, aves, macacos, ursos e rãs, e comparava seus desenhos em sua estrutura anatômica com o dos seres humanos. Ele também fez uma série de estudos de cavalos.
Engenharia e invenções
Modelos de máquinas voadoras planejados por Leonardo
Durante sua vida, Leonardo era valorizado como um engenheiro. Em uma carta a
Ludovico Sforza, o
duque de Milão, afirmou ser capaz de criar todos os tipos de máquinas, tanto para a proteção de uma cidade, quanto para o cerco. Quando ele fugiu para
Veneza em 1499, encontrou emprego como engenheiro e
arquiteto militar e concebeu um sistema de barricadas móveis para proteger a cidade de um ataque naval. Ele também tinha um esquema para desviar o fluxo do
rio Arno, um projeto no qual também trabalhou
Nicolau Maquiavel.
[114] [115] Os cadernos de Leonardo incluem um vasto número de invenções, alguns de possível construção, outros impossíveis. Eles incluem instrumentos
musicais, bombas hidráulicas, canhões, entre outros.
[20] [25]
Em 1502, Leonardo da Vinci produziu um desenho de uma ponte como parte de um projeto de engenharia civil para o sultão
Bayezid IIde
Istambul. Nunca foi construída, mas a visão de Leonardo foi ressuscitada em 2001 quando uma ponte menor, baseada no projeto dele, foi construída na
Noruega.
[116] Em 17 de maio de 2006, o governo turco decidiu construir a ponte de Leonardo para medir o
Corno de Ouro.
[117]
Por maior parte de sua vida, Leonardo foi fascinado pelo fenômeno de voo, produzindo muitos estudos detalhados do voo dos
pássaros, incluindo o seu
Codex sobre o Voo dos Pássaros de 1505, bem como planos para várias máquinas voadoras,
[25] tentou aplicar seus estudos para os protótipos que desenhou, o primeiro batizado de
SWAN DI VOLO (
Cisne voador), segundo especialistas é de 1510, inclusive um
helicóptero movimentado por quatro homens, e um planador cuja viabilidade já foi provada.
[118]
Leonardo, o mito
Monumento dedicado a Leonardo da Vinci e seus pupilos na Piazza della Scala em Milão, obra de Pietro Magni.
Em vida, a fama de Leonardo foi tamanha que o rei da
França levou-o como um troféu, o mantendo na velhice, e o tinha preso nos braços quando morreu. O interesse por Leonardo nunca afrouxou. As multidões ainda fazem filas para ver suas obras mais famosas, seu desenho mais famoso, hoje é estampa de camisetas e escritores, como
Vasari, continuam a maravilhar-se com seu gênio e especular sobre sua vida privada e, particularmente, sobre o que uma pessoa tão inteligente realmente acreditava intimamente.
[25]
No curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci, um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que ele fez e que cultivou seu gênio tão brilhante que todos os problemas que estudou, ele resolveu facilmente.
A admiração por Leonardo continuou comandada a partir de pintores, críticos e historiadores, refletida em muitas outras homenagens escritas.
Baldassare Castiglione, autor de
Il Cortegiano ("O Cortesão"), escreveu em 1528:
(...) Outro dos maiores pintores nesse mundo olha para baixo sobre esta arte em que ele é inigualável (...),
[120] enquanto o biógrafo conhecido como "Anônimo Gaddiano", escreve em 1540:
Seu gênio era tão raro e universal, que pode-se dizer que a natureza fez um milagre em seu nome (...).
[121]
O
século XIX trouxe uma admiração especial pelo gênio de Leonardo, fazendo com que
Henry Fuseli escrevesse em 1801:
Tal foi o alvorecer da arte moderna, quando Leonardo da Vinci quebrou adiante com um esplendor que afastasse a excelência anterior: formada por todos os elementos que constituem a essência do gênio (...)[122] Isto é ecoado por A. E. Rio, que escreveu em 1861:
Ele elevou-se acima de todos os outros artistas com a força e a nobreza de seus talentos.[123]
Por volta do
século XIX, os cadernos de Leonardo já eram conhecidos, bem como suas pinturas.
