O Semiárido é um território natural que historicamente se tornou político, palco que foi, e é, de embates pelo poder. As disputas e as escolhas políticas forjaram a ideia que este é um espaço de exclusão e pobreza, onde não valia a pena ficar ou investir. Isto abalou negativamente a autoestima do povo do Sertão, manteve constante o fluxo migratório de fuga e as práticas diversificadas de paternalismo e clientelismo, que mantinham seu povo dependente. Esse cenário parecia fadado a se reproduzir infinitamente, alimentado que foi por decisões políticas locais e nacionais que destinavam mais recursos às regiões que supostamente possuíam mais condições para o crescimento.
Contudo, essa tendência começou a se modificar nos últimos anos na medida que novos investimentos foram destinados ao interior do país, com iniciativas como a expansão do ensino técnico e universitário e a promoção de obras estruturantes. Além disso, o fortalecimento do mercado interno em todo o Brasil, bem como a maior estabilidade econômica, permitiu o surgimento ou reorganização de atividades relacionadas com comércio, serviço, turismo, agronegócio e indústria no Semiárido. Inclui-se nesse novo cenário a constituição de polos de produção de conhecimento ligados a centros de pesquisa e às Instituições de Ensino Superior públicas e privadas que também se instalaram pela região.
Em consolidação
Surge assim uma nova tendência que vem se consolidando nos últimos cinco anos: o Sertão começa a ser visto a partir de um novo prisma, e os investimentos começam a fluir para essa região, valorizando a sua cultura e suas riquezas naturais antes desprezadas, criando assim mais possibilidades para as pessoas que ali habitam. Mais que isto: o novo aporte de recursos públicos e privados começa a fomentar um novo fluxo migratório, agora de volta ao Sertão.
Diante desse novo olhar, questiona-se sobre a continuidade ou não desse processo. De fato, para que essas possibilidades abertas pelos investimentos da região resultem em um desenvolvimento sustentável, alguns pontos precisam ser considerados. O principal deles se refere à adequada preparação da população local para participar desse cenário, evitando que as atividades empreendidas sejam voltadas para a mão de obra que vem de fora. Para tanto o atual investimento em educação acadêmica e técnica deve ser ampliado. A infraestrutura das cidades ainda requer novos aportes para garantir a continuidade das atividades. E há necessidade de mais recursos para a questão da segurança.
Qualificação de gestores
Um ponto importante é a qualificação dos gestores e servidores públicos, que devem estar preparados para as novas demandas da sociedade. Falta também maior atenção à questão ambiental. O crescimento acelerado de uma região historicamente excluída pode levar a uma exacerbação do uso da natureza.
Riscos ao meio ambiente
Os riscos podem vir do uso inadequado do solo pelo agronegócio, desperdício da água (que continua escassa), exploração exagerada e sem controle de áreas de proteção ambiental pelo turismo, poluição do solo e da água pelos resíduos industriais e agrícolas, descontrole no ambiente urbano por parte da construção civil e das atividades econômicas em geral. Por fim, do ponto de vista social, apesar da visível redistribuição de renda e dos novos acessos à educação e saúde, ainda é necessário investir nos processos participativos, envolvendo efetivamente a sociedade local.
Suely Salgueiro Chacon*
Doutora em Desenvolvimento Sustentável. Coordenadora do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável - MDER, da Universidade Federal do Ceará - UFC/Campus do Cariri.