Apesar das definições mais
requintadas, de forma bem popular, poderíamos dizer que ser brasileiro é estar
junto e misturado desde sempre
Formalmente, ser brasileiro é estar ligado de forma
indissociável à República Federativa do Brasil. No entanto, como o nosso
povo não forma um grupo étnico homogêneo, também não há uma etnia brasileira.
Logo, não deveríamos ter preconceito racial. Contudo, não é o que acontece,
porque alguns ainda se sentem melhores que outros, por causa da cor da pele ou
da suposta origem que acreditam ter. Entre eles, a maioria se esquece que os
portugueses ou outros europeus que decidiram vir para cá também já tinham
sofrido miscigenação. Portanto, independente das regiões que ocupamos ou das
características físicas que possuímos, somos racialmente mistos, apesar da
alegada predominância da origem europeia, na qual estão inclusos até pessoas
que se autodefinem como pardas e negras.
O tema pode ser complexo, mas é essencial para a
criançada se posicionar em relação a sua própria origem. Porém, dá para
amenizá-lo com um toque musical. Para tanto, após a audição de Lourinha
Bombril, sucesso da banda Paralamas do Sucesso, composta por Los Pericos
(banda argentina) e Hebert Vianna. Faremos uma breve discussão sobre a letra
desta musica.
O começo de tudo Até o Brasil ser “descoberto” oficialmente, aqui só
existia várias tribos indígenas, cada qual com suas características, língua e
costumes próprios. Com a chegada dos portugueses e também dos holandeses, a
miscigenação entre brancos e índios foi inevitável. Surgiram, então, os
primeiros mestiços, que passaram a ser chamados de caboclos.
Logo depois, com a introdução dos escravos, a
miscigenação entre negros e índios deu origem aos cafuzos. Mas os negros também
se uniram aos europeus e, então, nasceram os mulatos. Depois, caboclos, cafuzos
e mulatos também se miscigenaram com os demais, propiciando o aparecimento do
mameluco. Se, até então, já havia características físicas distintas entre
índios, europeus, negros e os filhos que eles geraram, o espectro se ampliou
muito mais em decorrência das demais uniões inter-raciais.
Desde os primórdios, a beleza brasileira é resultante da miscigenação de vários grupos étnicos, entre os quais o branco (português, alemão, italiano, judeu etc.), o indígena, o africano e o pardo (composto por cafuzos, mamelucos e mulatos)
Até a arte já retratou essa miscigenação. O quadro Redenção
do Can, pintura a óleo do espanhol Modesto Brocos, executada em 1895, por
exemplo, mostra uma avó negra, uma mãe mulata, marido e filho brancos. Embora o
quadro trate do fenômeno do embranquecimento gradual das gerações de uma mesma
família por meio da miscigenação, ao mesmo tempo, ele também representa a
realidade de muitas famílias brasileiras – que não embranqueceram, mas
produziram tipos diferenciados.
Bem depois, já nas primeiras décadas do século 19,
imigrantes de outros países, principalmente da Itália e da Espanha, vieram para
o Brasil em busca de melhores oportunidades de trabalho. Já no fim do mesmo
século, começou o movimento imigratório alemão, que se concentrou no Sul do
nosso país. Também vieram os primeiros judeus. Em seguida, bem no início do
século 20, chegaram os japoneses, entre outras levas de imigrantes.
Com o desenvolvimento dos centros urbanos, um
número maior de árabes, sírio-libaneses, poloneses e ucranianos foi atraído
para cá. Na sequência, vieram os coreanos e cada um desses grupos se reuniu em
regiões específicas. Ultimamente, apesar do percentual baixo, ainda vemos
bolivianos, haitianos, africanos de várias nações do continente negro, além
daqueles que se deslocam de Bangladesh e da República Dominicana para o nosso
território nacional.
Como todos sempre buscaram e ainda buscam melhores
condições de vida, eles também acabam tendo contato com os brasileiros e, tal
como no passado, também estabelecem uniões inter-raciais, momento em que geram
filhos com novas características, que conferem uma maior multiplicidade de
tipos, além de belezas peculiares ao Brasil.
Percepção racial dos brasileiros. Apesar de o Brasil ser um dos
poucos países do planeta no qual a interação de diferentes etnias é perceptível
no dia a dia, no século 19, o governo tentou branquear a população. Para tanto,
ele promoveu o casamento de imigrantes europeus com mestiços e negros, na
intenção de ter gerações cada vez mais brancas (a pintura Redenção de Can,
citada anteriormente, sintetiza essa ideia). De certa forma, em poucas décadas,
a população de origem “negra e mestiça” foi superada pela população “branca”.
Mas a união de imigrantes europeus com brasileiros
apenas alterou o fenótipo (que são as características observáveis nos seres) do
nosso povo que, geneticamente, mantém uma população mestiça.
Por isso, o preconceito racial no
Brasil é ilógico. Quase todos nós já tivemos antepassados que se miscigenaram.
Portanto, podemos ser tataranetos, trinetos, bisnetos ou netos de europeus, mas
também de negros, indígenas e mestiços, além de outras etnias. Mas, como ainda
falta essa consciência para o povo brasileiro, nos censos oficiais, a maioria
da população se diz branca, uma parcela menor se considera parda e um número
mínimo se assume como preta (designação não pejorativa adotada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). Porém, se nossas origens são
oriundas da África, da Europa e dos povos indígenas, devido à miscigenação, não
podemos ser brancos nem negros, muito menos pardos, pois somos multirraciais!
Preconceito velado. O fato de não nos assumirmos
como um povo multirracial aponta para o racismo velado, que faz parte da
cultura do nosso país, em que a mídia impõe supostos padrões de beleza, que não
condizem com a realidade da população que, em sua essência, apresenta uma
grande heterogeneidade, inclusive cultural.
Embora a condição multirracial pareça intrínseca a
países em fase de pré-desenvolvimento ou em desenvolvimento, nos Estados
Unidos, nação que ainda é considerada uma potência mundial, as pessoas já não
têm mais medo de se declararem como tal. Logo, esse ponto deve ser reforçado
para a criançada refletir sobre suas origens e assumir-se corretamente sem
rótulos pré-fixados por uma minoria social, que detém certos privilégios só
para excluir a maioria.
Loirinha
Bombril (Los
Pericos e Hebert Vianna)
Para e
repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Essa crioula tem o olho azul
Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do Sul
Essa mulata é da cor do Brasil
A cozinheira tá falando alemão
A princesinha tá falando no pé
A italiana cozinhando o feijão
A americana se encantou com Pelé
Häagen-dazs de mangaba
Chateau canela-preta
Cachaça made in Carmo dando a volta no planeta
Caboclo presidente
Trazendo a solução
Livro pra comida, prato pra Educação
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Essa crioula tem o olho azul
Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do Sul
Essa mulata é da cor do Brasil
A cozinheira tá falando alemão
A princesinha tá falando no pé
A italiana cozinhando o feijão
A americana se encantou com Pelé
Häagen-dazs de mangaba
Chateau canela-preta
Cachaça made in Carmo dando a volta no planeta
Caboclo presidente
Trazendo a solução
Livro pra comida, prato pra Educação
Bis