terça-feira, 15 de setembro de 2015

ANALISANDO LETRA: QUE PAÍS É ESSE? (ABORTO ELÉTRICO / LEGIÃO URBANA)



Aborto Eletrico, precursor de todo o rock de Brasília, a primeira banda de Renato Russo. O Aborto Elétrico surgiu em 1978 com proposta e influência do punk rock inglês dos Sex Pistols, The Clah, The Damned e The Adicts, dentre outros. 

Legião Urbana
“Que país é este”, da banda Legião Urbana, composta por Renato Manfredini Júnior (Renato Russo). O "Russo" que adotou como sobrenome artístico foi a forma que Renato encontrou de homenagear Jean-Jacques Rousseau eBertrand Russel, personalidades que admirava.

A relação dessa canção com Brasília é bastante intensa, assim como acontece com a maioria das canções do terceiro disco da banda, “Que país é este 1978-1987”. Isso ocorre porque a maioria das faixas provém da época em que Renato morava e produzia em Brasília. Em algumas declarações, Renato Russo procurou deixar clara essa ligação: “[...] A música que está tocando nas rádios, que está em primeiro lugar, fala de Planaltina, Taguatinga, fala de tudo. 'Que país é este' tem o prisma de Brasília”

“Que país é este” foi composta em 1978, quando Renato Russo ainda pertencia à banda punkAborto Elétrico, em Brasília. Mesmo depois da dissolução da banda, essa canção continuou sendo apresentada por Renato Russo, desta vez nos shows da Legião Urbana(formada em 1983), em diversas cidades do país. É importante ressaltar que, além de ter feito muito sucesso nos shows mesmo antes de ser gravada em disco (o que só viria a acontecer em 1987), “Que país é este”foi uma das primeiras canções importantes (senão a primeira) da chamada “linha politizada” do rock brasileiro. Renato Russo - que tinha forte influência do Punk rock – afirmou que não pretendia gravá-la (o que acabou fazendo por causa da pressão da gravadora em lançar um disco a cada ano) porque tinha a esperança de que o Brasil melhorasse e que a canção se desatualizasse, perdendo sua razão de ser. Entretanto, ela nos soa mais atual do que nunca.



Que país é esse?


Analisando letra:
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Logo na primeira estrofe, temos uma afirmação problemática: “ninguém respeita a Constituição”, desde o mais pobre (nas favelas), até queles que deveriam dar o exemplo (no Senado), não há quem respeite, e onde não há respeito não há ordem, há bagunça, sujeira (Sujeira pra todo lado). Todos acreditam que o país pode melhorar, mas ninguém que fazer sua parte, é um esperando pelo outro e todos de braços cruzados. Na época em que a canção foi composta (1978) e também quando o disco foi lançado (1987), a constituição em vigor era a de 1967, aprovada durante o regime militar. Temos aqui uma colocação supostamente contraditória: a constituição, mesmo de natureza autoritária, é evocada como um documento a ser respeitado, mas que não se respeita. Nesse caso, constituição pode ter sentidos diversos, talvez, no caso da letra, se reduza aos aspectos positivos de um conjunto imaginário de direitos e deveres de todos que vivem em sociedade.

Que país é esse (3x)


No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz  
Neste trecho, temos a referência não apenas a diversas regiões violentas do Brasil, mas, sobretudo, a fatos históricos envolvendo repressão. Como exemplo, temos a referência à guerrilha do Araguaia, onde o regime militar, matou e deixou desaparecidas várias pessoas que protestavam contra o governo, e a Baixada Fluminense que até os dias de hoje apresenta elevados índices de violência, sobretudo em relação ao tráfico de drogas, que também está relacionado com a região do Amazonas. Esta última porém, é melhor trabalhada na canção “Conexão amazônica”, do mesmo disco. A ênfase vocal de Renato Russo no trecho “tudo em paz” constitui um deboche, que é ao mesmo tempo ironia e sarcasmo, pois nesse cenário de violência apresentado, como tudo poderia estar em paz?

Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Já a qui, o autor parece acreditar num possível descanso só após a morte, mas também, deixa claro que a mesma tem sido mecanismo dos poderosos para calar a muitos (sangue anda solto ), usando suas posições e influencias, alteram documentações, somem com provas e qualquer indicio que possam ligá-los ao sumiço de seus desafetos (Manchando os papéis, documentos fiéis ), é a tal queima de arquivo, que ainda nos dias de hoje ouvimos falar. E ainda nesse trecho ele nos deixa a ideia de que, aqueles que poderiam fazer alguma coisa, simplesmente ignoram, fazem vista grossa ( Ao descanso do patrão).

Que país é esse (4x)

Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios em um leilão.
Nesta terceira e última estrofe, encontramos uma visão sarcástica do presente e do futuro logo nos três primeiros versos, o autor quer deixar claro o quão longe o país estava de se tornar uma grande nação e nos outros três que seguem o autor faz uma referência metafórica ao nosso passado histórico (“quando vendermos todas as almas/ dos nossos índios num leilão”). Nesse jogo de palavras, temos a afirmação debochada e sarcástica de que o Brasil conseguirá enriquecer e chegar ao nível dos países do primeiro mundo quando comercializar o seu último (e ao mesmo tempo, primeiro) elemento puro da terra: os índios. Nesses versos, temos a idealização do elemento indígena, como símbolo da nossa cultura, crença ( de uma certa forma, no verso "Mas o Brasil vai ficar rico " e nos outros que seguem, o deboche virou profecia, e nos dias atuais a profecia esta se cumprindo. O Brasil esta enriquecendo, mas a troco da falência cultural e social do nosso país, pois estamos emburrecendo e agregando a cultura gringa a nossa em troca de favores e de um nome bem visto la foranunca estivemos tão americanizados como nos dias atuais).

FONTE:http://rebobinandomemoria.blogspot.com.br/2012/10/analisando-letra-que-pais-e-esse-aborto.html


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