quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A Escada de Jacó

Símbolo de ascensão espiritual



A Escada de Jacó é um dos símbolos mais enigmáticos e inspiradores das tradições bíblicas, teológicas e esotéricas. Sua origem encontra-se na narrativa do livro de Gênesis (Gn 28:10-19), quando Jacó, em sua jornada, adormeceu em Betel e teve um sonho no qual via uma escada erguendo-se da Terra até o Céu. Anjos subiam e desciam por ela, e, no alto, o Senhor reafirmava sua aliança com os patriarcas.

Essa visão tornou-se, ao longo dos séculos, uma fonte inesgotável de interpretações, tanto na teologia cristã quanto na filosofia espiritual e no simbolismo iniciático da Maçonaria.

Entre o humano e o divino

A escada simboliza a ligação entre o mundo terreno e o espiritual, o elo entre o finito e o infinito, entre a matéria e o espírito. Santo Agostinho, em suas “Confissões”, afirma que cada degrau dessa ascensão representa a superação de paixões e a conquista de virtudes, conduzindo a alma à união com Deus. Orígenes, por sua vez, interpretava a escada como um itinerário de purificação interior, no qual os anjos seriam símbolos das forças espirituais que auxiliam ou provam o homem em sua caminhada.

No campo da mística cristã, a Escada de Jacó inspirou obras como a “Escada do Paraíso”, escrita por São João Clímaco (século VII), que descreve trinta degraus espirituais de ascensão rumo à perfeição.

O olhar maçônico

Na Maçonaria, a Escada de Jacó é compreendida como alegoria da evolução humana. Cada degrau representa um estágio de progresso moral, intelectual e espiritual. O maçom, ao subir por essa escada simbólica, vai deixando para trás vícios e ilusões, aproximando-se da Luz e da Verdade. Como ensinam antigos rituais: “O caminho da perfeição é feito de degraus; cada virtude conquistada é um passo mais alto na escada da sabedoria”.

Assim, a escada torna-se também símbolo da própria condição humana: um ser em constante movimento, chamado a subir com perseverança, fé e disciplina.

A dinâmica da ascensão

Os anjos que sobem e descem a escada representam o intercâmbio contínuo entre Céu e Terra, lembrando-nos que a vida espiritual não é estática, mas dinâmica. Trata-se de um fluxo constante de aprendizado, queda, superação e crescimento. Tomás de Aquino já afirmava que a perfeição da vida cristã não está em nunca cair, mas em levantar-se sempre, com humildade e confiança na graça divina.

Conclusão: um convite à elevação

A Escada de Jacó nos recorda que todos estamos em uma jornada. Alguns em degraus mais baixos, outros mais altos, mas todos chamados a ascender em direção à luz. Esse símbolo nos ensina paciência, constância e fé, pois a verdadeira subida não acontece fora, mas no interior da alma.

Na perspectiva bíblica, teológica e maçônica, a escada é, sobretudo, um convite à elevação, um apelo à busca de sabedoria e à união com o Divino. Em cada degrau, um aprendizado; em cada passo, uma vitória sobre nós mesmos.

Referências

  • Bíblia Sagrada, Gênesis 28:10-19.

  • AGOSTINHO, Santo. Confissões.

  • ORÍGENES. Homilias sobre o Gênesis.

  • CLÍMACO, São João. A Escada do Paraíso.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Modernização e Inovação na Maçonaria: Um Chamado ao Presente

 




Profº Ednardo Sousa Bezerra Júnior


A Maçonaria é uma instituição antiga, repleta de símbolos e tradições que atravessaram séculos. Essa herança é o que lhe dá identidade, força e permanência. Mas, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que o mundo mudou e continua mudando em um ritmo acelerado. Diante disso, surge a pergunta: como a Maçonaria pode continuar viva e relevante sem perder a sua essência?

