quinta-feira, 17 de maio de 2012

ANIMAIS PRÉ-HISTÓRICOS DE ITAPIPOCA

O primeiro registro oficial sobre ocorrências de fósseis de megafauna na região da Serra de Uruburetama data de 1854 e foi feita pelo naturalista francês Louis Jacques Brunnet, que entre os anos de 1854 a 1859, excursionando pelo Nordeste, coletou amostras de fósseis de mamíferos na Localidade de Rapina, na então Comarca de São Francisco da Uruburetama (antigo nome do atual Município de Itapagé, cujo território já pertenceu à Itapipoca). Em 1862, um novo registro desse achado é feito pelo naturalista mineiro Guilherme Schüch de Capanema (1824–1908), durante os trabalhos da Comissão Científica de Exploração, que percorreu o Ceará em missão de estudos no período de 1859 a 1861, a serviço do Imperador D. Pedro II.
O ilustre professor, pesquisador e naturalista cearense Thomaz Pompeo de Souza Brasil (1818–1877), em seu livro Ensaio Estatístico da Província do Ceará (tomo 1), publicado em 1863, fez o seguinte relato sobre essa ocorrência (em grafia da época): “Em 1854, no logar Rapina, termo de Sancta Cruz, n’uma pequena lagoa formada por dous serrotes, que a cercam em posição tão elevada, onde só pode receber agua das encostas dos serrotes pelo inverno, inaccessivel ao gado, achou-se tambem uma grande ossada, cujos restos muitas pessoas tiraram 1
e por ordem do governo foram remettidos alguns para o museu. Um pedaço da canella tinha quatro palmos e meio de cumprido e duas de largura”. Este museu citado provavelmente era o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, porém não há registro atualmente desse material naquela instituição.
Já no Século XX, o Município de Itapipoca começa a ter atenção paleontológica a partir de 1952, por iniciativa do cidadão itapipoquense Prof. José Paurilo Barroso, que fez descobertas fossilíferas na Localidade de João Cativo. O Prof. Paurilo buscou ajuda de pesquisadores do Museu Nacional do Rio e Janeiro, que veio a atendê-lo prontamente em janeiro de 1961, com a vinda de uma expedição científica liderada pelo renomado paleontólogo brasileiro Carlos de Paula Couto (1910–1982). Naquele ano foram escavados cinco tanques, tendo sido resgatadas mais de 3.000 peças fossilizadas, que se encontram depositadas no Museu Nacional.
Os resultados preliminares dessa expedição foram registrados pelo Prof. Paula Couto em 1962, em relatório de atividades para o Museu Nacional, e posteriormente em 1980, em um artigo científico na Revista da Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro. Entre as espécies fósseis registradas em Itapipoca, uma se destacou por ser desconhecida. Tratava-se de uma nova espécie de preguiça terrícola pré-histórica, que levou o nome científico de Xenocnus cearensis e até hoje só foi encontrada na Região Nordeste.
Em agosto de 1983, uma nova descoberta de fósseis colocou Itapipoca nas manchetes dos jornais. Desta vez na localidade de Pedra d’Água, na porção Leste do município, durante os trabalhos de desentulhamento de um tanque natural para acumulação de água, pelo programa Bolsões da Seca, do Governo Federal. Esse achado foi vistoriado pelo geólogo Francisco de Castro Bonfim Júnior, do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), para onde o material foi recolhido. No ano seguinte o referido geólogo apresentou uma comunicação preliminar sobre esse achado no 33º Congresso Brasileiro de Geologia, que se realizou no Rio de Janeiro.
Em 1989 todo o material coletado pela expedição do Museu Nacional a João Cativo, em 1961, foi trabalhado mais detalhadamente em uma dissertação de mestrado da bióloga carioca Márcia Gomide da Silva Mello, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nesse trabalho foram descritas 563 peças esqueletais de mamíferos fósseis, revelando a presença de 16 tipos de animais diferentes na pré-história de Itapipoca.
No período de 1989 a 1995 foi executado um programa de exploração paleontológica denominado Projeto Mamíferos Fósseis do Ceará, sob a coordenação do Laboratório de Paleontologia, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2
