quarta-feira, 21 de novembro de 2018

MAÇONARIA E FASCISMO


por Nelson Greco

CONTEXTO HISTÓRICO

Durante a primeira metade do Século XX a Europa passou por um momento de turbulência, com a Revolução Russa, a expansão do socialismo e a crise do capitalismo liberal, que tiveram como consequência a ascensão do nazifascismo, na Polônia, Itália, Portugal, Espanha.
A Maçonaria estava neste contexto muitas vezes envolvida em uma contradição, de um lado a oposição ao totalitarismo fascista, de outro o combate ao socialismo.

A MAÇONARIA E O FASCISMO NA ITÁLIA

“A natureza essencialmente nacionalista do fascismo não era compatível com o espírito universal da Maçonaria. Mussolini dirigiu a revolução fascista visando a construção de um “novo homem”, forte, viril e marcial, livre dos vícios do velho liberalismo cosmopolita, materialista, pacifista e humanitário.” MENEZES, 2014.

A Itália sempre teve forte ligação com a Igreja Católica, ela sempre foi uma grande proprietária de terras, governante de estados que compunham o país. Hoje unificada, foi no passado uma série de reinos e seu processo de nacionalização, foi liderado em diversos momentos por vários grupos e ideologias, a Igreja pleiteou a liderança do país, os maçons também tentaram pelo Reino das Duas Sicílias com os Carbonários. Esta disputa acirrou ainda mais a oposição entre Igreja Católica e Maçonaria.
A expansão do nazifascismo na Europa, também  alcançou o país, sobre o comando de um ex socialista, Benito Mussolini, inicialmente muitos maçons apoiaram a subida ao poder do Dulce, opondo-se ao comunismo, abriram mão dos ideais de liberdade da Revolução Francesa, para apoiar totalitarismo. Maçons participavam do alto escalão do partido fascista e Mussolini aceitava livremente o ingresso deles tanto no partido, como no movimento dos Camisas Negras, entretanto com a Marcha Sobre Roma ele teve que  escolher entre a maçonaria e a Igreja Católica.  Em 12 de Janeiro de 1925 o ministro da Justiça apresentou um projeto de lei, que aprovado estabeleceu o controle das sociedades secretas e tinha por objetivo a extinção da maçonaria na Itália.
A situação era complexa, quando Mussolini surgiu como líder socialista, sofria o combate da maçonaria. Quando o Dulce torna-se fascista haverá uma aproximação com alguns maçons, todavia ele teve que escolher entre maçonaria e Igreja Católica. O extremo  nacionalismo do movimento fascista será usado para opor-se à maçonaria acusada de aproximar-se de ideias identificados como francesas.
A antiga união entre maçonaria e fascismo esteve longe de ser unanime, os Carbonários foi uma organização revolucionária, patriótica, liberal e anticlerical, que atuou na Espanha, Portugal, França e Itália, tinham forte influência maçônica, eram divididos em mestres e aprendizes. Lideraram o movimento de unificação da Itália através do Reino das Duas Sicílias. A luta carbonária contra a Igreja e pela unificação foi tão forte que levou o papa Pio IX a editar 600 documentos contra a maçonaria. Os fascistas, usaram o elemento nacionalista para o expurgo da maçonaria do governo Italiano.
A ligação com os idéias da revolução francesa foram denunciados como antipatrióticos. Os maçons foram acusados de sabotadores  do Eixo (Roma-Berlim-Tókio) e favoráveis aos  aliados, Inglaterra e França.
Completando o caos que povoava a maçonaria na Itália os dois grupos maçônico principais que atuavam não bastando a perseguição do regime fascista ainda tiveram a “excelente” ideia de entrarem em disputa entre si facilitando ainda mais o trabalho de seus opositores, a contendo se deu entre A Grande Loja Simbólica e O Supremo Conselho do Rito Escoces

A MAÇONARIA E A DITADURA DE FRANCO

A Espanha foi um país que surgiu da luta de cristãos contra os mouros, islâmicos que ocupavam a Península Ibérica, este caráter de Guerra Santa estabelecido na Guerra da Reconquista, foi renovado durante o período da Reforma Protestante, portador de um catolicismo medieval, propulsora da Santa Inquisição, o catolicismo espanhol sempre teve um caráter absolutista, medieval e intolerante.
Os grupos católicos aliavam-se a elite agrária e ao absolutismo monárquico, se opunham aos ideais da Revolução Francesa, a educação laica, e à maçonaria, a experiência política da Espanha no século XX é marcado pela derrubada da monarquia e pela instituição de um regime republicano ligado a grupos anarquistas, aliás era comum a participação de anarquistas nas lojas maçônicas. Se na Itália o socialismo teve em comum com a Igreja Católica a oposição e o isolamento da maçonaria, na Espanha os grupos de oposição a monarquia, os socialistas e anarquistas se aproximaram ou se misturaram com a maçonaria contra a monarquia e o catolicismo.
Estabelecida a república espanhola, vários ideais como o liberalismo, o ensino laico e universal, a pluralidade política e religiosa, tiveram clara influência de maçons que participavam do governo e dos movimentos sociais.
No contexto do acirramento político da Europa e a ascensão de ditaduras, a Espanha sofreu um intensa e sangrenta guerra civil, onde católicos e fascistas com o apoio de Adolf Hitler e sobre a liderança do general Franco enfrentaram a república democrática e plural.
A guerra civil espanhola, serviu de laboratório para as armas nazistas, e ocorreu o intenso extermínio da população por exemplo na cidade de Guernica, fato imortalizado na obra de Pablo Picasso. Os maçons foram perseguidos e se na Itália o discurso de antipatização ficou por conta do nacionalismo na ditadura de Franco o estímulo ao ódio a maçonaria e seus membros se deu através de construção de uma imagem de união indissociável entre maçonaria e judeus, assim foi posta como um elemento da cultura semítica e que membros da maçonaria eram principalmente judeus.
Os maçons eram para o franquismo como os judeus para Hitler ou seja a escória que deveria ser estirpada para o bem da pátria. E o tratamento foi de pô-los em ilegalidade e de leva-los a campos de concentração. Também foi identificada como anticatolicismo .

A MAÇONARIA E O SALAZARISMO

Pós primeira Guerra Mundial Portugal passa por uma crise econômica, país essencialmente agrário, conservador e católico, a república se postou num viés liberal e anti clerical, o governo liberal de Carmona convocou como ministro da economia Antônio de Oliveira Salazar, que com o apoio da Igreja, invocando o nacionalismo estabelece uma ditadura aos moldes italianos. Esse governo ficou conhecido como Salazarismo.
Salazar, advindo de uma família tradicional de agricultores,  católico seminarista, não se torna padre, forma-se em Direito, alguns autores  indicam-lhe como iniciado à ordem maçônica. Defensor do catolicismo, do nacionalismo, opõem-se a República Liberal.    
As medidas econômicas de Salazar, combatem a crise econômica, com o apoio dos latifundiários e da Igreja e a perca de apoio das classes médias à república ele implanta uma ditadura marcada pelo conservadorismo, pelo anti industrialismo, o combate a comunismo, ao anarcosindicalismo, e a maçonaria.
Alguns autores afirmam que Salazar foi maçon, contudo quando chega ao poder  ele de forma sutil através de um projeto de lei do Deputado  José Cabral, estabelecia prisão e banimento a quem participasse de organizações secretas. Fernando Pessoa considerado o maior poeta daquele país sai em defesa da maçonaria, mesmo não sendo maçon, defendendo seus ideais e se opondo a lei que proibia as organizações secretas.
Se Salazar teve um passado de provável proximidade com a maçonaria, a instituição não se aproximou em sua extrema maioria do fascismo, sempre esteve majoritariamente na oposição.

“(…) Não sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. Não sou, porém, antimaçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma idéia absolutamente favorável da Ordem Maçônica. A estas duas circunstâncias, que em certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por virtude de certos estudos meus, cuja natureza confina com a parte oculta da Maçonaria – parte que nada tem de político ou social -, fui necessariamente levado a estudar também esse assunto – assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora (…)” (PESSOA, Passim).


MAÇONARIA E DITADURAS

Os ideais maçônicos, entre eles o de pluralidade político religiosa, tolerância, solidariedade, além disto, sua organização paraestatal, independente e secreta chocam-se com o estabelecimento de governos totalitários, tanto pelos princípios de controle total do estado da sociedade como pelos seus caráter exclusivista de não aceitação de discordância ou de qualquer pluralidade. A ação de homens maçons refletem as contradições da sociedade e na Europa se por um lado o liberalismo, a tolerância e o pluralismo afastava a maçonaria do totalitarismo, por outro sua oposição ao totalitarismo de alguns grupos socialistas ou mesmo a junção entre maçonaria e catolicismo os aproximou do totalitarismo.
Mais importante do que saber se a maçonaria apoiou ou se opôs ao fascismo é entender que seus ideais são incompatíveis com violência e totalitarismo.
Em um mundo pos bipolaridade e também pós socialismo real, e reconhecendo as manchas e contradições do passado, fica a necessidade não de condenação ou de absolvição mas de afirmação de alguns ideais maçônicos que o mundo tanto necessita até hoje, como democracia, tolerância, pluralidade, combate a violência e solidariedade.

BIBLIOGRAFIA







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