Modernizar não é romper com o passado, mas sim reinterpretá-lo à luz dos novos tempos. Durante muito tempo, as mudanças dentro da Ordem se limitaram a ajustes nos rituais ou na administração. Esse modelo funcionou no passado, mas hoje já não basta. Vivemos em um mundo conectado, diverso, tecnológico e repleto de novos desafios sociais e culturais. Se a Maçonaria quiser continuar sendo um espaço de reflexão e crescimento humano, precisa se abrir a essas transformações.

Isso significa, por exemplo, usar melhor a comunicação digital  não para expor segredos, mas para mostrar à sociedade a importância de valores como fraternidade, liberdade e solidariedade. Significa também acolher a diversidade, permitindo que pessoas de diferentes gerações, culturas e trajetórias possam encontrar na Maçonaria um espaço de diálogo e aprendizado.

Outro caminho é reforçar a presença social da Ordem. A Maçonaria sempre teve em sua essência o compromisso de contribuir para uma sociedade mais justa. Hoje, isso pode se traduzir em projetos comunitários, ações educativas e iniciativas de solidariedade que mostrem, na prática, que os princípios defendidos em loja também se realizam no mundo lá fora.

Modernizar, portanto, não é abandonar os rituais, os símbolos ou as tradições. Pelo contrário: é garantir que eles continuem tendo sentido para as novas gerações. É dar vida ao que já existe, adaptando a linguagem sem perder a mensagem.
Em um mundo de tantas mudanças, a Maçonaria tem diante de si uma oportunidade única: mostrar que seus valores, mesmo antigos, são atemporais e continuam sendo faróis para a construção de um futuro mais humano e fraterno.
 
Para refletir
Referências
“A tradição não é adoração às cinzas, mas a preservação do fogo.” — Gustav Mahler

 

 


terça-feira, 15 de julho de 2025

Livrarias em declínio no Brasil e o sucesso das livrarias em Buenos Aires: o que explica esse contraste?

Ednardo Sousa Bezerra Jr



     Nos últimos anos, o cenário das livrarias no Brasil tem chamado a atenção por um motivo preocupante, o número de estabelecimentos vem diminuindo progressivamente (G1, 2019). Ao mesmo tempo, basta caminhar pelas ruas de Buenos Aires, na Argentina, para se deparar com livrarias cheias de leitores, visitantes e apaixonados por livros. O que explica esse contraste entre dois países vizinhos, com culturas semelhantes em tantos aspectos?

      Neste artigo, analisamos as razões para o enfraquecimento do mercado livreiro brasileiro e os fatores que fazem das livrarias argentinas, especialmente as de Buenos Aires, verdadeiros polos culturais.

Por que o número de livrarias no Brasil está diminuindo?

     O fechamento progressivo de livrarias no Brasil tem múltiplas causas, que envolvem fatores econômicos, sociais e estruturais. A crise econômica e o aumento do custo de vida tornam os livros cada vez menos acessíveis para grande parte da população (SNEL, 2021). Com isso, muitas famílias deixam de priorizar a compra de obras literárias, enxergando o livro como um item supérfluo diante de outras necessidades básicas.

     Além disso, o hábito da leitura ainda é pouco incentivado desde a infância. Em muitas escolas públicas, o acesso à leitura não ocorre de forma prazerosa ou frequente, e o papel das bibliotecas escolares tem se enfraquecido com o tempo (IBGE, 2020). Sem estímulo consistente, o livro não se torna um companheiro cotidiano da maioria dos brasileiros.

     Outro fator determinante é a ascensão do comércio em plataformas digitais. Sites como Amazon, com preços baixos e frete gratuito, dominaram o mercado, deixando as livrarias físicas em desvantagem competitiva (CartaCapital, 2021). Isso contribuiu para o fechamento de várias lojas.

     A situação se agrava com a baixa distribuição de livrarias em nível nacional. Mais da metade dos municípios brasileiros não possui sequer uma livraria, o que torna o acesso ao livro ainda mais restrito para quem vive fora dos grandes centros urbanos (Instituto Pró-Livro, 2020). Todo esse contexto reflete uma realidade preocupante, em que o livro vai perdendo espaço não apenas no comércio, mas também na vida cotidiana das pessoas.

