Mudança climática prejudicará saúde dos bebês
nascidos agora para o resto da vida
Por PAUL RICARD/AFP
19:50 | 14/11/2019
“Se a
mudança climática não for freada, a saúde dos bebês que nascem agora estará
ameaçada ao longo de suas vidas por doenças que vão desde asma até desnutrição”,
alerta um estudo da revista médica The Lancet divulgado nesta quinta-feira, 14/11/2019.
"As
mudanças climáticas definirão a saúde de uma geração inteira",
afirma o médico Nick Watts, responsável por este informe médico.
"Se
for mantido o status quo, com emissões de carbono elevadas e o mesmo ritmo de
aquecimento, uma criança nascida agora viverá aos 71 anos em um mundo 4ºC mais
quente em média. Isso ameaçará a saúde em todas as etapas de sua vida",
escrevem os autores.
"As
crianças são especialmente vulneráveis aos riscos de saúde ligados às mudanças
climáticas. Seu corpo e sistema imunológico estão em desenvolvimento, o que as
torna mais vulneráveis às doenças e aos poluentes",
afirma Watts, do Instituto para a Saúde Mundial da Universidade de Londres.
As
consequências sobre a saúde "persistem na idade adulta" e "duram
a vida toda", aponta, defendendo uma "ação imediata de todos
os países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa".
O
informe é a edição 2019 de um documento publicado anualmente pela The Lancet
que mede 41 indicadores sobre saúde e mudanças climáticas e foi feito em
colaboração com 35 instituições, incluindo a Organização Mundial da Saúde e o Banco
Mundial.
Este
ano, os pesquisadores se concentraram na saúde das crianças, com a poluição
atmosférica como uma das maiores preocupações.
"Ao
longo de toda sua adolescência e até a idade adulta, um bebê nascido agora
respirará um ar mais tóxico, causado pelos combustíveis fósseis e agravado pelo
aumento das temperaturas", prevê o estudo.
Os
efeitos potenciais são muitos entre as crianças, cujos pulmões estão em
desenvolvimento: "diminuição da função pulmonar, agravamento da asma e
maior risco de crise cardíaca e de acidente vascular cerebral".
Bactérias e mosquitos
Segundo o informe, "as
emissões mundiais de CO2 que procedem dos combustíveis fósseis continuam
subindo", com um aumento de 2,6% entre 2016 e 2018, e as "mortes
prematuras relacionadas com as (partículas finas) PM 2,5 permanecem em cerca de
2,9 milhões no mundo".
Outro efeito temido pela
mudança climática é o aumento de epidemias de doenças infecciosas, às que as
crianças são particularmente sensíveis.
Um
clima mais quente e mais chuvoso favorece o desenvolvimento de bactérias
responsáveis por doenças diarreicas e pela cólera, assim como a propagação de
mosquitos vetores de infecções.
Devido às mudanças
climáticas, "a dengue é a doença viral transmitida pelos mosquitos que
se propaga mais rapidamente no mundo", segundo o informe.
"Nove dos 10 anos
mais propícios para a transmissão da dengue ocorreram desde 2000, permitindo
aos mosquitos invadir novos territórios na Europa", segundo os pesquisadores.
O informe ressalta também que
o aumento das temperaturas poderia provocar fenômenos de desnutrição, devido à
diminuição das colheitas e ao consequente aumento dos preços dos alimentos.
Globalmente, os autores
apontam que a geração de nasce agora estará mais exposta aos fenômenos
meteorológicos extremos, como canículas[1],
secas, inundações e incêndios florestais.
Estes
pesquisadores julgam crucial "limitar o aquecimento abaixo de 2ºC",
como prevê o Acordo de Paris. E reivindicam que os impactos sobre a saúde estejam
"na primeira linha da agenda da COP25", a conferência da ONU
sobre o clima que começará em 2 de dezembro em Madri.
[1] é um termo que designa períodos de
ondas de calor em geral associadas à presença circulações atmosféricas
anticiclônicas quase estacionárias, encontradas durante eventos de bloqueio
atmosférico. A população mais vulnerável constituída por idosos e doentes
mentais sem assistência em ambientes insalubres sob altas temperaturas, das
regiões atingidas, sofrem com problemas associados ao desconforto térmico,
hipertermia, desidratação em diferentes graus de severidade e aumento da
mortalidade.
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