quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ensino de História e a Transversalidade

A principal proposta da transversalidade no ensino de História, e na educação em geral, é aproximar a escola do mundo dos estudantes.

A proposta de um ensino baseada na transversalidade está presente nos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), a partir de cinco temas transversais para a educação nacional, são eles: ética, pluralidade cultural, saúde, orientação sexual e meio ambiente. O principal objetivo dos temas transversais instituídos pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) foi aproximar a escola da realidade vivida pelos alunos, ou seja, trazer as disciplinas, os professores, os conteúdos escolares e aproximá-los do mundo do estudante. Dessa maneira, os alunos teriam uma aprendizagem significativa e seriam vistos com sujeitos históricos.
Geralmente os temas transversais são abordados recorrentemente na escola a partir da proposta do trabalho interdisciplinar. Essa abordagem não deixa de ser salutar, mas existem algumas questões a serem observadas. Quase sempre a abordagem interdisciplinar é realizada por meio de uma proposta temática comum e aplicada por professores de duas ou mais disciplinas afins. O fato recorrente nessas abordagens interdisciplinares é que cada disciplina se preocupa com seu recorte específico sobre o tema, o que acaba fragmentando-o ainda mais. Há também o perigo de repetição constante da temática (como, por exemplo, a abordagem sobre ética em três disciplinas diferentes durante um mês). Isso para os alunos e também para os professores se tornaria uma abordagem desgastante e exaustiva.
Uma proposta interessante e salutar para trabalhar com a transversalidade na escola seria uma mudança na abordagem das disciplinas, ou seja, cada disciplina deixaria de buscar objetivos em si mesma, para se tornar um meio necessário para a realização dos objetivos presentes nos temas transversais e nos PCN’s. Essa abordagem teria a seguinte ênfase: as disciplinas como meios e a transversalidade como fim.  
Para desenvolver a transversalidade no ensino de História, a didática, a metodologia e os pressupostos teóricos teriam que passar por uma reformulação. Segundo Neto (2004:65), “por isso, podemos afirmar que a implantação dos temas transversais não se refere apenas a mudanças didático-pedagógicas, mas também conceituais sobre o ato de educar e a própria História”.
O ensino de História tradicional, baseado em grandes acontecimentos, apresenta uma linearidade temporal em que os fatos sempre são concebidos com um início, meio e fim, ou seja, a história e o tempo histórico sempre foram tratados teleologicamente e escatologicamente, com um fim certo e preciso.
A aplicação dos temas transversais no ensino de História deve acontecer a partir da renovação nos métodos, conceitos e didáticas no ensino de História. Segundo Neto (2004: 66), “deve-se abandonar a visão do conhecimento específico da disciplina, sem abrir mão dos repertórios e recursos de cada área de conhecimento, e, ao mesmo tempo, incorporar o papel de formação exercido pelo educador, tratando de temas e questões que ultrapassam o conteúdo programático, por meio dos temas transversais. A busca da compreensão da realidade e a afetiva participação do indivíduo a partir de dados e noções relativos ao seu cotidiano, ao seu universo, fazem com que a escola passe a ser considerada como um espaço de conhecimento e reconhecimento, onde por intermédio das diversas disciplinas e de sua nova abordagem o aluno seja capaz de ver e vislumbrar-se como construtor de sua própria história”.
Os professores de História estão atrelados a dois procedimentos mais usuais na prática escolar para trabalhar com os temas transversais. O primeiro seria dividido por temas ou períodos históricos: História Geral, História do Brasil e História da América. E o segundo por eixos temáticos: escravidão antiga, moderna e contemporânea; a propriedade da terra, o mundo do trabalho, a industrialização, entre outros. O segundo procedimento, do ensino de História dividido por eixos temáticos, seria o mais aconselhável, pois romperia com o ensino de História pautado na divisão cronológica tradicional.
Para uma proposta de se trabalhar com os temas transversais no ensino de História baseada em eixos temáticos, os professores devem definir os conteúdos abordados no seu plano de curso e devem ter amplo conhecimento dos objetivos e da problemática abordada.
Abaixo seguem algumas das principais orientações sugeridas por Neto (2004: 72-73), para os professores que se dispõem a realizar uma abordagem transversal salutar no ensino de História:
“- valorização do aluno e de seu universo;
- estimular a oralidade e, com base nela, a produção textual e a análise de documentos (textos, vídeos, mapas, acervos...);
(...)
- dar a dimensão que o conhecimento histórico é um meio para compreender o mundo, as questões da atualidade, suas origens, as diversas respostas e explicações para um determinado fato, levando o aluno a ver que há diversas explicações para uma mesma realidade, devendo abrir-se para ouvi-las e questioná-las, numa prática que permitirá maior lucidez e discernimento diante da sociedade e da própria vida” (NETO: 2004, p. 72-73).

Leandro Carvalho
Mestre em História

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