quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Negro Cosme, líder da Balaiada

Cosme Bento das Chagas (Sobral, entre 1800 e 1802 — Itapecuru-Mirimsetembro de 1842), também conhecido como Negro Cosme, foi um líder quilombola brasileiro.

Em 1830, já alforriado, foi preso em São Luís, no Maranhão, por ter assassinado Francisco Raimundo Ribeiro. Fugiu da prisão e, após um período em que pouco se sabe sobre sua vida, se torna líder de quilombos.

Em dezembro de 1838, o movimento conhecido como Balaiada eclodiu no Maranhão a partir da invasão da cadeia da Vila da Manga por Raimundo Gomes. Com a repressão efetuada por Luís Alves de Lima e Silva, a resistência só pôde ser mantida com o apoio militar de Cosme Bento e seus mais de três mil comandados à revolta.

Cosme adotou o título de "Dom Cosme Bento das Chagas, Tutor e Imperador da Liberdade Bem-Te-Vi" e fundou na fazenda Tocanguira, em Lagoa Amarela, o maior quilombo da história do Maranhão.

Após a rendição de Raimundo Gomes em 15 de janeiro de 1841, o movimento é considerado debelado, mas Cosme só é preso em Mearim, no dia 7 de fevereiro daquele ano. Condenado por sublevar escravos e por sua fuga da prisão é morto em setembro de 1842, enforcado em frente a Cadeia Pública de Itapecuru, hoje Casa da Cultura Professor João Silveira


Entenda o que foi a Balaiada

O início

Quando a Balaiada teve início, em dezembro de 1838, Cosme Bento ainda se encontrava detido em São Luís. Permaneceu na capital até outubro de 1839, quando consegue, novamente, fugir e participar dos levantes. Em novembro do mesmo ano, seu título de defensor da liberdade já era conhecido entre a população, tomando à frente de milhares de escravos às margens do Rio Itapecuru, reorganizando o quilombo em Lagoa Amarela, na fazenda Tocanguira.

Antes mesmo de integrar o movimento, Cosme já chamava sua luta de “Guerra da Lei da Liberdade Republicana”. Seu objetivo era criar uma outra visão de liberdade e igualdade entre os homens, buscando a insurreição contra a escravatura, em favor da liberdade. Para isso, fundou em seu quilombo uma hierarquia interna com a intenção de capacitar e alfabetizar a população subjugada, promovendo uma escola de primeiras letras. Uma vez que tal privilégio só era destinado e exclusivo aos filhos dos ricos proprietários das Províncias. Projeto que não pode ser confundido com o confronto geral dos chamados bem-­­te­-vis, que buscavam a retomada do poder no estado do Maranhão.


No que diz respeito à Balaiada, desde 1838, o conflito teve vários líderes, cada qual com grupos que variavam de tamanho, que ora se uniam para uma batalha de grandes proporções, ora se dispersavam. A estratégia de luta era exatamente criar um movimento fracionado, com levantes sucessivos e ininterruptos. Dentre os rebeldes haviam vaqueiros, ex-integrantes da polícia, escravos e lavradores. Entre os líderes que mais se destacaram está Raimundo Gomes (O Cara Preta), Manuel Francisco dos Anjos Ferreira (O Balaio) e Cosme Bento (Negro Cosme). Em seu auge, a manifestação se expandiu e, após o cerco e tomada da cidade de Caxias, foi em direção ao estado do Piauí.

Desenrolar e momentos finais


Passados dois anos desde o estouro da revolta, entre fevereiro e setembro de 1840, com seu poder e aparato militar, o coronel Luis Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, havia praticamente derrotado todos os rebeldes comandados por Raimundo Gomes. Este, então, vai se refugiar ao grupo de escravos fugidos liderados por Cosme Bento, que passou a ser o principal comandante do movimento. O “Tutor e Imperador da Liberdade” era quem mais assustava os fazendeiros locais, devido a seus piquetes avançados e fortes incentivos a insurreição nas propriedades da região.

A resistência só pôde ser mantida graças aos mais de três mil homens comandados por Cosme. Dentre as classes de pessoas que compunham este montante estão negros, escravos e pretos libertos, crioulos e africanos. Este último grupo ainda estava dividido entre angolanos, congos, cambindas, mandingas e nagôs. Durante seu controle sob a revolta, Cosme Bento apresentou grande visão política. Ele foi o primeiro líder a estabelecer uma aliança entre os rebeldes livres e escravos, assim como alcançar o apoio dos bem-te-vis, na tentativa de a Balaiada triunfar e, ainda, lograr a liberdade para o seu povo.


Porém, a força dos levantes diminuiu progressivamente, principalmente depois de agosto de 1840, quando Dom Pedro II subiu ao poder e decretou a anistia aos rebeldes. Não demorou para que um grande número de homens se rende à concessão. Os últimos a capitularem foram os negros. No grupo de Cosme Bento, restaram apenas 200 escravos, que permaneceram lutando contra às tropas do futuro Duque de Caxias.

A insurreição foi dada como terminada somente quando os legalistas capturaram Cosme. Sua prisão se deu após uma longa batalha sangrenta, realizada em Calabouço, no município de Mearim, em 7 de fevereiro de 1841. Não havia motivos para se entregar, mesmo com todos já lutando sem esperanças. Não queriam voltar a perder sua liberdade, tinham se tornado homens livres e corajosos. Por isso, muitos ainda batalharam até a morte ou serem aprisionados.


Cosme Bento foi mais do que um líder entre os balaios. Mesmo integrando e colaborando com a revolta em seu desenrolar, o ex-escravo pode ser considerado o chefe de uma Revolta Negra Maranhense, por preservar e lutar, acima de tudo, pela igualdade e direitos desta classe no Maranhão.

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