Muitos pesquisadores consideram o ensino
e a aprendizagem termos indissociáveis na construção do conhecimento. Assim,
não se pode compreender a importância do primeiro, sem reconhecer o significado
a que o segundo nos remete nessa construção. Sabe-se que esses conceitos
sofreram várias transformações no decorrer da história de produção de
conhecimento pelo homem. Nesse sentido, o processo ensino-aprendizagem tem sido
caracterizado de diferentes formas, ora procura dar ênfase à figura do
professor como detentor do saber, responsável pela transmissão do conhecimento,
ora vem destacar o papel do aluno como sujeito aprendiz, construtor de seu
conhecimento.
Por seguirem trajetórias paralelas, os
estudos e as pesquisas sobre o como se ensina e o como se aprende demonstram
que hoje não existe uma forma única para compreender esse processo. Entretanto,
nas últimas décadas, percebe-se uma crescente contribuição por parte das
investigações realizadas na área da psicologia, as quais vêm propondo uma
mudança significativa para as práticas escolares, visto que essas reflexões têm
provocado um deslocamento no eixo-pedagógico, mudando a valorização de como e
quem ensina, para a preocupação de quem aprende e de como se aprende.
No entanto, para o professor entender
melhor o contexto atual e refletir criticamente sobre suas ações, faz-se
necessária uma breve retomada sobre as tendências pedagógicas que influenciaram
e vêm influenciando o ensino e a aprendizagem ao longo da história educacional.
As tendências pedagógicas foram evoluindo e foram divididas em cinco
abordagens, dentre as quais algumas colocaram como seu maior objetivo o
refletir, o pensar e o fazer do professor.
A primeira abordagem a ser retomada é a
“Tradicional”. Nessa teoria, o processo ensino-aprendizagem era totalmente
centrado no professor. Tinha como objetivo principal formar o aluno ideal,
contudo não se levava em conta seus interesses.
Para Mizukami (1986, p.12), nessa
abordagem, quanto mais rígido o ambiente escolar, mais concentrado e voltado
para a aprendizagem o aluno se mantinha. O professor era visto como mero
repassador de conteúdo e o aluno como um ser passivo no processo. As
habilidades desenvolvidas no aluno eram a memorização e a repetição. Em
seguida, vem a abordagem “Comportamentalista”. Teoria baseada no empirismo que
vê o aluno como produto do meio. E o experimento é a base do conhecimento, que,
segundo Skinner, estudioso dessa abordagem, o comportamento resulta de um
condicionamento operante. A resposta esperada do aluno ocorre quando ela é
estimulada por meio de reforços.
O professor é aquele que planeja,
organiza e controla os meios para atingir seus objetivos, os quais são
estruturados em pequenos módulos, conhecidos como estudos programados.
A
abordagem “Humanista” apresenta seu enfoque no aluno. Segundo Mizukami (1986),
a ênfase dessa teoria ocorre por meio das relações interpessoais e do
crescimento que delas resulta. Nessa teoria, a preocupação maior do professor
deve ser a de dar assistência aos alunos, ele deve agir como um facilitador da
aprendizagem.
O conhecimento resulta das experiências do
aluno, o qual é capaz de buscar por si só os conhecimentos. A quarta abordagem
é a “Cognitivista”. Segundo Mizukami (1986, p.59), essa abordagem percebe a
aprendizagem de forma científica, como um produto do meio, resultante dos
fatores externos. Preocupa-se com as relações sociais sem deixar de privilegiar
a capacidade do aluno em assimilar as informações. Nessa teoria, o professor,
além de planejar os conteúdos, preocupa-se em trabalhá-los da melhor forma,
adequando-os ao desenvolvimento dos alunos.
Aqui o professor é visto como um
coordenador e o aluno como um sujeito ativo em seu processo de aprendiz. Na
abordagem “Sócio-Cultural”, a relação professor- aluno ocorre de forma
horizontal e não impositivamente. Isso significa que as relações autoritárias
são abolidas dessa teoria. A ação pedagógica do professor e do aluno volta-se
para uma prática histórica real.
Segundo Freire (1975), o educador e o
educando são sujeitos do processo educativo, ambos crescem juntos nessa
perspectiva. O professor e o aluno trabalham procurando desmistificar a cultura
dominante. Dessa forma, à medida que os alunos participam do processo de
construção do conhecimento, mais críticas se tornarão suas consciências. Com
essa rápida retomada das principais teorias que contribuíram historicamente no
processo ensino-aprendizagem, é possível perceber que sempre houve uma
preocupação, por parte da sociedade, em adequar as teorias às realidades de
cada período histórico.
Hoje, levando em consideração que a
sociedade exige uma nova consciência humana, busca-se, com a pedagogia
“Histórico-Crítica” discutida e apresentada por Saviane, uma forma de superar
as dificuldades até então encontradas na construção efetiva do conhecimento.
Saviane sustenta, nessa concepção de ensino-aprendizagem, uma teoria dialética,
na qual a construção se dá num movimento dinâmico entre o conhecimento empírico
e o conhecimento científico.