Hippolyte Taine escreveu em 1866:
Não pode haver no mundo um exemplo de outro gênio tão universal, tão incapaz de cumprimento, tão cheio de desejo para o infinito, tão naturalmente refinado, tanto à frente do seu século, e os séculos seguintes.[124]
O famoso historiador de arte
Bernard Berenson escreveu em 1896:
Leonardo é o artista, um dos quais pode-se dizer perfeito literalmente: nada do que tocou se transformou, se não em uma coisa de beleza eterna. Quer seja a seção transversal de um crânio, a estrutura de uma erva daninha, ou um estudo de músculos, ele, com seu sentimento de linha e de luz e sombra, sempre transformou isso em vida, comunicando valores.[125]
O interesse pelo gênio de Leonardo continuou inabalável; especialistas estudam e traduzem seus escritos, analisam suas pinturas com técnicas científicas, discutem sobre atribuições e buscam por trabalhos que nunca foram encontrados.
[126] Liana Bortolon, escrevendo em 1967, disse:
Por causa da multiplicidade de interesses que lhe incentivou a buscar cada campo do conhecimento (...)
Leonardo pode ser considerado, muito justamente, ter sido um gênio universal por excelência, e com todas as implicações inerentes a esse inquietante termo. O homem é como um incômodo hoje, enfrentado como o gênio, como era no século XVI, cinco séculos se passaram, mas continuamos a ver Leonardo com temor.
[20]
Notas
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↑ Esse desenho em giz, é amplamente (embora não universalmente) aceito como um original autorretrato. A principal razão para a hesitação em aceitá-lo como um retrato de Leonardo é que o retrata, aparentemente, mais velho, com uma idade jamais alcançada por ele. Mas é possível que ele tenha desenhado a si mesmo deliberadamente idoso, especificamente para seu retrato como Platão em A Escola de Atenas, afresco de Rafael Sanzio.
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↑ Em meados do século XV, a Itália não era propriamente um país, sendo formada por pequenos reinos e cidades-Estado independentes, cada qual com o seu próprio soberano, moeda, leis e exércitos. Essas cidades se desenvolviam comercial e culturalmente, visando a ideia amplamente difundida pelos Médicis de tornarem-se centros culturais e exemplos, e, assim, alcançar a imortalidade.[2]
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↑ Existem 15 obras de arte significativas que são creditadas, tanto inteira, como parcialmente, a Leonardo pela maioria dos historiadores da arte. Este número é formado, principalmente, por pinturas realizadas sobre madeira, mas, também incluem um mural, um desenho grande feito em papel e duas obras que estavam em estágios iniciais de seu preparo. Existem diversas outras obras que lhe foram atribuídas, sem a unanimidade dos acadêmicos.
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↑ Segundo o crítico de arte britânico, Jonathan Jones, antigo juiz do Prêmio Turner, autoridades florentinas teriam ocasionado uma competição entre Leonardo e Michelangelo, evento que, segundo ele, é de conhecimento dos historiadores, embora pouco discutido. Em seu livro The Lost Batles: Leonardo, Michelangelo and the artistic duel that defined renaissance discute como uma possível competição se desenrolou em torno dos afrescos de A Batalha de Anghiari e A Batalha de Cascina, de Leonardo e Michelangelo, respectivamente, e, apesar de ambos ficarem inconclusos, como Michelangelo teria ganhado a competição em 1506 lhe garantindo uma reputação — o que mais tarde poderia ter resultado na sua participação na Capela Sistina. O autor acredita que a história tenha compensado a derrota de Leonardo, o que foi muito reforçado noséculo XIX, com a redescoberta de seus cadernos e junto sua genialidade.[8]
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↑ Técnicas científicas modernas como a metalurgia e a engenharia ainda estavam em sua infância durante o Renascimento,
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↑ Diversas das invenções mais práticas de Leonardo são exibidas como modelos de trabalho no Museu de Vinci.
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↑ A terceira hora da noite era 10:30 pm, três horas depois da recitação da oração da Ave Maria.[14]
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↑ No chamado tempo italiano a primeira hora iniciava com o pôr-do-sol; as horas eram numeradas de 1 a 24. Essa forma de contar as horas possuía a vantagem de mostrar facilmente quantas horas ainda restavam sem a necessidade do uso de luz artificial. Foi introduzida na Itália durante o século XIV e foi de uso comum até o meio do século XVIII, ou mesmo até o meio do século XIX em algumas regiões.
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↑ De acordo com Alessandro Vezzosi, diretor do Museu Leonardo, em Vinci, existem provas de que Piero seria proprietário de uma escrava do Oriente Médio chamada Caterina, e que lhe teria dado um filho chamado Leonardo. A afirmação de que Leonardo teria sangue do Oriente Médio foi corroborada pela reconstrução de uma de suasimpressões digitais, como relatada por Marta Falconi, jornalista da Associated Press,"Experts Reconstruct Leonardo Fingerprint", Fox News, 12 de dezembro de 2001.
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↑ Algo como "senhor" ou "seu".
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↑ Este possível acontecimento da criação exclusiva de Leonardo por Caterina no início de sua infância é a base de estudos como o ensaio sobre Leonardo da Vinci realizado porSigmund Freud, em que afirma que Leonardo era homossexual.[13]
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↑ Que Leonardo teria se juntado à guilda até mesmo antes deste período pode ser deduzido de registros de pagamentos feitos à Compagnia di San Luca no livro de registros da companhia, o Libro Rosso A, 1472–1520 (Accademia di Belle Arti).[18]
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↑ Esta obra está atualmente na coleção dos Uffizi, Desenho n.º 8P.
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↑ Em 2005, o ateliê foi redescoberto durante as obras de restauração de um edifício ocupado por 100 anos pelo Departamento de Geografia Militar.[38]
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↑ As duas obras perderam-se com o tempo; a pintura de Michelangelo é conhecida apenas através de uma cópia de Aristotole da Sangallo, 1542.[39] A pintura de Leonardo é conhecida hoje em dia apenas por seus rascunhos preparatórios e por diversas cópias feitas da seção central — das quais a mais conhecida, e provavelmente a menos fiel à original, é a de Peter Paul Rubens.[18]
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↑ D'Oggione é conhecido em parte por suas cópias contemporâneas da Última Ceia.
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↑ Não se sabe para que ocasiões o leão mecânico teria sido construído, porém acredita-se que ele tenha sido usado para saudar o rei em sua entrada em Lyon, e talvez tenha sido usado também nas negociações de paz entre o rei francês e o papa, em Bolonha. Uma recriação do leão, a partir de especulações, foi feita e está em exibição no Museu de Bolonha.[44]
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↑ Clos Lucé, também conhecido como Cloux, é atualmente um museu público.
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↑ "Leonardo da Vinci, que mais posso dizer? Seu gênio divino e sua mão divina lhe mereceu expirar sobre o peito de um rei. A virtude e a fortuna velam, prêmio aos grandes gastos, neste monumento que lhe corresponde." — Vasari.
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↑ No dia da morte de Leonardo, um edito real foi proclamado em Saint-Germain-en-Laye, a dois dias de viagem de Clos Lucé; isto normalmente é tido como prova de que o rei Francisco estaria presente ao lado do leito de morte do artista. White, no entanto, indica em Leonardo: The First Scientist que o edito não foi assinado pelo próprio rei.
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↑ O historiador Edward McCurdy, citado no livro Jaulas Vazias, do filósofo e professor emérito Tom Regan, menciona: "a mera ideia de permitir o sofrimento desnecessário e, mais ainda, de matar, era abominável para ele". Segundo os relatos verificados por Regan, o inventor adotou uma dieta vegetariana na infância, por razão de evidentes éticas pessoais. Leonardo teria atacado a prática do consumo de carne com as seguintes palavras: "Rei dos animais — é como o humano descreve a si mesmo — eu te chamaria Rei das Bestas, sendo tu a maior de todas — porque as ajudas só para que elas te deem seus filhos, para o bem da tua goela, a qual transformaste num túmulo para todos os animais."