parceria com o DNPM, que tinha como objetivo principal o mapeamento das ocorrências desses fósseis em todo o território cearense. Durante o projeto, na Região da Serra de Uruburetama foram feitas descobertas nas Localidades de Lagoa do Osso, no Município de Tururu, em 1993, e Jirau, em Itapipoca, em 1994. Os resultados desse projeto culminaram, em 1995, na monografia de graduação de Celso Lira Ximenes (autor deste texto), no Curso de Geologia da UFC, o qual participou ativamente do projeto durante sua existência, como bolsista de iniciação científica.
No período de 1996 a 1999, os fósseis de Itapipoca e Tururu foram trabalhados pelo agora geólogo Celso Lira Ximenes, durante um curso de pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com a co-participação do Laboratório de Paleontologia da UFC, durante um período de trabalho do citado profissional como professor substituto nessa universidade. Esse trabalho teve prosseguimento no período de 2000 a 2001 pelo referido profissional, agora como professor de Paleontologia da Faculdade de Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, CE.
Em Janeiro de 2001 ocorreu uma nova descoberta ocasional em Itapipoca, nas margens do Rio Cruxati, na Localidade de Macaco, amplamente divulgada pela imprensa escrita cearense. Essa ocorrência foi vistoriada pelo geólogo do DNPM José Artur Ferreira Gomes de Andrade, que recolheu o material, o qual está depositado na coleção científica do Centro de Pesquisas Paleontológicas da Chapada do Araripe (CPCA), no Município de Crato, CE.
Nesse mesmo ano teve início um programa de pesquisa paleontológica do geólogo Celso Lira Ximenes, nos Municípios de Itapipoca e Irauçuba, trabalhando em um projeto de Mestrado pela Universidade Federal do Ceará, durante o qual foram descobertas cinco novas ocorrências fossilíferas, sendo três em Itapipoca e duas em Irauçuba. Durante esse projeto, concluído e defendido em 2003, foram recolhidas centenas de peças fósseis, que ficou sob a guarda da Prefeitura de Itapipoca.
A partir de maio de 2005, a Prefeitura Municipal de Itapipoca, na gestão do Prefeito João Ribeiro Barroso, iniciou um amplo programa de valorização do patrimônio pré-histórico do município, com a contratação do Paleontólogo Celso Ximenes para coordenar as atividades; a criação do Departamento de Patrimônio Pré-histórico, vinculado à Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto, que tem à frente da pasta o Secretário Paulo Maciel Júnior; e a criação do Museu de Pré-história de Itapipoca – MUPHI (Lei municipal nº 52/2005, de 17.10.2005).
Atualmente, todas as atividades paleontológicas em Itapipoca são coordenadas pelo MUPHI, que já conta com um escritório, localizado na Sede da Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto; um laboratório de preparação de fósseis; uma reserva técnica, que guarda uma coleção
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científica com mais de 5.000 peças fósseis e uma equipe de três técnicos, já formados pelo museu, para dar apoio às pesquisas e ações de preservação do patrimônio.
Como principais realizações do MUPHI, estão o levantamento preliminar das ocorrências de sítios fossilíferos e arqueológicos de Itapipoca; a temporada 2005/2006 de escavações paleontológicas; a preparação, em laboratório, de todo material coletado nos trabalhos de campo; um amplo programa de divulgação científica na imprensa escrita e falada; a realização do Projeto Paleontologia na Escola e a montagem da exposição Fósseis de Itapipoca, à disposição da população e de todos que visitam o município.
Em 2006, o MUPHI passou a integrar a Rede Nacional de Paleontologia, sediada no Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, em Uberaba, MG, que coordena o intercâmbio das instituições paleontológicas brasileiras com o objetivo principal de troca de experiências e preservação do patrimônio paleontológico brasileiro. Para participar das atividades, recebeu equipamentos de informática e de vídeo-conferência.
De todas as realizações até o presente, a principal delas é, sem dúvida, a busca pela formação de continuadores desse projeto de valorização dessa riqueza científica e cultural, que irão herdar a missão de preservá-la para as futuras gerações. Dentre estes, se destaca Antônio Sílvio Teixeira dos Santos, universitário, cidadão itapipoquense, que tem se despontado como um novo guardião do patrimônio pré-histórico (e também histórico) de Itapipoca. Esperamos que outros se juntem nós.

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