     Grandes redes como Saraiva e Livraria Cultura, que já dominaram o mercado nacional, enfrentaram falência e reduziram drasticamente sua presença física no país (Folha de S.Paulo, 2018). A falta de acesso físico aos livros é uma barreira real, especialmente em regiões mais afastadas dos grandes centros.

Por que as livrarias de Buenos Aires são tão movimentadas?

     Enquanto o Brasil enfrenta a retração do setor livreiro, Buenos Aires vive uma realidade totalmente oposta. A capital argentina é considerada a cidade com mais livrarias por habitante no mundo (The Guardian, 2015).

     Buenos Aires é repleta de livrarias pequenas, especializadas, charmosas e acessíveis. Algumas se tornaram pontos turísticos, como a famosa El Ateneo Grand Splendid, localizada dentro de um antigo teatro. O jornal britânico The Guardian elegeu-a como a segunda livraria mais bonita do mundo (Aguiar Buenos Aires, 2021).


 El Ateneo Grand Splendidlocalizada na cidade de Buenos Aires, 
foi eleita pelo jornal britânico The Guardian como a segunda livraria mais linda do mundo
FONTE: https://aguiarbuenosaires.com/livraria-el-ateneo/


     A Argentina possui uma tradição literária muito forte. Escritores como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e Ernesto Sábato são ícones da cultura nacional. A leitura é vista não apenas como aprendizado, mas como parte da identidade cultural do país (La Nación, 2019).

     O governo argentino investe com mais frequência em cultura, editoras locais, feiras de livros e programas de incentivo à leitura (UNESCO, 2022). Para muitos argentinos, visitar livrarias é uma atividade de lazer, como ir a um café ou a uma exposição. As livrarias oferecem ambientes aconchegantes e são pontos de encontro, não apenas de consumo.

     Também é comum encontrar em Buenos Aires livrarias com livros novos e usados, além de edições populares e baratas, o que facilita o acesso a todas as classes sociais (Clarín, 2020).

O consumo de vinil nas livrarias argentinas

     O consumo de discos de vinil, em um mundo digital, chama a atenção. Segundo dados da Cámara Argentina de Productores de Fonogramas y Videogramas (CAPIF), o vinil representa cerca de 50% de todas as vendas físicas de música no país, empatando com o CD (CAPIF, 2022). Entre 2018 e 2021, sua participação subiu de 15% para 61%, revelando um renascimento do formato.

     O consumo de vinil em Buenos Aires, especialmente em livrarias como El Ateneo, é forte. Iniciativas como a Vinyl Night (noite do vinil), que une literatura e música, têm demonstrado como as livrarias se envolvem diretamente com esse segmento.

 Comparativo entre Brasil e Argentina

     No Brasil, o incentivo à leitura ainda é limitado. São poucas as políticas públicas consistentes que estimulem o hábito de ler desde a infância. Isso contrasta com a realidade argentina, onde há um esforço mais constante e articulado para valorizar o livro e a leitura (UNESCO, 2022).

     Outro ponto importante é o preço dos livros. No Brasil, eles costumam ser caros, dificultando o acesso para grande parte da população (SNEL, 2021). Na Argentina, por outro lado, é comum encontrar edições populares e livros usados, o que contribui para uma maior democratização.

     O Brasil possui um número reduzido de livrarias, mal distribuídas. Buenos Aires, em contraste, abriga uma impressionante quantidade de livrarias, sendo considerada a cidade com mais livrarias per capita do mundo (The Guardian, 2015). A leitura, para os argentinos, é uma prática cultural e de lazer; no Brasil, ainda não está plenamente integrada à rotina da maioria.

Conclusão

     Enquanto o Brasil vê suas livrarias desaparecerem, a Argentina, especialmente sua capital, prova que é possível manter a leitura viva com políticas públicas, apoio cultural e valorização da literatura como parte da vida cotidiana.

     Mais do que uma comparação, este cenário é um convite à reflexão: o que podemos aprender com o exemplo argentino? Incentivar a leitura é mais do que vender livros, é construir uma sociedade mais crítica, informada e conectada com sua cultura.


