Durante o regime nazista na Alemanha (1933–1945), diversos grupos foram perseguidos sistematicamente por motivos ideológicos, raciais ou políticos. Embora as vítimas mais conhecidas tenham sido os judeus, os ciganos, os homossexuais e os opositores políticos, os maçons também foram alvo da repressão nazista. A perseguição à maçonaria foi motivada por uma combinação de teorias conspiratórias, ideologia totalitária e uma profunda desconfiança por parte de Adolf Hitler e seus colaboradores quanto às atividades secretas e internacionalistas das lojas maçônicas.
A aversão do nazismo à maçonaria está enraizada nas teorias conspiratórias que ganharam força na Europa desde o século XIX, especialmente após a publicação dos Protocolos dos Sábios de Sião, um falso documento que alegava a existência de uma conspiração judaico-maçônica para dominar o mundo. Os nazistas adotaram essa narrativa, promovendo a ideia de que os maçons colaboravam com os judeus para enfraquecer a civilização germânica e o cristianismo.
Além disso, o caráter internacionalista, laico e humanista da maçonaria entrava em conflito direto com os princípios do nazismo, que pregava o nacionalismo extremo, a obediência ao Führer, o militarismo e o antissemitismo.
Após a ascensão de Hitler ao poder em 1933, as lojas maçônicas começaram a ser fechadas em toda a Alemanha. O Partido Nazista declarou a maçonaria uma organização inimiga do Estado, e seus membros passaram a ser vigiados, presos e enviados a campos de concentração. Muitos foram executados.
O Decreto de 1935, conhecido como “Gesetz zur Sicherung der Einheit von Partei und Staat” (Lei para Garantir a Unidade do Partido e do Estado), formalizou a proibição das organizações maçônicas, colocando seus bens sob controle do Estado. Estima-se que cerca de 80.000 maçons foram afetados pela repressão nazista na Europa ocupada, com milhares mortos em campos como Dachau e Buchenwald.
O regime nazista também promoveu uma campanha de propaganda agressiva contra a maçonaria. Exposições públicas, panfletos e filmes acusavam os maçons de traição, conspiracionismo e decadência moral. Um exemplo notável foi a exposição “Die Freimaurerei – Weltfeind Nr. 1” (“A Maçonaria – Inimigo Mundial Nº 1”), realizada em 1937 em Dresden, que retratava os maçons como fantoches do judaísmo internacional.
Símbolos maçônicos foram frequentemente usados como prova de suposta conspiração, e a suástica foi promovida como símbolo de pureza ariana em contraste com os emblemas universais da fraternidade maçônica, como o compasso e o esquadro
Apesar da perseguição, muitos maçons participaram de movimentos de resistência ao nazismo, tanto na Alemanha quanto nos países ocupados. Lojas clandestinas foram fundadas, algumas até mesmo dentro de campos de concentração, como é o caso notável da Loja Liberté chérie, fundada por prisioneiros belgas em Esterwegen, em 1943.
A perseguição aos maçons pelo regime nazista foi parte de um projeto maior de controle totalitário e eliminação de qualquer forma de organização independente que pudesse representar uma ameaça à ideologia do Terceiro Reich. Embora menos lembrados do que outros grupos perseguidos, os maçons sofreram intensamente com a repressão, e seu martírio é mais um capítulo sombrio da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto.
Bibliografia
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KAUFMAN, Paul. The Impact of Nazism on the Masonic Fraternity in Germany. The Masonic Society Journal, nº 12, 2009.
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