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↑ Um bom pintor tem dois principais objetos para pintar: o homem e a intenção de sua alma; o primeiro é fácil, o segundo é mais difícil, pois ele tem que representá-lo pelas atitudes e movimento dos membros. — Leonardo da Vinci.[54]
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↑ Descrição do vestuário de Bernardo di Baroncelli por Leonardo da Vinci: Uma pequena touca cor de bronze. Uma parelha de sarja preta. Um justilho preto, forrado, e o colarinho coberto com veludo pontilhado preto e vermelho. Um casaco azul forrado com peles de raposas. Mangas pretas. Bernardo di Baroncelli."[67]
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↑ A descoberta da perspectiva linear no século XV, facilitou aos artistas a representação de distâncias em superfícies planas; os ângulos como paredes seguem a linhas com um único ponto de convergência chamado de ponto de fuga,[69] obtendo-se assim, um sutil efeito tridimensional. Para pintores como Albrecht Dürer, exemplifica Nicolau Sevcenko, a expressão perspectiva significa "ver através", e complementa: essa impressão inédita de olhar-se para uma parede pintada e parecer que se vê para além dela, como se ali tivesse sido aberta uma janela para um outro espaço, o espaço pictórico, era o principal efeito buscado pelos novos artistas. A pintura tradicional, gótica ou bizantina, praticamente se restringia ao plano bidimensional das paredes, produzindo no máximo um efeito decorativo. O novo estilo artístico multiplicava o espaço dos interiores e, com a preocupação de dar às pessoas, objetos e paisagens retratados a aparência mais natural possível, parecia multiplicar a própria vida.[70]
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↑ Os ensaios escultóricos da década de 1470 eram principalmente executados em terracota, Leonardo os utilizava como modelo para suas obras pictóricas, isso explica o volume presente em algumas pinturas desse período, como a Virgem do Cravo.
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↑ Nossa Senhora das Neves.
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↑ "Homem sem estudos", é uma autodeclaração de Leonardo, utilizada possivelmente para designar suas próprias limitações ou interesses; sendo comparável ao "Só sei que nada sei" de Sócrates.
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↑ A Alta Renascença cronologicamente engloba os anos finais do Quattrocento e as primeiras décadas do Cinquecento, sendo delimitada aproximadamente pelas obras de maturidade de Leonardo da Vinci (a partir de c. 1480) e o Saque de Roma em 1527. É a fase de culminação do Renascimento, que se dissipa, mal é atingida, mas seu reconhecimento é importante porque aqui se cristalizam ideais que caracterizam todo o movimento renascentista: o humanismo, a noção de autonomia da arte, a emancipação do artista de sua condição de artesão e equiparação ao cientista e ao erudito, a busca pela fidelidade à natureza, e o conceito de gênio, tão perfeitamente encarnado em Da Vinci,Rafael e Michelangelo, e se a passagem da Idade Média para a Idade Moderna não estava ainda completa, pelo menos estava assegurada sem retorno possível. Eventos como a descoberta da América e a Reforma Protestante, e técnicas como a imprensa de tipos móveis, transformam a cultura e a visão de mundo dos europeus, ao mesmo tempo em que a atenção de toda a Europa se volta para a Itália e seus progressos e as grandes potências da França, Espanha e Alemanha desejam sua partilha, fazendo dela um campo de batalhas e pilhagens, e com isso espalhando sua arte e influência por uma vasta região do continente.[81] [82] [83]
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↑ Nesse período as pinturas de Da Vinci revelam um conhecimento e uma desenvoltura excepcionais na sua vertente anatómica, resultado dos seus imensos e incansáveis estudos no âmbito assunto e, por isso torna-se mestre nessa ciência.
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↑ Desde o abandono do retrato de perfil, pintores tornaram-se particularmente atentos aos gestos das mãos.
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↑ Leonardo buscava por rostos ideais para a caracterização de Jesus e o seu traidor.
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↑ Se Vasari viu ou não a Mona Lisa é motivo de controvérsias; a opinião de que ele nãoteria visto a pintura baseia-se principalmente no fato de que ele descreve a Mona Lisa comsobrancelhas. Daniel Arasse, em Leonardo da Vinci, discute a possibilidade de que Leonardo poderia ter pintado o retrato com sobrancelhas, e tê-las removido posteriormente (sobrancelhas estavam "fora de moda" em meados do século XVI).[25] A análise da pintura feita através de exames em aparelhos de alta resolução, por Pascal Cotte, revelou que a Mona Lisa, de fato, teve sobrancelhas e cílios, que foram removidos mais tarde.[101]
- Ir para cima
↑ Jack Wasserman menciona o "tratamento inimitável das superfícies" desta pintura.[41]
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci
https://www.youtube.com/watch?v=W2u_vZgNVUU