REFERÊNCIAS

  • AGUIAR BUENOS AIRES. Livraria El Ateneo Grand Splendid. Disponível em: https://aguiarbuenosaires.com/livraria-el-ateneo/. Acesso em: 14 jul. 2025.

  • CAPIF – Cámara Argentina de Productores de Fonogramas y Videogramas. Informe Anual 2022. Disponível em: https://www.capif.org.ar/

  • CARTACAPITAL. Por que tantas livrarias estão fechando no Brasil? 2021.

  • CLARÍN. Las librerías más emblemáticas de Buenos Aires. 2020.

  • FOLHA DE S.PAULO. Saraiva e Cultura entram em recuperação judicial. 2018.

  • G1. Número de livrarias no Brasil cai pela metade em uma década. 2019.

  • IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Práticas de Leitura, 2020.

  • INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da Leitura no Brasil – 5ª edição. 2020.

  • LA NACIÓN. Borges, Cortázar y Sábato: el alma literaria argentina. 2019.

  • SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Panorama do Setor Livreiro no Brasil, 2021.

  • THE GUARDIAN. Top 10 bookstores around the world. 2015.

  • UNESCO. World Book Capital Cities and Reading Promotion Strategies, 2022.


quarta-feira, 18 de junho de 2025

A História da Maçonaria (Cordel)


A História da Maçonaria


Na sombra de um tempo antigo,
Surgiu uma irmandade,
De homens justos, fraternos,
Com saber e lealdade.

Das pedras erguidas no chão,
Da arte do construtor,
Nasceu uma tradição
De justiça e de valor.

Foi templo, foi catedral,
Foi ciência, foi saber,
E entre lendas e segredos,
Veio a Ordem florescer.

De mestres pedreiros sábios
A um grupo mais ideal,
Que busca a luz da verdade
No caminho espiritual.

A Maçonaria cresceu,
Com seu rito e tradição,
Sempre pregando o respeito,
A paz e a união.

Suas colunas se erguem
Sobre fé e caridade,
Com estudo, liberdade,
E a busca da igualdade.

Com o esquadro e o compasso,
Simboliza a retidão,
Cada símbolo nos guia
Na reforma do coração.

É discreta, não secreta,
Como muitos vão falar,
Mas guarda com reverência
O que é pra se revelar.

Homens livres, bem formados,
De coragem e de valor,
Se unem com compromisso
De fazer o mundo melhor.

Da Inglaterra ao Brasil,
Sua luz veio brilhar,
Inspirando até heróis
Que lutaram sem cessar.

Foi presente na história,
Na Independência, ali,
Com Tiradentes sonhando
Um Brasil justo e porvir.

Assim segue a Maçonaria
Em sua nobre missão:
Luz, saber, fraternidade
E a paz como direção.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

A Perseguição dos Maçons pelo Nazismo na Segunda Guerra MundiaL


Durante o regime nazista na Alemanha (1933–1945), diversos grupos foram perseguidos sistematicamente por motivos ideológicos, raciais ou políticos. Embora as vítimas mais conhecidas tenham sido os judeus, os ciganos, os homossexuais e os opositores políticos, os maçons também foram alvo da repressão nazista. A perseguição à maçonaria foi motivada por uma combinação de teorias conspiratórias, ideologia totalitária e uma profunda desconfiança por parte de Adolf Hitler e seus colaboradores quanto às atividades secretas e internacionalistas das lojas maçônicas. 

A aversão do nazismo à maçonaria está enraizada nas teorias conspiratórias que ganharam força na Europa desde o século XIX, especialmente após a publicação dos Protocolos dos Sábios de Sião, um falso documento que alegava a existência de uma conspiração judaico-maçônica para dominar o mundo. Os nazistas adotaram essa narrativa, promovendo a ideia de que os maçons colaboravam com os judeus para enfraquecer a civilização germânica e o cristianismo.

Além disso, o caráter internacionalista, laico e humanista da maçonaria entrava em conflito direto com os princípios do nazismo, que pregava o nacionalismo extremo, a obediência ao Führer, o militarismo e o antissemitismo.