Com base nos estudos desenvolvidos por
Saviane dentro da Pedagogia Histórico-Crítica, Gasparin (2005) apresenta de
forma organizada uma proposta para o desenvolvimento eficaz de ensino e
aprendizagem. Trata-se de um método pedagógico totalmente voltado para a
transformação social. Pois, por maior avanço que possa ter ocorrido no contexto
educacional, percebe-se ainda que os conteúdos escolhidos, a metodologia
utilizada e a postura profissional adotada por muitos educadores revelam uma
visão de mundo nem sempre condizente com as propostas pedagógicas vigentes.
Na tentativa de romper com algumas
práticas que ainda privilegiam o exercício da repetição e da memorização nas
escolas, Gasparin (2005) busca fundamentar uma proposta, baseada também na
teoria Histórico-Cultural de Vigotsky, a qual considera e privilegia os
conhecimentos que os alunos já trazem de casa, bem como estimula a aquisição
daqueles que os discentes precisam saber.
Dentro dessa metodologia, o autor
apresenta cinco passos, tendo início com a Prática Social Inicial. Nesse
primeiro passo, o aluno precisa sentir-se estimulado e respeitado, só assim
sentirá segurança em expressar o que sabe e o que deseja aprender. É o momento
em que se iniciam as discussões sobre o conteúdo a ser trabalhado e construído.
A partir das colocações que vão sendo
apresentadas pelos alunos, dos questionamentos realizados e das informações que
recebem sobre o conteúdo que será trabalhado pelo professor, constrói-se o
segundo passo, que é a Problematização. Esse é um dos momentos mais importantes,
pois, dependendo do encaminhamento desse passo, os alunos manifestarão
interesse ou não pelo que vai ser estudado.
Na Problematização, escolher as
perguntas mais importantes é uma forma de garantir a participação ativa dos
alunos no processo. É um momento de confronto entre os conhecimentos
apresentados pelo professor e os trazidos pelos alunos.
Quanto maiores e mais ricas as
experiências apresentadas, melhores serão as análises entre teoria e prática. A
problematização é um dos momentos mais ricos do planejamento da aula, pois a
partir desse passo se define o que realmente precisa ser estudado e
aprofundado. Nesse momento, o aluno deve receber várias informações para que
possa estabelecer relações com a sua realidade.
Em seguida, para que o aluno crie,
recrie e incorpore o conteúdo que está sendo trabalhado em sua vida, é preciso
sistematizá-lo, é o momento da Instrumentalização.
Na instrumentalização, o professor, por
meio de uma ação bastante mediada, irá junto com os alunos identificar os princípios
práticos e teóricos do conteúdo estudado. Num quarto momento, ocorre a Catarse[1], compreende-se que aqui o
aluno é capaz de apresentar um posicionamento mais elaborado da Prática Social,
integrando os conhecimentos que já conhecia com os científicos.
Considera-se que esse é o momento de
apropriação do conteúdo. Para Gasparin (2005, p. 130), no momento da Catarse
social feita com base em necessidades criadas pelo homem. Nesse momento, esse
conhecimento possui uma função explícita: a transformação social. Assim, o
aluno vai percebendo que ele também é autor da história, visto que, de posse da
compreensão do conhecimento, passa a entender melhor a sua realidade.
Num último momento, conhecido como
Prática Social Final, o aluno finalmente vai colocar seus conhecimentos em
prática. Pode-se dizer que o horizonte de expectativas dos alunos vai ser
ampliado. A Prática Social Inicial vai ser agora alterada. E o aluno passa a
perceber a realidade de forma diferente, entendendo melhor seu entorno, sendo
capaz de reformulá-lo caso seja necessário.
Nessa teoria, professor e aluno
modificam-se. Assim, o aluno vai percebendo que ele também é autor da história,
visto que, de posse da compreensão do conhecimento, passa a entender melhor a
sua realidade.
REFERÊNCIAS
CALLIGARIS, C. A
adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. CANDAU, V. M. Reinventar a Escola.
Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
CARVAJAL, G. Tornar-se
adolescente: a aventura de uma metamorfose. São Paulo: Cortez, 1998.
CHARLOT, B. Relação com o
saber, Formação dos Professores e Globalização. Porto Alegre: Artmed, 2005.
FREIRE, P. Educação como
prática da liberdade. 19 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
GALVÃO, I. Uma concepção
Dialética do desenvolvimento infantil. Rio de Janeiro: Vozes,1995.
GASPARIN, J. L. Uma didática
para a pedagogia histórico-crítica. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2005
GUILLOT G. O resgate da autoridade em educação. Porto Alegre: Artmed. 2008.
MIZUKAMI, M da G. N. Ensino:
as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
PIMENTA, S. G. (Org.)
Professor Reflexivo no Brasil. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2005. SAVIANI, D.
Pedagogia Histórico Crítica: Primeiras aproximações. 6. ed. São Paulo: Autores
Associados, 1997.
VIGOTSKY, L. S. A formação
social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
[1] Psicanálise:
É provocar em outra pessoa, de forma controlada, o despertar de emoções
contidas e omitidas, que precisam ser despertas e expostas, para a liberação de
bloqueios emocionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário