Relação entre professor e aluno nas redes sociais: é melhor se aproximar ou se preservar?
A onipresença da internet impõe aos educadores a escolha de abrir ou não sua vida pessoal na rede, além de trazer à tona questões como o cyberbullying
O Brasil tem hoje 107,7 milhões de pessoas conectadas à internet, quase 90 milhões
delas com uma conta no Facebook. Em um país tão conectado, um dilema se
impõe: os professores devem manter distância dos estudantes quando
estão longe da sala de aula? Enquanto alguns preferem nem entrar nas
redes sociais por medo de exposição e outros defendem que exista um
perfil profissional separado do pessoal, há alguns professores, ainda,
que adicionam e seguem seus alunos e têm relacionamentos que beiram a
amizade.
Deparado com a mesma questão, o departamento de educação da prefeitura de Nova Iorque lançou em 2013 um guia para uso das redes sociais, recomendando uma interação estritamente profissional por parte dos educadores.
No Brasil ainda não existem diretrizes sobre o assunto, deixando
livre para as escolas discutirem (ou não) com sua equipe de professores.
José Carlos Antonio, professor de física de uma escola pública em Santa
Bárbara D’Oeste (SP) e consultor em educação a distância, defende o
mesmo que o guia americano. Ele recomenda que o professor cuide muito
bem de sua imagem na rede ou que mantenha um perfil pessoal e outro
profissional, separados. “O professor, embora não seja um artista famoso
nem um político, é uma personalidade pública. Embora ele tenha uma vida
pessoal, enquanto está exposto, é uma personalidade pública”,
argumenta.
Tiago Germano, professor de ciências no ensino fundamental da rede
pública de São Paulo (SP), é a antítese do que orienta José Carlos
Antonio: tem seus alunos na lista de contatos do Facebook e discorda
dessa separação entre vida pessoal e profissional. Para ele, “é
absolutamente normal que as relações entre as pessoas se estendam às
redes sociais, e essa escolha parte do aluno; eles é que tomam a
iniciativa”. Ele acredita que ter contas separadas, além de não o
representar de forma transparente, tomaria muito tempo no dia a dia.
“Creio que seja uma nova tendência educacional levar as relações para
fora da escola também”, opina.
Tendência ou não, o fato de que a maior parte dos estudantes e muitos
professores estão nas redes sociais impõe que uma postura mais aberta
ou mais rígida para essa relação virtual seja adotada. Para não correr
riscos de que limites sejam ultrapassados e erros cometidos, algumas
escolas começaram a orientar seus professores sobre o relacionamento
online com os alunos. Exemplo disso é a Escola Villare, em São Caetano
do Sul (SP). Para Ligia Berenguel, vice-diretora do fundamental I da
instituição, a identidade do educador também se constrói no ambiente
virtual. A instituição não proíbe esta relação entre professores, alunos
e familiares, mas faz algumas recomendações a seus educadores. “Se você
comentou uma postagem de uma mãe, tem que ter o cuidado de comentar das
demais também, porque fica uma diferença de tratamento que não pode
acontecer”, exemplifica ela. Outro cuidado pedido é com o uso correto da
língua portuguesa nas postagens.
Segundo Lígia, é comum que a imagem de um professor seja confundida
com a da própria instituição. Por isso, a escola pede que os educadores
se refiram ao trabalho da escola sempre no coletivo, além de evitar
explicitar nas redes sociais seu posicionamento ideológico.
Trabalho na rede
Ter contato com os alunos
através das redes sociais não significa que o profissional estenderá seu
horário de trabalho à internet, de acordo com José Antonio. Para ele, o
professor em geral é pouco procurado pelos alunos para tratar de
assuntos escolares, pois o interesse dos jovens na rede não é esse. “Ter
um perfil dá uma exposição que ele não tem na escola e ele pode atingir
alunos que ele nem sequer atinge na sala de aula”, comenta.
Tiago, por outro lado, já respondeu a dúvidas escolares de alunos
pelo Facebook e não vê problema nisto. “Pelo contrário, sinto-me
extremamente valorizado, pois isso dispersa o interesse sobre um
determinado assunto para além dos muros da escola”, argumenta. Ele
afirma que usa sua conta prioritariamente para relações sociais e de
amizade e que, por isso, também já se deparou com estudantes que
“desabafaram” sobre problemas por se sentirem mais seguros no ambiente
virtual.
O bullying e a violência fora da escola
Quando um
professor adiciona ou segue seu aluno, um novo vínculo entre eles é
formado, mas a função de educador não é abandonada. E se um estudante
for flagrado promovendo algum tipo de bullying, discurso de ódio ou
violência? Na opinião de José Antonio, estas situações são uma chance de
trazer os assuntos à tona na sala de aula e ensinar. “Se a escola não
assumir esse papel de formadora e orientadora, para que serve ela,
então?”, indaga o físico.
Tiago já passou por uma situação semelhante, alertou os envolvidos
pessoalmente e ainda promoveu um debate sobre o tema com toda a turma na
escola. Segundo ele, “os jovens não compreendem a complexidade e
rapidez com que os dados são compartilhados na internet, por isso se
expõem cada vez mais por diversos motivos e é na escola que essa
reflexão deve ser feita”.
Como as empresas, as próprias instituições de ensino podem ter perfis
nas redes sociais. “Deveria haver uma visão mais profissional do uso
das redes como parte das estratégias de ensino”, afirma José Antonio.
Para ele, embora não seja interessante misturar pessoal com
profissional, a internet possibilita que a escola se aproxime da
comunidade e, inclusive, dos seus alunos.
Qual é a sua experiência e opinião sobre esse tema? Nas redes sociais
você é próximo dos seus alunos e não vê problema em usar seu perfil
pessoal, ou prefere preservar sua vida privada?
Fonte: http://www.revistaeducacao.com.br/relacao-entre-professor-e-aluno-nas-redes-sociais-e-melhor-se-aproximar-ou-se-preservar/
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