Após a ascensão de Hitler ao poder em 1933, as lojas maçônicas começaram a ser fechadas em toda a Alemanha. O Partido Nazista declarou a maçonaria uma organização inimiga do Estado, e seus membros passaram a ser vigiados, presos e enviados a campos de concentração. Muitos foram executados.

O Decreto de 1935, conhecido como “Gesetz zur Sicherung der Einheit von Partei und Staat” (Lei para Garantir a Unidade do Partido e do Estado), formalizou a proibição das organizações maçônicas, colocando seus bens sob controle do Estado. Estima-se que cerca de 80.000 maçons foram afetados pela repressão nazista na Europa ocupada, com milhares mortos em campos como Dachau e Buchenwald.

O regime nazista também promoveu uma campanha de propaganda agressiva contra a maçonaria. Exposições públicas, panfletos e filmes acusavam os maçons de traição, conspiracionismo e decadência moral. Um exemplo notável foi a exposição “Die Freimaurerei – Weltfeind Nr. 1” (“A Maçonaria – Inimigo Mundial Nº 1”), realizada em 1937 em Dresden, que retratava os maçons como fantoches do judaísmo internacional.

Símbolos maçônicos foram frequentemente usados como prova de suposta conspiração, e a suástica foi promovida como símbolo de pureza ariana em contraste com os emblemas universais da fraternidade maçônica, como o compasso e o esquadro

Apesar da perseguição, muitos maçons participaram de movimentos de resistência ao nazismo, tanto na Alemanha quanto nos países ocupados. Lojas clandestinas foram fundadas, algumas até mesmo dentro de campos de concentração, como é o caso notável da Loja Liberté chérie, fundada por prisioneiros belgas em Esterwegen, em 1943.

A perseguição aos maçons pelo regime nazista foi parte de um projeto maior de controle totalitário e eliminação de qualquer forma de organização independente que pudesse representar uma ameaça à ideologia do Terceiro Reich. Embora menos lembrados do que outros grupos perseguidos, os maçons sofreram intensamente com a repressão, e seu martírio é mais um capítulo sombrio da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto.


Bibliografia

  • BERNHEIM, Alain. The Nazi Persecution of Freemasonry. Southern California Research Lodge, 1997.

  • KAUFMAN, Paul. The Impact of Nazism on the Masonic Fraternity in Germany. The Masonic Society Journal, nº 12, 2009.

  • MOSS, Kenneth. Nazi Ideology and the Holocaust. United States Holocaust Memorial Museum, 2006.

  • UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. Persecution of Freemasons. Disponível em: https://www.ushmm.org. Acesso em: abril de 2025.

WILLIAMS, Paul L. The Unholy Alliance: A History of Nazi Involvement with the Occult. Prometheus Books, 2016.

A difícil tarefa de admitir quando estou errado


 




Algo que me incomoda profundamente é lidar com pessoas que acreditam estar sempre certas. Elas demonstram uma convicção inabalável em suas opiniões, mesmo quando os fatos provam o contrário. Quando algo dá errado, jamais assumem qualquer responsabilidade, a culpa, para elas, é sempre do outro.

Esse tipo de comportamento torna a convivência desgastante. Em vez de buscarem soluções ou aprenderem com os erros, preferem apontar falhas, parece sentir mais satisfação em encontrar algo que não funcionou do que em celebrar um acerto, basta um pequeno erro, uma falha mínima, para que aquilo se torne o centro das atenções, alvo de críticas e julgamentos.

Além disso, pessoas com esse perfil costumam ter um alto grau de desconfiança em relação aos que estão ao seu redor. Elas duvidam das intenções dos outros, interpretam gestos simples como ameaças veladas e, frequentemente, sentem-se traídas por situações que sequer envolvem má-fé. Essa constante vigilância, essa sensação de estar sempre cercadas por possíveis adversários, as torna defensivas, frias e, muitas vezes, agressivas em suas reações.

Do ponto de vista neurológico, esse padrão de comportamento está frequentemente associado a uma região do cérebro ligada ao processamento do medo, da ameaça e das emoções negativas que contribui para o foco excessivo nos erros, a dificuldade de confiar e a tendência a se proteger mesmo quando não há risco real. O córtex pré-frontal é a área do cérebro responsável pelo julgamento equilibrado, empatia e tomada de decisões conscientes, acabam sendo menos ativadas. Isso explica por que essas pessoas têm dificuldade em refletir sobre suas próprias atitudes, aceitar críticas ou enxergar as situações sob outros pontos de vista.

A negatividade constante e a desconfiança exagerada contaminam o ambiente. Um maior foco nos defeitos, nos deslizes e nas imperfeições dificulta a possibilidade de crescimento tanto pessoal quanto coletivo. Erros fazem parte da vida e nos ensinam a evoluir. Mas para que isso aconteça, é necessário ter humildade, empatia e maturidade emocional.

Pessoas que não admitem suas falhas, que não se abrem para outras perspectivas e que vivem sob o peso da desconfiança acabam afastando os outros. Convivem em constante tensão, como se estivessem num campo de batalha, e não num espaço de trocas e aprendizados. Em vez de colaborar, competem. Em vez de apoiar, condenam.

A convivência saudável exige diálogo, respeito e, acima de tudo, disposição para ouvir e confiar. Quando se entende que errar é humano, e que confiar nos outros é uma escolha que fortalece os vínculos, as relações se tornam mais leves, construtivas e verdadeiras.


Ednardo Sousa Bezerra Jr.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

 

Caridade nos Dias Atuais: Um Espelho para o Mundo Moderno


Ednardo Sousa Bezerra Jr

MM∴


A Oração de São Francisco, tão simples e profunda, é como uma bússola silenciosa apontando para o verdadeiro norte da caridade em nossos tempos modernos. “Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão…” esses versos não são apenas súplicas; são instruções práticas para uma caridade viva, atuante, necessária mais do que nunca.

Nos dias de hoje, a caridade muitas vezes é confundida com gestos esporádicos e públicos, visíveis nas redes sociais e acompanhados de aplausos digitais. Mas a verdadeira caridade que São Francisco inspira é silenciosa, cotidiana, paciente. Assim como na oração se pede para ser "instrumento de paz", também hoje somos convidados a ser discretos pedreiros da bondade.

A oração fala de "semear amor, perdão, fé, esperança, luz e alegria". Essa semeadura é lenta, exige persistência e renúncia ao ego. No mundo atual, semear amor pode significar escutar sem julgar; semear fé pode ser manter a esperança diante do cansaço social; levar luz é ser presença serena em meio aos ruído no mundo profano.

Nesse cenário, a Maçonaria, fiel aos seus princípios de amor fraterno, beneficência e verdade, carrega uma responsabilidade ainda maior. Mais do que palavras, seus membros são chamados a praticar a caridade de maneira constante, discreta e genuína, como expressão de seus juramentos e valores.

A verdadeira caridade maçônica, como ensina a tradição, não busca reconhecimento, mas sim a transformação silenciosa da sociedade, estendendo a mão aos necessitados, promovendo a justiça e fortalecendo os laços humanos.

Por fim, a oração ensina que "é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado". Em tempos em que o imediatismo e a reciprocidade quase automática são esperados, ela nos lembra que o amor verdadeiro não contabiliza trocas, não exige aplausos. Assim também a Maçonaria deve seguir: praticando a caridade como um dever natural, um reflexo da luz interior que cada iniciado busca acender.

Assim, a Oração de São Francisco permanece atual como uma chama que atravessa os séculos, iluminando os caminhos da caridade silenciosa e transformadora, uma chama que a Maçonaria, com nobre responsabilidade, tem o dever de manter acesa nos corações e nas ações.

 

TFA

A Escada de Jacó

Símbolo de ascensão espiritual A Escada de Jacó é um dos símbolos mais enigmáticos e inspiradores das tradições bíblicas, teológicas e es...